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Tomando celebridades como exemplo, grávidas se descuidam por obsessão pela magreza

Grávidas que querem manter a magreza iniciam uma tendência, que tem sido chamada de "mommyrexia" - Arte/UOL
Grávidas que querem manter a magreza iniciam uma tendência, que tem sido chamada de "mommyrexia" Imagem: Arte/UOL

ALESSANDRA MOURA

Colaboração para o UOL

10/11/2011 07h00

Você já viu fotos da sua mãe quando ela estava grávida? Se você nasceu antes da década de 1990, ela, provavelmente, ganhou entre 20 e 30 quilos. Tal aumento, há alguns anos, era natural. Mas, atualmente, já se sabe que para oferecer todos os nutrientes necessários ao bebê não é preciso engordar tanto –e nem é saudável. Porém, exagerar nos esforços para não ganhar peso pode ser tão perigoso quanto engordar demais.

"A maioria das mulheres começa a gestação bem preocupada com o peso e pedindo para ganhar o mínimo possível", diz Marle Alvarenga, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. Para o psicólogo Alberto Olavo Advincula Reis, a maternidade não ocupa mais um lugar tão importante na sociedade. "Hoje, a gravidez aparece como algo que não deve atrapalhar a vida profissional e pessoal ou o físico da mulher. Ela olha para si, e não só para o bebê", explica ele, que é coordenador do Laboratório de Saúde Mental Coletiva do Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública da USP.

As mulheres famosas mostram bem essa realidade. Presenças constantes (e magras) na televisão, no cinema e em revistas, elas são alvos de paparazzi –que não perdoam as gordurinhas, nem logo após a gravidez. Para não perderem a boa forma, muitas celebridades apostam em ganhar pouquíssimo peso durante a gestação. E, se os quilos foram inevitáveis, somem por algumas semanas e ressurgem surpreendentemente magras, desafiando as mulheres a conseguir o mesmo feito.

Mommyrexia
Gestantes extremamente preocupadas com a magreza iniciam uma tendência, chamada na mídia internacional de "mommyrexia", ou uma espécie de "anorexia da mamãe" (mas que não se refere só a mulheres com um transtorno alimentar). O termo popular é o que já foi estudado antes na área científica com a alcunha de "pregorexia". "Chamar a mulher de ‘mamoréxica’ carrega uma visão conservadora diante das mudanças sociais, de quem aceita pouco a autonomia feminina. No nosso inconsciente, há um conflito entre o maternal e o sensual. Quando ela se preocupa com a sensualidade nessa fase, passa a ser taxada de maneira patológica", diz Alberto.

Com preconceito ou não, a "mommyrexia" revela uma preocupação que está cada vez mais presente entre as gestantes –especialmente as de classes mais abastadas, acredita Julio Bernardi, obstetra e ginecologista da Maternidade Pro Matre, do Grupo Santa Joana. Mas esse comportamento não se limita às classes A e B. "Já observamos na rede pública de saúde essa preocupação excessiva com o ganho de peso. Muitas mulheres, ao final da gestação, restringem muito o seu consumo alimentar, para não ganhar mais quilos. E é justamente no último trimestre da gestação que ocorre o maior ganho de peso do bebê", diz Macarena Urrestarazu Devincenzi, doutora em nutrição e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

E é nesse ponto que a influência das famosas pode se tornar nociva. "A exigência de magreza e as alterações da gestação facilitam o aparecimento de preocupações obsessivas e desmedidas. Mesmo que algumas mulheres tenham maior predisposição a apresentar transtornos alimentares, os exemplos dessas personalidades só trazem efeitos negativos. As mulheres comuns, com ganho de peso normal e que não perdem tudo em uma semana, sentem-se inferiores, se comparadas às celebridades, que aparecem de biquíni um mês depois, com a barriga chapada”, explica Marle.

Peso ideal
Para conseguir uma dieta saudável, a grávida não deve ficar tão atenta às calorias, mas, sim, aos nutrientes, cuja necessidade é maior durante a gestação. Segundo Macarena Devincenzi, o aumento de peso depende da condição inicial da gestante. "Uma mulher que começa a gestação com estado nutricional adequado (IMC entre 18,5 e 25) deve ganhar entre 11 e 16 kg, no total. Para mulheres obesas, o ganho total é de 7 kg; para as com baixo peso pré-gestacional, de 12 a 18 kg”, explica a doutora em nutrição. Para manter a saúde de mãe e filho na linha, a grávida deve fazer o pré-natal. O ideal é que o acompanhamento interdisciplinar (com obstetras, ginecologistas, nutricionistas e psicólogos) consiga identificar e aconselhar as mães que estejam preocupadas demais com os quilinhos extras.


É normal ganhar peso
Para não cair na obsessão pela magreza, a mulher precisa ter consciência do inevitável: "A gestação é um período em que, necessariamente, há ganho de peso, relacionado aos ajustes que ocorrem em seu organismo”, esclarece Macarena. Sem contar os quilos do bebê, que aumentam ainda mais o susto na balança.

A mãe precisa ter em mente que sua saúde e a de seu filho devem ser preservadas. Com uma dieta de poucas calorias, o bebê pode não ter o desenvolvimento adequado e há mais risco de mortalidade ao nascer. Em caso de desnutrição extrema, pode haver morte uterina, aborto e má formação fetal. Já a mãe pode facilmente ficar anêmica e ter outras deficiências nutricionais, pois o bebê absorve toda a energia possível dela. Isso pode levar a complicações no parto.

Os danos da baixa nutrição ainda parecem difíceis de mensurar? "A obsessão pela magreza durante a gravidez deixa a mulher como nos casos de quem não tem acesso à comida. Essa realidade está quase no mesmo extremo de quem abusa de álcool ou drogas", diz Julio.