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Beleza perigosa: saiba identificar produtos que podem ser tóxicos

Ficar de olho no rótulo e buscar informações sobre o fabricante é o primeiro passo para se proteger de alergias, irritações e até problemas mais graves  - Thinkstock
Ficar de olho no rótulo e buscar informações sobre o fabricante é o primeiro passo para se proteger de alergias, irritações e até problemas mais graves Imagem: Thinkstock

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

03/02/2013 09h00

Você já deve ter se deparado com essa dúvida: diante de tantos cosméticos expostos nas gôndolas de lojas, drogarias e supermercados, qual levar? E, mais do que isso, será que todos são seguros para o uso? Tais questionamentos têm razão de ser: alguns produtos podem conter ingredientes potencialmente perigosos para a saúde, provocando desde irritações e alergias cutâneas até o desenvolvimento de doenças graves, como o câncer. As dicas dos especialistas: prestar atenção no nome da empresa fabricante e olhar bem os rótulos – para verificar as substâncias e os registros obrigatórios que devem constar ali.

“É sempre relevante conhecer a idoneidade da empresa. Embora a escolha de um cosmético, maquiagem ou coloração seja pessoal, ter ciência de algumas informações básicas ajuda para uma decisão acertada”, destaca a farmacêutica Mika Yamaguchi.

 “Os produtos no Brasil são rigorosamente testados. No entanto, é certo que surgiram (nos últimos tempos) muitas marcas novas e o consumidor deve ficar atento para adquirir o que é de boa qualidade e confiável. No rótulo, devem constar dados como CNPJ, endereço, nome do farmacêutico ou químico responsável, endereço da empresa e telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC). E, no caso de itens como os antiidade, classificados como grau II, registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, diz o farmacêutico especialista em cosmetologia Maurício Pupo.

Promessa é dívida

Os produtos considerados como grau I, que apresentam benefícios como hidratação, desodorização e limpeza, necessitam somente de uma notificação na Anvisa; já os de grau II são avaliados por uma equipe técnica encarregada de verificar se, de fato, têm as características descritas na embalagem. Neste grupo, estão os antiidade, anti-celulite e anti-queda de cabelo. “Com tal registro, a agência garante que a pessoa receberá o que foi anunciado no invólucro”, salienta Mika Yamaguchi.

O órgão já elaborou uma lista restritiva de substâncias nocivas que devem ser banidas das formulações. “Acontece que muitos outros ativos ainda são permitidos, em algum nível, pela Agência e por autoridades sanitárias de alguns países”, diz Maurício Pupo.

Veja, abaixo, uma lista de elementos que, segundo os especialistas, podem trazer riscos para as peles sensíveis ou perigos para a saúde:

Formol– O composto químico, também conhecido como formaldeído, é o primeiro da lista porque é um dos mais perigosos. Utilizado para alisamento e também como conservante, é extremamente nocivo para a pele, o cabelo e o organismo, causando até câncer. Estudo realizado pelo Departamento de Medicina Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade de West Virginia (EUA), e publicado no “Journal of Environmental and Public Health” em maio de 2011, notou aumento de risco de desenvolvimento de câncer de pulmão associado à exposição a alguns compostos, entre eles o formol. “Por isso, seu emprego não é mais permitido em produtos cosméticos no Brasil desde janeiro de 2012”, salienta Maurício Pupo. Nos rótulos, o formol pode estar apresentado com os seguintes nomes: quatérnium-15, diazolidinil hora, imidazolidinil ureia e DMDM hidantoína.

Parabenos– Trata-se de um conservante encontrado em cremes corporais, géis de banho e desodorantes, usado para evitar a contaminação por fungos e bactérias, garantindo o uso do produto em longo prazo. “Já há estudos, no entanto, mostrando que pode estar relacionado ao câncer”, ressalta Mika Yamaguchi. “Embora sejam estáveis e, em pequenas concentrações, apresentem baixa toxicidade, existe uma crescente preocupação quanto à possibilidade de alguns parabenos terem ação hormonal, principalmente a estrogênica, de efeitos similares aos provocados pelos hormônios sexuais femininos”, completa Maurício Pupo, acrescentando que o dito-cujo é aprovado pela Anvisa em limites muito restritos. Teste realizado pelo Centro de Saúde e Meio Ambiente da Universidade da Califórnia (EUA), e publicado no “Toxicology and Applied Pharmacology“  em março de 2007, mostrou que os parabenos são capazes de inibir a atividade induzida pela testosterona, podendo influenciar diretamente o sistema reprodutor humano. “De alguma maneira, é possível que interfiram com os hormônios humanos. Como sabemos que muitos tipos de câncer são decorrentes de mínimas alterações hormonais, temos que ficar atentos”, salienta Maurício Pupo. Os parabenos podem ser identificados, nas formulações de cosméticos e desodorantes, com diversas nomenclaturas: parabens, pethylparaben, pthylparaben, propylparaben e putylparaben. Encontrou um destes termos? Melhor evitar.

Propilenoglicol– Empregado como diluente de outras substâncias ou para conferir sensação de hidratação, está em uma grande variedade de cosméticos. Mas, segundo os especialistas, é provável que provoque distúrbios cutâneos como alergias e irritações. Estudo realizado com 45.138 pacientes na Universidade de Göttingen, na Alemanha, e publicado no periódico “Contact Dermatitis” em novembro de 2005, denunciou seu potencial sensibilizante, confirmado também pelo Departamento de Dermatologia do Hospital Osaka Red Cross, no Japão, e publicado no “International Journal of Dermatology” no mesmo ano. “É aprovado pela Anvisa sem limite de concentração, mas vetado em cosméticos orgânicos”,diz Maurício Pupo. Em tempo, cosméticos orgânicos são aqueles que não apresentam substâncias químicas derivadas de petroquímicos ou sintéticos, que utilizam ativos isentos de agrotóxicos e extraídos de forma mais natural. Para saber se o produto cosmético contém propilenoglicol na composição, verifique o termo propylene plycol na embalagem.

Amarelo tartazina– Corante, oferece grande risco de alergia. “Seria interessante utilizar produtos sem corantes”, sustenta Mika Yamaguchi, acrescentando que, no setor alimentício, quase a totalidade dos itens vem com corantes na composição. “Como são a principal causa de alergia em cosméticos, a maioria das empresas já os eliminou das formulações”, diz Maurício Pupo. Nas embalagens, aparecem com a nomenclatura CI – Color Index, com um código que representa a cor.

Etoxilado– É um emulsificante – encontrado em xampus, por exemplo – originário de um processo químico chamado etoxilação. Prejudica a defesa natural da pele, deixando-a mais vulnerável à entrada de microorganismos e à desidratação. “Por isso, é interessante utilizar produtos livres de etoxilados, com emulsificantes de alta afinidade com a cútis, como os fosfolipídeos”, recomenda Mika Yamaguchi. Importante: a Anvisa não controla este tipo de ingrediente. “Os etoxilados podem estar contaminados com um agente cancerígeno chamado 1,4 dioxano. Por isso, é essencial que se utilize etoxilados livres de 1,4 dioxano. Vale ressaltar, ainda, que existe o risco ambiental, pois o processo de etoxilação é danoso ao meio”, finaliza Maurício Pupo. Na embalagem, o nome que aparece é este mesmo, etoxilado.

Filtros solares químicos– Tais aditivos, aprovados pela Anvisa e protetores dos raios UVA e UVB, nas peles muito sensíveis ou infantis podem causar irritação quando presentes em altas concentrações. Por isso, é recomendável que pessoas nessas condições prefiram protetores solares com filtros físicos como dióxido de titânio e óxido de zinco, estruturas inorgânicas que não penetram na epiderme. “Nos filtros, componentes absorvedores de luz, como benzofenona-3 e 4-metilbenzelideno cânfora, demonstraram ter a capacidade de se acumular no corpo humano por até cinco dias. Então, são elementos que devem ser evitados”, diz Maurício Pupo, salientando que este resultado apareceu em um estudo científico realizado no Instituto de Avaliação de Riscos de Ciências da Universidade de Utrecht, na Holanda, e publicado no “Toxicology and Applied Pharmacology”, em outubro de 2005. “Foi relatado que a exposição diária a tais filtros resulta em efeitos estrogênicos no corpo humano.” Em outras palavras, o ativo pode interagir com receptores de estrógeno e atuar como se fosse um hormônio feminino. “Mas é bom deixar claro que não são todos os filtros químicos que fazem isso, somente os mais antigos. A nova geração já apresenta maior segurança”, explica o cosmetólogo Maurício Pupo. Alguns nomes de filtros solares químicos: avobenzona, octilmetoxicinamato, homosalate e bis-etilexiloxifenol metoxifenil triacina.

Óleo mineral– Derivado do petróleo e composto por uma mistura complexa de hidrocarbonetos, é aplicado na indústria cosmética como emoliente, lubrificante e hidratante – e, por isso, está presente em diversos cremes e loções. “Seu uso, no entanto, tem sido relacionado a casos de desordens cutâneas”, adverte Maurício Pupo. Tanto é que o Departamento de Medicina Ocupacional do Hospital Universitário de Trondheim, na Noruega, apontou que houve prevalência de alterações como pele ressecada, dermatite, acne e eczema em indivíduos que tinham contato direto com o componente. “Outro problema relatado em relação ao óleo mineral é a contaminação de alguns produtos com o 1,4-dioxano. Este composto orgânico classificado como éter, segundo pesquisas científicas como a publicada no “Regulatory Toxicology and Pharmacology”, em outubro de 2003, demonstra apresentar potencial carcinogênico, penetração na pele e uma fraca atividade genotóxica, ou seja, danos ao material genético”, completa o cosmetólogo. Em outras palavras, há suspeita de que provoca diversos tipos de câncer, como de pulmão, esôfago, estômago, linfoma e leucemia. A Anvisa não controla o uso do óleo mineral em cosméticos. Nos rótulos, procure por palavras como paraffin oil e mineral oil.

Ftalatos– Eles entram em esmaltes, perfumes, xampus e maquiagens como aditivos, plastificantes ou agentes amaciadores. Mas é bom ficar alerta: estudo realizado em 2009 em múltiplos institutos e publicado no Environmental Health Perspectives em fevereiro de 2009 verificou que a exposição aos ftalatos está associada à ocorrência de hipospádia, uma das anormalidades urogenitais mais comuns em bebês do sexo masculino. “Outra pesquisa, comandada em 2009 pelo Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Fudan, na China, provou ligação entre a exposição fetal aos ftalatos, durante a gestação, e o baixo peso no nascimento”, destaca Maurício Pupo. Não há controle, por parte da Anvisa, em relação ao  emprego do ativo. “Nos frascos, não dá para identificá-lo, pois os ftalatos são moléculas contaminantes de determinadas matérias-primas”, diz Maurício Pupo.

Aminas aromáticas– Presentes em tinturas capilares, é possível que esses hidrocarbonetos aumentem o risco de desenvolvimento de câncer, entre eles o de bexiga. “Tal suspeita surgiu em estudo publicado no “Mutation Research” em setembro de 2002 e evidenciada pelo Public Health Reports em janeiro-fevereiro de 2005, nos Estados Unidos”, revela Maurício Pupo, acrecentando que a Anvisa estabelece limites para o uso do ativo em cosméticos, que aparecem com este nome mesmo nos rótulos.

Nicotinato de metila– É um ativador da circulação incluído em formulações anticelulite e redutora de medidas. “Pode causar alergias graves, como dermatites de contato, inclusive espalhadas pelo corpo, além de aumento de vasos dilatados nas pernas, rinite alérgica e hiperalgesia, ou seja, inchaço nas articulações com dores articulares – especialmente em profissionais como massoterapeutas”, destaca Sheila Gonçalves. Seu emprego é aprovado pela Anvisa e o nome, nos rótulos, é o mesmo. “Em caso de alergia, o consumidor deve procurar atendimento médico”, diz Maurício Pupo.

Ureia - Um dos hidratantes mais utilizados em cosméticos é a ureia, tanto pela sua eficácia quanto pelo seu baixo preço. Como penetra profundamente na pele e tem a capacidade de atravessar a placenta, podendo chegar até o feto em formação e ocasionar graves consequências ao bebê, traz uma advertência da Anvisa: todas as vezes que o componente estiver presente em dosagens maiores que 3%, o rótulo alerta ‘Para uso durante a gravidez, consulte um médico’. “O órgão também veta a fabricação de cosméticos que contenham mais de 10% de ureia”, salienta, farmacêutica especialista em desenvolvimento de cosméticos Anelise H. Leite Taleb. Na embalagem, o nome é o mesmo.