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Aprenda com a experiência dos famosos e controle seus rompantes

Não conseguir controlar suas reações diante de frustrações pode trazer consequências graves - Thinkstock
Não conseguir controlar suas reações diante de frustrações pode trazer consequências graves Imagem: Thinkstock

Giovanny Gerolla

Do UOL, em São Paulo

07/02/2013 07h07

Perder o emprego, o relacionamento ou a própria moral perante a opinião pública são algumas das consequências decorrentes de rompantes –ataques de raiva que podem levar pessoas sãs a cometerem verdadeiras loucuras.

O rompante é uma resposta explosiva e desmedida diante de um fato. Entre as celebridades, é comum ouvir falar de alguém que agrediu fotógrafos, gritou com jornalistas, se desentendeu com algum colega, falou mais do que deveria. E, muitas vezes, o caso vai parar na Justiça, resultando em custosas indenizações.

"Primeiro, é preciso diferenciar o que seria uma reação explosiva normal daquilo que é patológico", afirma o psicólogo e pesquisador José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
 
Quando um indivíduo tem certos objetivos que não são atingidos, é natural sentir-se frustrado. Mas há diferentes maneiras de lidar com essas frustrações: ser acometido pelo sentimento de decepção, que não teria implicações sérias, e o da agressividade, que não necessariamente se manifesta, podendo emergir como sensação de raiva –algo mais introspectivo e controlado– ou como atitudes agressivas. 

Para o psicólogo, a diferença está em que a decepção é uma reação mais passiva. Já a raiva pode manifestar-se em comportamento ou sentimento (ambos, no entanto, considerados normais). Contudo, a características patológicas se revela quando a reação é desproporcional ao fato, indicando doenças psiquiatras ou transtornos de humor. Portanto, a reação explosiva, sem que tenha havido um estímulo significativo, precisa ser investigada.

 
Mesmo quando reagir com raiva é previsível e justificável, no entanto, reações agressivas nunca são positivas. "A explosão é sempre ruim para aquele que explode", afirma a psicanalista e escritora Betty Milan. De acordo com ela, não é possível saber, de forma genérica, quando rompantes de raiva se darão: "Às vezes um 'nadinha' desencadeia o comportamento; outras, algo muito significativo. O limite de cada pessoa é determinado por suas histórias individuais e familiares”. 
 
De acordo com o advogado Sérgio D’Antino, que tem como clientes alguns famosos, a pessoa pode perder a noção do que é certo e do que é errado. As consequências são aquelas previstas pelo Código Penal Brasileiro, quando a fúria conduz ao cometimento de um crime, lesão corporal, calúnia, difamação ou injúria. "E a lei não diferencia se o agente agressor é pessoa pública ou não", diz o advogado. 
 
A diferença é que, quando o escândalo envolve celebridades, a repercussão na imprensa é grande. Rompantes de raiva são, contudo, fatos frequentes na esfera privada, e todos os dias ocorrem crimes dos quais nem se fica sabendo. "Quando o caso é de pessoa pública, os tribunais têm entendido que a ofensa à integridade moral ou privacidade da vítima é ainda maior", diz D’Antino. Isso ocorre pelo fato de a celebridade ter sua imagem como um instrumento essencial de trabalho. Assim, as indenizações podem chegar aos milhões de reais. 
 

Da emoção ao rompante

Para a psicologia, a raiva é uma emoção produzida sempre que o indivíduo se depara com um obstáculo ou alguma resistência externa à realização de algo que anseia ou necessita. "É uma reação natural, automática, que aparece sempre que o ser humano se sente ameaçado", define o psicoterapeuta George Vittorio Szenészi, do Instituto Metaprocessos.

Mas a raiva pode se tornar um problema quando o indivíduo vive em um meio onde não pode demonstrar esse tipo de reação. "Quando não vividas, essas emoções negativas se acumulam ao longo do tempo, até que, num determinado momento, ocorre um fato específico em que tudo isso vem à tona de uma vez só. É a conhecida 'gota d’água'", explica George. 
 
Por isso, é importante compreender onde estão os bloqueios que nos impedem de expressar naturalmente as emoções, superando-os e aprendendo a expressá-las de uma forma que não seja comprometedora, pois represar insatisfações leva a ataques de raiva no futuro.
 

Dá para evitar?

Rompantes também podem ser decorrentes de flutuações hormonais, neuroquímicas ou da tensão cotidiana –e quem tem os nervos à flor da pele poderá explodir na hora errada com maior facilidade. Outros quadros são oriundos de pouca capacidade de lidar com as frustrações.

Nos casos de doenças psiquiátricas, o tratamento poderá ser medicamentoso e/ou realizado com acompanhamento psicológico, dependendo da gravidade do caso. Alternativas como a meditação e atividades físicas também surtem efeito sobre o comportamento das pessoas.

Segundo Betty Milan, quem se debruça sobre a própria história e se conhece bem, consegue conter os rompantes. "Mas isso dá trabalho", diz ela. 
 
A psicologia comportamental admite que nos casos de reações normais diante de estresse, ansiedade ou estado de alerta muito intenso, é preciso redobrar atenção sobre o controle desses fatores, para que respostas não se transformem em violências desenfreadas e prejuízos morais e econômicos. 
 
"Nem chamo isso de procedimento de terapia, mas de um treinamento em gestão de vida", afirma José Roberto Leite. "Nossas emoções constituem apenas mais uma das grandes áreas da vida que temos de gerenciar. Para isso, é preciso manifestar sentimentos com clareza e maturidade, de forma adequada".