Inspiradas por best-seller francês, paulistanas criam "guia de estilo coletivo"
Definir o estilo de se vestir da paulistana é tarefa tão difícil quanto enfrentar o trânsito de São Paulo em horário de pico. Não há garantia de que o motorista vai chegar aonde quer tão facilmente. O aniversário de 458 anos da capital paulista nesta quarta-feira (25), no entanto, encheu de coragem cinco paulistanas -- de nascimento ou de coração -- que aceitaram o desafio de tentar definir que estilo é esse e indicarem seus endereços preferidos de moda, beleza e decoração na cidade. A inspiração para tudo isso vem do livro “A Parisiense” (Ed. Intríseca), um guia de estilo escrito pela modelo francesa Ines de la Fressange que se tornou best-seller mundial. São Paulo não é Paris, mas em comum essas duas cidades compartilham o que há de mais interessante na moda: o melhor dela está nas ruas.
“A paulistana tem muito acesso à moda e, no geral, sabe adequar o que está em alta à sua personalidade”, observa a maquiadora Thelma Marques, de 35 anos, nascida na capital paulista. Se levarmos em consideração o que diz a autora de “A Parisiense”, este é um ponto em comum entre a habitante de São Paulo e a habitante de Paris. “O negócio é não entrar nas ondas [tendências] de cabeça”, sugere Ines de la Fressange no livro.
A paulistana tem muito acesso à moda e, no geral, sabe adequar o que está em alta à sua personalidade
Para Thelma, que também é advogada, mas trocou o direito tributário pelas sombras e batons, a paulistana poderia ousar mais na hora de escolher seu look. “Elas são mais discretas e não ousam tanto nas cores quanto poderiam. Acho até que a paulistana tem um jeito conservador para se vestir”, diz a maquiadora.
Esse conservadorismo é consequência da arquitetura e da dinâmica da cidade, acredita a personal stylist capixaba Fernanda Resende, que mora há 11 anos em São Paulo. “O nosso entorno é muito cinza: o céu, as ruas, os prédios. E a gente é produto do meio em que vive. No Rio, por exemplo, a luz do sol é diferente, a moda é mais estampada. Aqui em São Paulo, usar muita cor pode dar uma sensação de que a pessoa está se destacando demais”, compara.
Segundo Fernanda, uma das responsáveis pela empresa de consultoria de imagem Oficina de Estilo, o fato de a cidade ser um grande centro de negócios também influencia na forma como algumas paulistanas se vestem. “A aparência é algo muito relacionado a ser bem-sucedido e, em São Paulo, isso é mais evidente. A vestimenta da cidade é mais pudica, com menos pele à mostra, mas mais sensual no caimento das roupas.”
Endossa é uma loja colaborativa que fica na rua Augusta e foi incluída no guia de estilo graças à variedade de itens e de designers
A blogueira Fernanda Pineda, nascida há 23 anos em São Paulo, acha que a paulistana que vemos pelas ruas da capital não tem um estilo definido. “Apesar de termos inúmeras opções de lojas, caras e baratas, a paulistana ainda não entendeu que se vestir bem não significa se fantasiar com as ultimas tendências da vitrine, mas sim cultivar um estilo próprio”, afirma a responsável pelo blog "Fake-doll".
Mesmo assim, Fernanda acredita que as moradoras de São Paulo se vestem de forma diferente das outras cidades do país. “Somos mais urbanas e 'workaholics', então o conforto é fundamental para pessoas que trabalham demais. É diferente do Rio, por exemplo, onde as mulheres estão acostumadas a mostrarem as pernas o ano todo, por causa do clima, da praia, etc. Em São Paulo, não é raro ver as garotas esperando o fim de semana para ousar mais, usar um vestido mais soltinho”, diz a jovem, fazendo a inevitável comparação entre o concreto de São Paulo e o mar do Rio.
A MC DeDeus, por outro lado, acredita que São Paulo exige mesmo é jogo de cintura das suas moradoras. “A mulher paulistana é muito preocupada com o visual, mas a dinâmica da cidade, às vezes, não permite que você esteja totalmente arrumada. Passamos tanto tempo dentro do transporte público que precisamos usar a criatividade para aproveitar esse tempo e, quem sabe, ter mais tempo de sono”, avalia a MC de 26 anos, que é formada em comércio exterior e dispensa o carro para circular por São Paulo.
“O que eu vejo bastante, e tenho eu mesma como exemplo, é que nós usamos o tempo no transporte para nos arrumar. Vejo mulheres de tênis, mas carregando uma sacolinha com o sapato de salto, e outras até mesmo fazendo a maquiagem nos ônibus, metrô e trem”, observa DeDeus.
Guarda-roupa básico
A paulistana, estilosa ou não, aprende algumas coisas ao longo da sua vivência na cidade. Uma delas diz respeito a estar preparada para as quatro estações do ano no mesmo dia. Se amanhece fazendo aquele sol, nada impede que um temporal escureça a cidade mais cedo. Por outro lado, o frio das primeiras horas da manhã pode dar lugar a uma tarde ensolarada e bastante calorenta.
Por isso, a personal stylist Fernanda Resende afirma que São Paulo é a cidade da terceira peça, aquela que a gente completa o visual, usa para aquecer e pode tirá-la à medida que a temperatura sobe.
“E quase sempre tem que levar guarda-chuva”, diz a maquiadora Thelma Marques. “Um lenço pode fazer toda diferença na hora de uma chuvinha fina. Você pode cobrir a cabeça com ele e não estragar o penteado. Sapatilhas e sapatos modelo oxford são ótimos aliados, pois também não encharcam no caso de muita água”, lista Thelma.
Independente de que linha de estilo ela siga, a camisa branca é encontrada no armário de toda paulistana
Camila Cilento, administradora de empresasPara a paulistana Camila Cilento, de 27 anos, de todas as peças que a paulistana tem no guarda-roupa, a mais importante delas é a camisa branca. “Independente de que linha de estilo ela siga, a camisa branca é encontrada no armário de toda paulistana. Sempre ouço falar que o jeans é uma peça extremamente democrática, mas, na minha opinião, para a paulistana, a camisa branca ganha essa competição pois vai da cama para o trabalho, para a noite, sobrevive na praia e no campo e, de lambuja, ainda habita o nosso final de semana. Ou seja, é apropriada para todos esses desafios”, afirma Camila, que mostra seu estilo bem paulistano no blog "I Am Leaving Today".
Entre esses desafios, lista Camila, está o de transformar o “look” de dia em “look da noite. Esse processo de transformação não é apenas na roupa, mas na maquiagem também. “Nós estamos acostumadas a ser diversas mulheres em um só dia, mas, quando largamos o batente, renascemos das cinzas para curtir a noite. E tanto a nossa forma de nos vestir como a nossa forma de nos maquiar acabam sendo influenciadas por isso. Saímos com uma maquiagem leve para enfrentar um dia inteiro no escritório, mas basta um bom lápis e um batom vermelho para esquecer o escritório e aproveitar a noite”, descreve a paulistana.
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