Conheça os jovens talentos do design de joias e acessórios do Brasil
O setor de joias e acessórios vai bem. Ano passado, o LVMH, maior grupo de marcas de luxo do mundo, realizou o mais valioso negócio de seus últimos dez anos ao comprar a Bulgari e dobrar sua carteira de produtos neste ramo.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos detectou aumento de mais de 30% nos negócios de 2011 com relação ao ano anterior. Este panorama se traduz em muito trabalho e relevância internacional para a nova geração de designers.
Jovens profissionais destacados contaram ao UOL suas trajetórias e que visões têm deste negócio.
Fernando Jorge
Materiais que utiliza: ouro, diamante, água-marinh |
Fernando Jorge, paulista, 32 anos, foi selecionado em janeiro para integrar a primeira mostra de joias da London Fashion Week, a realizar-se a partir de 17 de fevereiro. Sua carreira é prestigiada desde que se formou pela Saint Martins em 2010, quando a coleção que produziu como conclusão da pós-graduação em design de joias foi selecionada para reportagem da revista "Wallpaper". Depois, foi escolhido por jornalistas importantes da Inglaterra para integrar o time das cinco promessas internacionas na joalheria.
“Minha intenção é arejar a joalheria tradicional, de metais e pedras preciosas”, resume. Sobre a mudança para Londres, explica: “Há mais consistência nas faculdades de lá, que formam autoridades no assunto. No Brasil, cursei design de produtos, muito dirigido para móveis e embalagens.” Ainda na faculdade, o designer passou a trabalhar na indústria joalheira e aprendeu a profissao de maneira prática.
Ramo fechado no Brasil
A observação sobre o ensino é a mesma de Léo Kim, 30 anos, empresário paulista, da Aria Joalheiros. À parte de gerenciar o negócio de sua família, ele colaborou com peças para a Feira São Paulo Design, ocorrida na Oca em junho de 2011, e está prestes a lançar uma coleção autoral. “Não há um 'supercurso'. O designer brasileiro faz os desenhos, mas é preciso formação sobre lapidações, tipos de acabamento.” Para Léo, o ramo das joias sofisticadas sofre com o comportamento fechado dos empresários.
Léo Kim
Materiais que utiliza: rubis, esmeraldas, safiras, turmalinas |
“Mais que na Europa, aqui o negócio é muito familiar e há muito medo de espionagem, a questão da segurança”, opina. Ele próprio, da segunda geração de uma família joalheira coreana, começou a se interessar pelo assunto aos 15 anos, quando estudou gemologia com Rui Ribeiro Franco, catedrático da área, falecido em 2008.
“Sempre me fascinou o mercado de varejo, seja de moda ou joias. Meu projeto de conclusão na faculdade era um hotel design, econômico, no Bom Retiro”, referindo-se ao bairro tradicional de São Paulo conhecido pelo varejo e atacado de roupas.
Para ambos, os negócios caminham bem. Fernando Jorge vem ao Brasil produzir suas joias três vezes ao ano e as revende em lojas prestigiadas na Inglaterra e até no Líbano. Em março, participará de uma feira em Paris, durante a semana de moda. Já Léo, cujas peças em parceria com Rodrigo Almeida foram fotografadas pela revista italiana de design "Interni", fez um remanejamento em seu negócio, diminuindo a cadeia de lojas de cinco para duas, mas sem perda de faturamento.
Exposição fashion
Raphael Falci
Materiais que prefere: ouro em banhos de ródio negro e pedras como ônix, madrepérola e turquesa |
No campo de acessórios a preços mais acessíveis, Raphael Falci e Diego Cattani encontram sintonia com suas clientes.
“Minha marca vende em mais de quarenta pontos espalhados pelo país, com planos de crescimento, além de exportarmos para Itália, Londres e Estados Unidos”, conta Raphael, carioca, 36 anos. A grife que leva seu nome vem aparecendo em sites de moda brasileiros, ora fotografada com Gisele Bundchen e Costanza Pascolato, ora sendo elogiada pela capacidade de incorporar tendências internacionais. Interessado desde pequeno na estética art déco, quando viajava procurava visitar antiquários e exposições de joias antigas, Falci ressalta que essa estética é sua "inspiração em quase todas as coleções”.
O designer de anéis para dois dedos (estilo soco inglês) e colares com pingentes de caveiras sente falta é de mão-de-obra especializada. “Assim como tudo no Brasil, acho que é um mercado que vem emergindo, inclusive em direção ao exterior.”
Sobretaxa absurda
Diego Cattani, sergipano, 29 anos, também é ligado ao mundo da moda. Estudou na Santa Marcelina, onde se especializou na área de acessórios. Para criar peças de desfiles como casquetes e colares, inspira-se bastante nas artes. Ligia Clark, Amilcar de Castro, Geraldo de Barros e o neoconcretismo são algumas de suas fontes de referência. “Alguns lojistas sobretaxam as peças de forma absurda, dificultando muito as vendas. Eu vivo do que exporto. Ainda pelo fato de faltar um olhar mais afiado para o design mais diferente. No fim das contas, o produto importado mais consumido aqui, é o mesmo produto sendo vendido na [rua] 25 de Março e na Daslu", acredita.
Diego Cattani
Materiais que prefere: corais, espelho, concha, penas, pérolas, plástico e cristais swarovski |
Segundo ele, o produto diferente, para 'cair no gosto', primeiro aparece na Europa, depois começa a ser usado nos EUA. "Aí as paulistas vão para Nova York e então, dois anos depois, vira moda no Brasil", provoca.
A marca de Cattani, chamada Dieego, já desfilou nas passarelas da Cori, Têca e Juliana Jabour. Essa relação fashion põe os designers em contato com a grande mídia e ajuda a tornar os seus trabalhos conhecidos.
“Como vitrine, no entanto, Londres expõe para uma audiência internacional”, diz Fernando Jorge. “Para lá vão compradores da Ásia e do mercado europeu, onde quero que minha marca esteja. Mas é claro que também quero minha marca acontecendo no Brasil”, afirma.
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