O prazo de validade do seu produto de beleza venceu? Veja o que fazer
Talvez você já tenha se deparado com o problema: de repente, percebe que aquele potinho de creme apresenta uma data de validade que já passou. A dúvida é: tem que jogar fora imediatamente? Os especialistas dizem que não, embora recomendem que não se exagere nos dias de uso a mais. “Um cosmético não se estraga do dia para a noite, então sempre existe um prazo adicional em que ainda se encontrará em boas condições. Isso dependerá de vários fatores, como composição, fabricação e modo de utilização e armazenamento”, explica Maurício Pupo, cosmetólogo, diretor da Ipupo Consultoria em Desenvolvimento Cosmético.
A recomendação é: passou o prazo, utilize por no máximo 15 dias além da data especificada no rótulo. “A validade tem que ser levada a sério, embora exista essa margem de segurança de duas semanas em média. Um cosmético já vencido, seja creme ou maquiagem, não oferece garantia da eficácia dos ingredientes empregados. Ele pode sofrer oxidação, o que acarretaria problemas como irritação na pele”, salienta Ana Lúcia Recio, dermatologista membro das Sociedades Brasileira e Americana de Dermatologia. O contato com o oxigênio do ar, a temperatura e a luminosidade são fatores degradantes que se intensificam com o passar do tempo.
Que fique claro: se você continua usando um produto que já ‘estragou’ – seja um clareador, um antiidade ou um renovador com vitamina C –, a primeira consequência é que ele não fará mais efeito. Além disso, as moléculas se transformam quando oxidadas e passam a ser irritantes e alergênicas, o que aumenta a probabilidade de sofrer com tais incômodos. E tem mais, a empresa fabricante não dará garantia ou suporte caso haja alguma reação.
Para seu produto não estragar antes da hora...
- Guarde-o em local seco e fresco, longe do sol e da luz |
- Proteja-o do calor, jamais deixando-o em locais quentes como banheiro, cozinha ou carro |
- Use espátula e não manipule o conteúdo com os dedos. “As bisnagas são mais práticas que os potes porque liberam dessa obrigação”, diz Sheila Gonçalves |
- Cuidado com a umidade, que estraga as maquiagens – por isso guardar no banheiro é contra-indicado |
- Lembre-se que manipulados são sempre mais frágeis que industrializados, com tempo de validade mais curto |
- Não empreste seus itens de beleza para amigos ou familiares. “Principalmente os cremes para o rosto ou área dos olhos devem ser de uso próprio”, observa Renato Neves |
Onde mora o perigo?
Os produtos que mais oferecem riscos depois de vencidos são os cremes com alfa-hidroxiácidos, pois podem ser muito irritantes para a cútis; os hidratantes, em função dos óleos e das manteigas vegetais que se degradam; os protetores solares, que deixam de defender a pele dos raios nocivos do sol; os perfumes, porque as essências oxidadas são sensibilizantes; e os alisantes e depilatórios, que se tornam agressivos e chegam a machucar a epiderme e o couro cabeludo. “Na face, os riscos são mais visíveis do que no corpo. A pele passa por um processo de irritação, as células inflamatórias migram para a superfície, os vasos se dilatam e clinicamente observamos uma epiderme avermelhada com pequenas bolinhas (vesículas), descamação, coceira, calor e às vezes dor. Chamamos de dermatite alérgica de contato”, enfatiza Ana Lúcia. Nos olhos, mais suscetibilidade ainda. Se o creme para esta área contém renovador celular à base de retinol ou similares, a sensibilidade pode ser muito grande. Renato Neves, cirurgião oftalmologista com pós-doutorado na Harvard Medical School, ressalta que prolongar o uso leva a um aumento de concentração por evaporação do veículo, “que normalmente é alcoólico”.
No caso dos cosméticos, é fácil perceber quando a fórmula ‘desandou’. Há mudanças visíveis em cor, cheiro, viscosidade – fica mais aguada ou espessa –, ressecamento (algumas podem apresentar até rachaduras) e formação de cristais. Em xampus e sabonetes líquidos, há separação de ingredientes no fundo da embalagem (precipitação) e alisantes e depilatórios podem exalar gases fétidos. “Há formulações mais instáveis que outras, e compostos químicos bastante complexos. Por isso, todo cuidado é pouco”, diz Sheila Gonçalves, cosmetóloga.
O batonzinho também estraga
E a maquiagem? Segundo Maurício Pupo, o fato de pós, bases e batons não conterem água ajuda para que demorem mais a estragar. “Mas o fabricante leva isso em conta na hora de determinar o vencimento e, por isso, o prazo também tem que ser respeitado.” Quer dizer, mesmo que aquele blush esteja novinho em folha e com ‘um aspecto ótimo’, desapegue e jogue o mesmo no lixo no máximo 15 dias após a data escrita no rótulo. “A contaminação recente muitas vezes não altera cor nem odor”, considera Anelise Helena Leite Leal, farmacêutica e bioquímica.
Mesmo um simples batom merece atenção. “Ele entra em contato com os lábios, uma área conhecida como epitélio de transição, sendo muito mais fina e delicada e, por isso, sujeita a agressões”, destaca Pupo, acrescentando que itens de make vencidos em geral ficam ressecados e apresentam alterações na coloração e na homogeneidade. Ana Lúcia Recio concorda e observa: o grau de alergia depende da pessoa. “Se o paciente é mais ou menos predisposto, teremos um quadro discreto ou muito intenso.”
Se você costuma usar produtos importados, atente para este símbolo: ele indica a validade após a abertura da embalagem
O rímel em especial não raro é contaminado por bactérias, “já que seu conservante, que impede o crescimento de microorganismos, também tem prazo de vencimento”, diz Renato Neves. A insistência no uso causa conjuntivites graves e até mesmo úlcera de córnea. “Cuidados semelhantes devem ser tomados com relação a lápis de olho, delineador e sombra”, insiste o oftalmologista. Segundo Anelise, a máscara para cílios e os cosméticos que ficam perto das mucosas (como os lábios) ou dos olhos são os mais perigosos e campeões de queixas nos consultórios dermatológicos. “Tais regiões não têm muita proteção.”
No Brasil e no mundo
Uma dúvida que muitas pessoas têm: se o produto não for aberto, o prazo de validade muda? Para os fabricados no Brasil não, pois aqui o parâmetro utilizado é a data escrita na embalagem, independentemente se o cosmético ou a maquiagem estão intactos ou não. “Já na Europa a validade começa a contar depois que o dito-cujo é aberto, em geral seis meses”, observa Pupo. No nosso país, o prazo é determinado por meio de testes físico-químicos e microbiológicos e em geral se estende por três anos.
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