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Despertar insegurança no parceiro é bom ou ruim para a relação?

Não atender aos telefonemas de propósito é uma das atitudes de quem quer criar insegurança - Orlando/UOL
Não atender aos telefonemas de propósito é uma das atitudes de quem quer criar insegurança Imagem: Orlando/UOL

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

14/09/2013 08h29

Nas novelas, a tática funciona. O ser amado anda meio ausente, mas basta a mocinha provocar ciúme ou dar um gelo no rapaz para que a chama da paixão seja prontamente reacesa. Na vida real, porém, criar situações para despertar a insegurança de um homem ou de uma mulher aumenta o risco de azedar um relacionamento.
 

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Táticas como demorar para retornar ligações, responder SMS de modo monossilábico, sumir sem dar satisfação ou provocar ciúme são apoiadas na crença de que as pessoas só aprendem a valorizar um amor quando o perdem ou temem perdê-lo. Nem sempre isso faz sentido, principalmente para quem busca estabelecer um relacionamento maduro.

"A construção de uma relação baseada em um senso de ameaça pode evidenciar a dificuldade de realizar vínculos mais profundos e consistentes, baseados em confiança e respeito mútuo", afirma a terapeuta de casal e de família Sandra Salomão, docente do curso de Psicologia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).

"Apelar para essas táticas costuma provocar um nível de desconforto que pode se tornar insustentável. O ciúme, especialmente, tem um componente muito destrutivo", diz ela.

Segundo a psicóloga Maria Teresa Reginato, todas as pessoas têm algum tipo de insegurança. "Estimulá-la é como tocar em lugar que está ferido, mesmo que não saibamos o quanto. O resultado imediato pode até ser eficiente, mas machucar alguém nunca será uma solução boa a médio e longo prazo", informa.



As consequências podem ser decepcionantes ou devastadoras. "A insegurança pode ser interpretada como confirmação de falta de interesse e isso vai acarretar mais distância do que aproximação", conta a terapeuta sexual Cristina Romualdo, do Instituto Kaplan, de São Paulo (SP).

Para a psicóloga e terapeuta de casais Iara L. Camaratta Anton, autora dos livros "A Escola do Cônjuge" (Ed. Artmed) e "O casal Diante do Espelho" (Ed. Casa do Psicólogo), apertar o gatilho da insegurança no outro também é uma forma de camuflar o fato de que é a própria pessoa quem não está contente com os rumos da relação.

Só que, em vez de revelar o que sente e tentar resolver as insatisfações, tenta provocar uma reação no parceiro e ver se, assim, as coisas mudam. "O maior perigo é desestabilizar ainda mais uma relação que já anda problemática", fala a psicóloga.


Outra armadilha: despertar, em pessoas emocionalmente imaturas, o desejo de dar o troco. Há o risco de o parceiro querer revidar algo que sequer aconteceu, como uma traição.

"O melhor a fazer é sempre conversar sobre angústias e temores, em vez de provocar ações e reações que volta e meia não provocam o resultado esperado", afirma a psicanalista Suely Gevertz, docente do Centro de Estudos Paulista de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 
 
Antes de colocar a imaginação para funcionar e inventar artimanhas para testar o outro, o ideal seria, de acordo com Sandra Salomão, avaliar os próprios sentimentos e como vai a relação.

"Será que realmente houve uma perda do interesse ou essa impressão não passa de um medo seu, por algum motivo pessoal?", pergunta a terapeuta.

Todo relacionamento tem altos e baixos, muitas vezes influenciado por fatores externos, como dificuldades no trabalho, problemas familiares ou por uma fase em que um ou outro está se sentindo carente

Em um momento como esse, é muito mais saudável para o relacionamento abrir o jogo e conversar sobre o que está acontecendo do que deixar o parceiro, que já demonstra sinais de desgaste, desconfiado de que até a sua vida amorosa pode estar afundando.