Relações sufocantes dificilmente dão certo; saiba se o teu relacionamento te consome demais
O início de qualquer namoro é sempre marcado por um intenso encantamento. No auge da paixão, o casal vive grudado e só tem olhos, ouvidos e boca um para o outro. Nessa fase, é natural e até esperado que os dois deixem de lado os amigos, a família e outras fontes de lazer. Estão se conhecendo, descobrindo como funcionam juntos (inclusive sexualmente) e se fecham em uma espécie de redoma invisível em que tudo o que fica do lado de fora passa a ser desnecessário e irrelevante.
Conforme o relacionamento avança, o sentimento vai se arrefecendo e a rotina volta ao seu curso normal, com cada um equilibrando os demais campos da vida e cuidando do próprio dia a dia, sem deixar de lado, idealmente, o romance.
Algumas pessoas, no entanto, acabam permitindo que o namoro ocupe mais espaço do que o necessário em suas vidas, comprometendo áreas importantes como amizades, família, trabalho e as próprias vontades. Em nome do amor, há quem, pouco a pouco, comece a negligenciar seus prazeres porque o relacionamento acaba dominando seus pensamentos e ações.
Segundo a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, autora de “O Livro do Amor” (Ed. BestSeller), isso acontece porque a cultura (a latino-americana, sobretudo), ainda é dominada pelo mito do amor romântico. “As novelas, os livros e os filmes pregam que a vida só tem sentido se a gente tiver um par amoroso. E os parceiros, por conta disso, volta e meia são idealizados”, diz. Para ela, há uma falsa ideia de que todos merecemos (e deveríamos encontrar) uma alma gêmea que nos complete, nos atenda e, principalmente, nos baste. “As pessoas são tomadas, então, por expectativas que dificilmente irão se cumprir e passam a infernizar quem está ao lado para que se encaixe nelas”.
Para a psicóloga e psicodramatista Cecília Zylberstajn, a ideia equivocada de que amar é sofrer e ceder é o principal fator detonador dos relacionamentos grudentos. “Em muitos casos, nem é o parceiro que cobra tanta dedicação. As pessoas agem assim por acreditar que quem gosta de verdade faz isso. Muitas nem se dão conta do quanto deixaram a relação tomar conta de suas vidas”, afirma.
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- http://mulher.uol.com.br/comportamento/enquetes/2012/12/02/voce-costuma-abrir-mao-de-suas-vontade-em-nome-de-um-relacionamento.js
Na opinião do psiquiatra Ricardo Monezi, do setor de Psicobiologia/Medicina Comportamento da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), o afastamento da vida social é o primeiro sinal de que a relação está tomando uma via errada, e pode se tornar facilmente uma obsessão. “Os amigos ou os parentes começam a reclamar a ausência da pessoa, que passa a preferir dedicar seu tempo somente ao ser amado e só comparece a algum evento familiar ou de colegas acompanhada”, diz.
Em geral, esse tipo de comportamento é mais comum entre as mulheres. “Elas se entregam mais aos relacionamentos. Os homens são mais autônomos e independentes e não costumam abrir mão de outras esferas de sua vida”, diz a psicóloga Marina Vasconcellos. Por esse motivo –e por ainda serem suscetíveis à herança patriarcal de gerações anteriores, segundo Regina Navarro Lins– é que muitas abandonam suas vidas em nome de um amor.
“Algumas, em especial depois do casamento, acham errado fazer determinadas coisas, como se sentar em um bar para conversar com as amigas”, diz Marina. Outras acham que o fato de terem um companheiro basta e se conformam com isso. O resultado é o isolamento social e o empobrecimento da relação, pois nenhum casal se basta por si só. E se o relacionamento acaba, a pessoa pode até entrar em uma depressão e apresentar uma doença psicossomática, pois não encontra mais sentido em nada.
Existe, ainda, quem tem personalidade mais vulnerável e se deixa guiar pelas vontades do parceiro de temperamento mais forte e ciumento. Acreditam que, assim, manterão sempre acesa a chama do relacionamento. O problema é que, de acordo com os especialistas, a condescendência não é garantia de nada. Ao contrário: oferece o risco de a pessoa mudar tanto em prol do outro que perde sua identidade, tornando-se desinteressante. “Manter a individualidade é a chave para uma relação feliz”, diz Marina.
Para Cecília Zylberstajn, pessoas maduras e seguras têm discernimento para saber quando se impor e quando baixar a guarda. “Não é necessário fazer a vontade do outro o tempo todo, assim como também não dá para ter a razão sempre. O segredo para decidir o melhor está em investir no diálogo e na intimidade”, fala. Prever o que o par quer, sem perguntar, pode gerar uma grande decepção, assim como fazer tudo o que o marido ou a mulher deseja. “Para que uma pessoa seja feliz no amor, ela deve gostar de si mesma, em primeiro lugar, depois do outro. Isso evita que, desde o início, faça concessões que mais tarde serão nocivas”, diz Cecília.
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