Topo

Candidato pode cobrar resposta de recrutador, mas com bom senso

Ficar esperando uma resposta pode ser chato, mas não caia na tentação de cobrar uma posição do recrutador antes do prazo combinado - Getty Images
Ficar esperando uma resposta pode ser chato, mas não caia na tentação de cobrar uma posição do recrutador antes do prazo combinado Imagem: Getty Images

Claudia Silveira

Do UOL, em São Paulo

07/10/2013 07h05

Quando um candidato sai confiante de uma entrevista de emprego, os dias seguintes são de ansiedade à espera de uma resposta do recrutador. É só o retorno não chegar no prazo combinado que a angústia aumenta, a autoestima fica abalada e o candidato começa a pensar na melhor forma de cobrar uma resposta da empresa.

Segundo profissionais ligados a processos de recrutamento e seleção ouvidos por UOL Comportamento, o candidato pode entrar em contato com o recrutador para saber em que pé está o processo seletivo, mas é preciso ter bom senso e maturidade.

Antes de tudo, é imprescindível respeitar o prazo dado pelo recrutador. "Entrar em contato antes evidencia alto grau de ansiedade", diz a psicóloga, consultora de carreiras e coaching Cristiane Moraes Pertusi. Mesmo se o prazo já tiver vencido, ela sugere dar mais alguns dias de tolerância. "Esperar uma semana a mais do prazo para entrar em contato não demonstra tanta afobação", diz Cristiane, que é doutora em psicologia do desenvolvimento humano.

Essa foi a estratégia da designer mineira Thiara Araújo. O retorno da entrevista para uma vaga de assistente deveria chegar em uma semana, o que não aconteceu. Como a vaga era realmente o que ela queria e as expectativas eram boas, ela esperou mais uma semana e entrou em contato por telefone.

  • Claudia Silveira

    Thiara Araújo se decepcionou mais por não ter tido um retorno do que por não ter sido selecionada

"Liguei para a recrutadora para saber o resultado. Ela se desculpou por não ter tido tempo de ligar para aqueles que não foram chamados e informou que eu não tinha passado", conta a designer, que ficou mais decepcionada com a negligência da empresa do que por não ter sido selecionada.

Telefone ou e-mail?

Para quem fica em dúvida sobre qual meio escolher, a dica do psicoterapeuta José Roberto Marques, presidente do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), é entrar em contato com o recrutador pelo mesmo meio em que foram feitas as conversas anteriores.

"Se os contatos foram por telefone, ligue; se foram por e-mail, envie a mensagem. Caso vocês tenham trocado as primeiras conversas por e-mail e ele tenha lhe dado o contato telefônico, isso significa que você pode também ligar", diz ele.

Independentemente de ser telefone ou e-mail, Marques recomenda ser sempre cordial e educado. "Caso seja por telefone, tome cuidado com o tom de voz. Identifique-se, diga para qual vaga se candidatou, por quais etapas do processo seletivo já passou e pergunte ao recrutador se a vaga já foi preenchida. Em caso positivo, agradeça e se coloque à disposição para uma posterior oportunidade; se for negativo, pergunte se pode retornar ou se eles farão o contato".

Nos casos em que o recrutador não deu um prazo específico, esse contato pode ser feito justamente para pedir uma previsão. “Mas o ideal é já sair da entrevista sabendo qual é esse prazo”, diz a psicóloga Cristiane.

Tempo médio é de uma semana e meia

Em pesquisa realizada em 2011, a empresa de recrutamento online Catho constatou que o tempo médio entre o primeiro contato da empresa e a oferta oficial do emprego é de uma semana e meia. Mais de 46 mil pessoas residentes no Brasil foram entrevistadas e quase 10% delas, no entanto, levaram seis semanas ou mais para receber a proposta de emprego.

Além da competência, a paciência precisa ser uma das qualidades de quem se candidata aos cargos mais altos: segundo a pesquisa, a espera pelo retorno de uma vaga de diretor é mais do que o dobro do tempo de quem espera retorno para uma vaga de auxiliar, por exemplo.

"Podemos, então, dizer que um prazo bom é de 15 dias", diz Marques, presidente do IBC. Para ele, é preciso ainda levar em consideração quantas etapas terá o processo seletivo e se mais pessoas estão participando ou não, fatores que podem levar a um atraso na divulgação do resultado.


Atraso ou ausência de resposta é quebra de confiança

Para o psicólogo Jairo Eduardo Borges-Andrade, professor do programa de pós-graduação em psicologia social, do trabalho e das organizações da UnB (Universidade de Brasília), o candidato não só pode como deve cobrar um retorno do recrutador, caso essa reposta não chegue no tempo combinado. Para ele, no entanto, se o processo de seleção chegou a esse ponto, todos já saíram perdendo.

Borges-Andrade compara o processo seletivo para uma vaga de emprego a uma compra feita pela internet. Assim como o consumidor pesquisa a idoneidade de um site, o candidato também procura se informar sobre a empresa e sobre a vaga. Se o consumidor faz a compra e a loja promete a entrega em uma semana, mas o produto não chega no dia prometido, ele perde a confiança no site. A decepção, compara o psicólogo, é similar à de um candidato que não recebe resposta da entrevista no prazo estipulado.

"O candidato estabelece uma relação de troca e de confiança. Ele se esforça e faz um investimento não só de tempo como afetivo, porque convence a si próprio de que a empresa vale a pena e que o relacionamento pode ser de longo prazo. Se a empresa não cumpre o prometido, ele fica desgastado já no começo", diz. 

  • Claudia Silveira

    David Shek ficou decepcionado com a ausência de retorno de duas empresas diferentes.

Mesmo que o candidato seja contratado, a quebra da confiança do início da seleção poderá atrapalhar o rendimento do profissional. “Se o candidato já sabe que a empresa não cumpre com a parte dela, pode achar que ele também não precisa cumprir com a parte dele. A motivação pode estar comprometida", afirma o psicólogo.

É graças a todo esse investimento emocional e intelectual que Borges-Andrade sugere o contato do candidato com a empresa não só para pedir um retorno, mas, também, para um retorno sobre os erros e acertos. É bom para o desenvolvimento pessoal do candidato e também para a imagem da empresa, já que ela é construída por todos que se relacionam com ela. 

O estilista David Shek ficou decepcionado com a ausência de retorno de duas entrevistas em empresas diferentes. "Dá a impressão de falta de planejamento interno", diz. Ele, que já cobrou respostas, acredita que "a partir do momento em que você é tratado com pouca consideração por um recrutador, é a empresa como um todo que acaba sendo prejudicada, seja pela má impressão transmitida ou pela perda de um bom profissional".