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Casa de Criadores começa com estudantes, moda para vender e arroubos conceituais

CAROLINA VASONE

Editora de UOL Estilo

09/06/2011 11h21

O evento de moda mais alternativo entre os principais do calendário nacional mudou de endereço. Mais intimista, com menos cara de feira de moda e mais de semana de promissores estilistas, a Casa de Criadores abriu, nesta última terça (8), sua temporada para o próximo verão no Museu Afro-Brasileiro, que fica dentro do parque do Ibirapuera (onde também acontece o São Paulo Fashion Week, só que no prédio da Bienal, e daqui a uma semana).

Na primeira noitada de grifes de moda que não se encontra nos shoppings ou na Oscar Freire, pelo menos uma das quatro marcas participantes mostrou que tem, sim, interesse de vender para um público maior (ou seja, a maioria de nós, que vai a lojas e que acha interessante mais ainda arriscado comprar sem provar pela internet). Karin Feller, a mocinha formada na Santa Marcelina (a faculdade onde se formou Herchcovitch), que ganhou o concurso de novos designers promovido pelo evento em 2008 com uma coleção superconceitual, parece ter transferido toda aquele reflexão mais sofisticada das roupas conceituais e não usáveis para pequenos detalhes num verão destes que saem do corpo da modelo direto para o de uma convidada (bem magrinha, para o modelito caber) sentada na primeira fila do desfile. A inspiração vem do mar, com estampas de âncora, tons de azul e listras, coordenados em modelos leves em seda com bonita estampa tie-dye, babados em mangas executados de maneira charmosa, vestidos franzidos na cintura, camisa xadrez com shorts, macaquinho, macacão de calça curta em seda. Com exceção de uma experimentação de camadas de bandeirinhas de tecido com acabamento pontudo triangular, um pouco deslocado e não bem-sucedido em termos de uma mensagem mais complexa de moda, Karin Feller poderia sair do backstage dos Criadores diretamente para a equipe da Maria Bonita Extra, e daria uma boa contribuição por lá.

  • Alexandre Schneider/UOL

    Looks de Karin Feller, Jadson Raniere e R. Rosner para o Verão 2012 (08/06/2011)

Se Karin chamou a atenção por mostrar uma proposta bem comercial e ao mesmo tempo com qualidade de moda (dentro deste contexto de moda jovem: não dá para comparar a estrutura de uma grife iniciante com à da própria Maria Bonita Extra), o principal destaque da noite e um dos grandes nomes da Casa de Criadores é o estilista Mario Francisco, da marca de moda masculina Der Metropol. Algumas propostas são, de fato, um pouco ousadas demais para os homens que compram em lojas como Ellus, Richards ou até na Doc Dog. E de fato algumas modelagens bem quadradas como o paletó em linho cru com recorte em cinza e o colete na mesma linha, podem parecer um pouco demais para os conservadores, assim como o look total em linho azul com bordado de flores de cerejeira de bermuda e moletom sem manga com capuz. Separadas, porém, estas peças dão um toque ao mesmo tempo viril e inteligente, com várias referências, a itens mais básicos do guarda-roupa, como os bons jeans e camiseta branca. Com mistura de alfaiataria, "streetwear" e "sportswear", muitas das roupas da Der Metropol ganham este charme de "roupa esperta", como a calça em linho cru, folgadona, com detalhes de friso preto e elástico franzido esportivo na barra. Coloque um tênis preto de cano alto (ou baixo) mais bacana, uma camiseta branca, e pronto: vai ter um look diferente sem ser diferente demais. Em outros momentos, a camisa de linho ganha bordados estilizados de personagens do filme "As Sete Faces do Dr. Lao", clássico da "sessão da tarde" dos anos 1990 e inspiração da coleção. Neste caso, só para os mais alternativos, com apreço por roupas nesta linha divertida. Para quem se interessar em dar um toque mais autoral nos looks sem exagerar (a Der Metropol é vendida via Facebook), aposte nas peças mais amplas e misture com os clássicos já citados que você tem (camiseta lisa, bermuda idem, jaqueta ou calça jeans, jaqueta preta, camisa branca, etc) e evite as peças de modelagem mais justa que acabam fazendo com que o conceito da roupa brigue com as formas do corpo, com um resultado às vezes duvidoso.

R. Roosner e Jadson Ranieri completaram o time do primeiro dia do evento. Rodrigo Roosner (da R.Roosner) é conhecido entre o público especializado por criar vestidos de noiva. Com boa técnica e modelagem, além de um trabalho muito bem feito nas calças todas bordadas de miçanga, o designer acaba por não equilibrar bem o desejo de imprimir muito conceito numa roupa de festa. O vestido prata de miçangas, tubo, com barra de babados é um bonito exemplo. Na maior parte das vezes, no entanto, há babados em excesso, propostas muito fortes também em demasia, que acabam entrando em conflito quando reunidas e resultando numa imagem não muito elegante.

No caso de Jadson Ranieri, a roupa é conceitual na sua proposta mais estrita. A coleção tem looks andróginos, que servem para homens e mulheres, acabamento propositalmente desgastado, ombros deslocados para cima.