Luminárias criadas por designers e índios são expostas em Milão
“O 'keñe' está no mundo inteiro, está em todos os lugares, a gente que não sabe, que não percebe”. As palavras ditas pelo Nani – um dos líderes dos Yawanawás – resume o que muitas vezes não somos capazes de reparar e o que designers e profissionais envolvidos com a arte em formas diversas tendem a buscar: a beleza no cotidiano e nas coisas simples.
Luminárias belas e inspiradas pelo dia a dia e pela cultura da tribo Yawanawá, habitante dos rincões do Acre, na aldeia Nova Esperança - distante 15 horas de Rio Branco, por um caminho de terra- são um dos chamarizes e principais destaques brasileiros na 52ª edição do Salão do Móvel de Milão, na Itália.
Resultado da terceira edição do projeto “A Gente Transforma”, as luminárias compõem uma exposição no Palácio Giureconsulti, na cidade italiana entre os dias 9 e 14 de abril de 2013. Algo interessante e digno de olhos cheios.
Luz da selva
O designer Marcelo Rosenbaum foi à Floresta Amazônica a fim de buscar inspiração e levar uma alternativa de fortalecimento da cultura e da economia aos Yawanawás: “Conheci a aldeia Nova Esperança durante o festival Yawa, em outubro de 2012. Durante uma semana, os índios se pintam, dançam, cantam, brincam para mostrar a seus convidados sua majestosa cultura. Me deparei com um povo generoso e cheio de amor, disposto a compartilhar tudo que tem de mais sagrado e a grandiosa riqueza que possui. Os Yawanawás são uma etnia que guarda saberes e segredos, que possui o conhecimento da cura pelas plantas da floresta, que mantém ainda viva a conexão profunda com a natureza”, conta Rosenbaum.
Yawanawá posa junto à luminária Puriti (Tripé)
Ele e outros 30 profissionais – como os designers do Nada Se Leva e do Fetiche Design e uma astróloga – se juntaram a 78 artesãos da comunidade acreana, que busca a integralização de uma cultura machucada e negativamente afetada pela catequização impositiva e pelo aliciamento dos seringalistas.
“O povo Yawanawá ainda guarda fortes resquícios deixados pela violenta descaracterização imposta pelo branco. O resultado disto está na pobreza das suas casas, na perda da identidade alimentar, trocando alimentos naturais por industrializados. Eles hoje não moram em ocas e, sim, em casas de madeira muito malconstruídas, sem luz natural, sem ventilação, muito quentes... Um retrocesso”, conclui.
A primeira conversa do heterogêneo grupo foi sob os galhos de uma mangueira e ao som de lendas e mitos Yawanawás. Segundo o material publicado na revista AGT (que trata do projeto “A Gente Transforma”, em vias de ser lançada), a ideia é que as luminárias sejam análogas às araras que, na cultura desses indígenas, são as mensageiras. “O ponto de partida foi conhecer os mitos e as lendas deles. A partir daí, organizamos os talentos coletivos e com os elementos Yawanawás, os saberes e o imaginário, aliados a nossas técnicas, fizemos em co-criação essas luminárias fantásticas”, explica Rosenbaum.
Assim, o objetivo é mostrar tais referências histórico-culturais como economia criativa, não como algo exótico. Nove modelos tomaram forma: Runuãkenê/ Runuãrunuahu (Jiboia G e P), Kape/ Kapemixtihu (Jacaré G e P), Shuhu (Oca), Nãwaruku (Ninho do Japó), Hunãti (Cesto), Puriti (Tripé), Mayti (Cocar) e Shunuã (Floresta). Esboços que fundem as histórias, as experiências de convívio entre brancos e índios no coração da floresta, os “keñes” - manifestações visuais como as pinturas corporais e o artesanato com miçangas - e o resgate de técnicas antigas com base em cipó, madeira e palha.
Da mata para indústria
As 213 peças, fotos e afins que desembarcam em Milão refletirão os produtos que devem entrar em processo de fabricação pela La Lampe. Segundo a diretora da empresa, Alessandra Friedman, séries limitadas das colunas Cesto e Tripé, além do lustre Japó, são previstas. Os pendentes Floresta e as versões para teto, parede e mesa das Jiboias (P e G) ganham produção em larga escala.
O desejo, porém, é agregar o artesanato – especialmente o visto nas criações com miçangas – ao processo industrial, aliás tema discutido no SaloneSatellite do evento milanês. “Os índios ainda são um símbolo do Brasil no exterior e representam um resgate dos antepassados e de uma cultura mais pura. Acredito que, neste momento de tanta incerteza mundial, esta pureza poética seja muito reconfortante”, defende Friedman.
Com uma promessa sustentável, o “A Gente Transforma” parece agir em duas frentes: se beneficiar da beleza nativa e pouco explorada do Brasil e levar às comunidades meios de se desenvolverem economicamente e de forma a valorizar sua cultura e tradição. Se tal caminho se mantiver real, o mundo só tem a ganhar.
Serviço - Exposição AGT Yawanawá - A Força da Floresta
Quando: até 14 de abril de 2013
Onde: Palazzo Dei Giureconsulti, Piazza Dei Mercanti, 2 - Milão
Quanto: entrada gratuita
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