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Vontade de se sentir único na vida do outro é comum, mas prejudica o relacionamento

Maria Laura Nogueira, Martha Mellinger e Melissa Vettore (da esq. para a dir.) em cena da peça "Segredo Entre Mulheres", de Flávio Faustinoni: as três sentem-se únicas, mas descobrem que não há exclusividade - Divulgação
Maria Laura Nogueira, Martha Mellinger e Melissa Vettore (da esq. para a dir.) em cena da peça "Segredo Entre Mulheres", de Flávio Faustinoni: as três sentem-se únicas, mas descobrem que não há exclusividade Imagem: Divulgação

BÁRBARA STEFANELLI

Da Redação

04/10/2011 07h00

Pessoas inseguras e carentes, em geral, possuem a desgastante tendência de lutar para se sentirem especiais. Essa é uma das características do popularmente cunhado “complexo de Sol” – quando o indivíduo acredita que todos devem girar ao seu redor, assim como os planetas circulam o grande astro. Fora da astronomia, este hábito pode destruir a vida do dito “Sol” e também de quem está ao seu lado.

Este assunto é o tema da peça “Segredo Entre Mulheres”, que fica em cartaz até o dia 30 de outubro no Teatro Jaraguá, no centro da capital paulista. O diretor Flávio Faustinoni aborda a questão ao narrar a vida de três mulheres que, em diferentes épocas, dividiram o mesmo homem. As personagens se conhecem no dia do enterro do “pegador” e “passam a questionar sobre a quem realmente pertenceu o seu amor”, como explica Flávio.

“A peça aborda três gerações diferentes. Tem uma mulher de 60 anos, que já viveu bastante, passou 20 anos com aquele homem e tem fichas que as outras não têm. Tem a de 40, bem sucedida e independente, que foi amante do personagem. E ainda existe a jovem de 20, que está grávida e planejava uma vida toda com ele”, conta o diretor.

Para o responsável pela peça, é “impossível” saber de qual delas o homem gostou mais. “Eu acredito que ele amou igualmente as três personagens. Temos esse conceito de monogamia que é cristão e algo ainda mais crítico para nós, que somos latinos, passionais e dramáticos por essência”, conclui.

Você não é a única

Segundo o psicólogo Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Relacionamento Amoroso” (Publifolha), “todo mundo quer se sentir único”. “É horrível quando a pessoa não se sente especial. Qualquer ser humano, tanto homem quanto mulher, gosta de sentir que não é um anônimo, que não vem depois do cachorro, do trabalho e dos amigos. São essas as reclamações que mais ouço no meu consultório. Todo mundo quer ser o primeiro para o outro”, explica o psicólogo.

Serviço "Segredo Entre Mulheres"

Onde: Teatro Jaraguá (R. Martins Fontes, 71 - Bela Vista, São Paulo)
Quando: Sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 19h, até 30 de outubro
Quanto: R$ 40,00 (sextas e domingos) e R$ 50,00 (sábados)
Lotação: 271 lugares
Classificação: 14 anos
Informações: (11) 3255-4380 ou (11) 2802-7075

Para Alfredo Simonetti, psiquiatra e autor do livro “O Nó e o Laço” (R$ 27,90, Integrare), “a vontade de ser especial é normal e todo mundo tem um pouco. O que é problemático é a maneira como cada um lida com esse sentimento”.

Apesar de os homens também compartilharem deste sentimento, são as mulheres que ficam com a fama de serem as possessivas e carentes na relação. “Os homens buscam essa sensação por meio das suas realizações, das suas obras. Já as mulheres querem isso mais pelas relações amorosas. A mulher, geralmente, é mais envolvida com relacionamentos, enquanto os homens com realizações”, diz o psiquiatra.

Alfredo aponta que a melhor maneira de abandonar esse hábito é “descobrindo que é possível sobreviver sem o outro”.  “Quando a pessoa percebe isso, continua precisando e querendo o amor do outro, porém de uma forma mais calma. É preciso se dar conta de que o outro não está no mundo para satisfazer as nossas vontades. O outro não é a nossa salvação, ele é apenas um bom companheiro de viagem”, completa.