Terapia online tem regras rígidas e não dispensa sessão presencial
Será que a tradicional imagem do divã de psicanalista está correndo o risco de ser trocada pela tela de um monitor, com o paciente de um lado e o profissional do outro? Não tão rapidamente. Ainda há limites para o atendimento, apesar de já serem comuns os apoios psicológicos pela internet. "É uma realidade cada vez mais presente", diz Luiz Eduardo Berni, membro do CRP/SP (Conselho Regional de Psicologia de São Paulo).
Berni não vê problema em lançar mão da tecnologia para realizar uma consulta, desde que as normas do CRP sejam seguidas. "A terapia online não é melhor nem pior do que a presencial. Ela apenas atua em um espaço novo. Mas há regras e limitações que devem ser respeitadas", fala o conselheiro.
Em primeiro lugar, o profissional deve seguir as normas da resolução 011/2012, do CFP (Conselho Federal de Psicologia), e realizar um cadastro de seus serviços. Precisa, também, manter um site para o atendimento, onde deve haver um link para o código de ética profissional do psicólogo. Uma boa maneira de ver se as normas estão sendo cumpridas, portanto, é checar se o profissional colocou o link do CFP no seu próprio site.
Apesar da resolução, muitas vezes, o atendimento não é feito por páginas da web, mas por Skype (programa de troca de mensagens instantâneas).
A modalidade não deve ser o único meio de contato entre paciente e psicólogo. Ela serve como um apoio ao tratamento presencial ou recurso utilizado quando o paciente está viajando ou impossibilitado de ir ao consultório. "É possível fazer esse atendimento eventual, mas desde que não se torne regular", afirma Berni.
Atendimento exclusivo só para pesquisa
Os atendimentos feitos exclusivamente online têm normas rígidas. "Esse tipo de terapia é restrita ao ambiente de pesquisa universitária, ou seja, o psicólogo deverá estar vinculado a uma universidade", diz o conselheiro. E é sempre um processo breve, não podendo ultrapassar 20 sessões, em que o pesquisado não pode receber nenhum tipo de remuneração.
A professora doutora Carla Biancha Angelucci, do curso de psicologia da Universidade Mackenzie, em São Paulo, é enfática em assinalar os limites. "A psicoterapia por meios tecnológicos de comunicação à distância não é permitida como prática profissional no Brasil. Ela apenas pode ser realizada no contexto de pesquisa, devendo ser aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Outros serviços de orientação psicológica podem ser prestados, mas não devem ter caráter terapêutico", afirma Carla.
Entre os serviços que podem ser prestados estão o de orientação profissional ou uma dificuldade momentânea emocional –entre elas, a perda do emprego, uma briga séria com o cônjuge, uma dúvida sobre que caminho seguir em determinadas situações. "O atendimento tem de ter um enfoque pontual e temático", fala Berni.
Em casos de atendimento psiquiátrico, o atendimento online é indicado apenas para pacientes que já fazem a terapia presencial, "como se fosse um apoio em momentos de pânico", diz o psiquiatra Leonard Verea, especializado em medicina psicossomática e hipnose dinâmica. Mas ele também afirma que esse tipo de atendimento não é considerado terapêutico, já que não há o aprofundamento que existe em uma sessão tradicional.
Dúvidas e contra-indicações
Carla Angelucci afirma, também, que, até o momento, não há como garantir a eficácia dos atendimentos online nem a proteção do paciente.
Para ela, ainda há muitas questões a serem investigadas: a psicoterapia online é adequada a todas as situações de sofrimento psíquico? Qual a qualidade do vínculo entre paciente e profissional, já que não há contato face a face? Como garantir o cuidado nas situações em que o paciente está mais vulnerável, colocando a vida dele ou de outras pessoas em risco? É um tipo de terapia que pode se aplicar apenas a situações pontuais ou tem a possibilidade de substituir a terapia tradicional?
Há situações em que a terapia via internet é totalmente contraindicada. Pessoas com patologias que levam a surtos, por exemplo, não devem recorrer a esse tipo de atendimento.
A psicóloga Angélica Amigo, que realiza tanto atendimento presencial quanto online, acrescenta que não poderão ser orientadas via internet pessoas com pensamentos suicidas ou que estejam sob forte medicação ou efeito de drogas ilícitas ou álcool, prejudicando a atenção, o raciocínio e a percepção. Também não é indicada para pessoas em crise ou com descontrole emocional.
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