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Por que os casos de traição entre famosos mexem tanto com o público?

Heloísa Noronha

Do UOL, em São Paulo

16/10/2013 07h13

O exemplo mais recente aconteceu com a dançarina Scheila Carvalho: bastou a empresária mineira Kamyla Simioni postar algumas fotos de seu romance secreto com o cantor Tony Salles, marido de Scheila, para a história causar uma comoção nacional entre os que acompanham as celebridades.

A princípio, pensava-se que Sheila, que estava confinada no reality show "A Fazenda" na ocasião, não soubesse do que estava acontecendo do lado de fora. Sua eliminação teve sabor de anticlímax: em vez de se revoltar contra o traidor, como o público torcia e aguardava, Scheila afirmou que estava ciente do caso e que ia, sim, continuar ao lado do parceiro, justificando que todo casal passa por situações que só dizem respeito aos dois. Embora com um interesse bem menor, o público continua acompanhando o desenrolar da história.

O fato é que a afetiva dos famosos sempre despertou interesse, em especial quando envolve temas como adultério. E, atualmente, atingiu o seu ápice por causa da velocidade de divulgação de informações na internet e da facilidade em captar flagras comprometedores.

Mas por que tantas pessoas se importam com a rotina afetiva de gente que nem sabe que elas existem? A principal explicação, segundo a psicóloga e terapeuta sexual Walkíria Fernandes, é a projeção. "Toda celebridade acaba sendo vista como uma espécie de mito, uma pessoa ‘perfeita’ ou quase desprovida de defeitos. A partir disso, inconscientemente, muitos enxergam os famosos como um exemplo de comportamento, alguém através do qual o ideal de ego é projetado, assim como os sonhos e as fantasias que cada um carrega dentro de si", afirma.

Para Priscila Gasparini Fernandes, especialista em neuropsicologia, os veículos de comunicação e as redes sociais oferecem uma falsa sensação de intimidade e proximidade do fã com seu ídolo, o que facilita a projeção de suas necessidades psicológicas. "O fã usa o ídolo para se autoafirmar e tenta imitá-lo inconscientemente. Como é um modelo bem aceito pela população, essa aceitação seria ideal para sua vida", declara.

Fantasias românticas e sexuais

O público também projeta nas celebridades seus desejos inconscientes de uma relação romântica perfeita, onde tudo é harmonioso. Quando ocorre uma traição ou algo que coloque o relacionamento em risco, os espectadores que acompanham a história de amor se sentem traídos e, a partir daí, começam a tomar partido, como se comprassem a briga pessoalmente, sentindo-se no direito de opinar e criticar, sempre por se identificar com algum componente dessa relação.

Foi o que aconteceu no ano passado com Kristen Stewart e Robert Pattison, astros da saga "Crepúsculo". Adolescentes do mundo inteiro ficaram inconformados com o fato de a garota ter sido flagrada aos beijos com o diretor Rupert Sanders, que era casado. A atriz teve de pedir perdão publicamente ao amado que, depois de um tempo sozinho, decidiu perdoá-la e retomar o romance por um tempo. Esse exemplo ilustra bem a tendência de sempre escolher um dos lados do triângulo amoroso como vilão da história, que vira alvo de revolta por parte do público. Essa prática também é comum nos dramas das pessoas comuns.


A identificação, sempre com um traço de compaixão e apoio, costuma ser maior com quem está sendo (ou parece estar) mais prejudicado. Que o diga Jennifer Aniston, que, mesmo que  estrele produções de sucesso ou viva um belo romance, nunca deixará de ser lembrada como "a atriz que Brad Pitt deixou para ficar com Angelina Jolie".

"Ao se compadecer com o sofrimento daquele que foi traído, a pessoa também se preocupa com si mesma e com o que pode ocorrer no futuro", diz Alexandre Bez, psicólogo especializado em relacionamentos.

Segundo a psicóloga Priscila Fernandes, as pessoas também se sentem apoiadas, acolhidas e até compreendidas quando veem as celebridades enfrentando dilemas parecidos com os delas. A empatia é ainda maior quando os famosos tomam a mesma decisão que elas tiveram de tomar, longe dos holofotes.

O público aprecia saber que os ídolos são "gente como a gente" e também sofrem por amor, apesar da fama, da beleza, do dinheiro ou do sex appeal. "Isso proporciona uma sensação de conforto, pois, por mais que as celebridades sejam pessoas realizadas e popularmente aceitas, têm um lado frágil", diz Priscila Gasparini Fernandes. 

Um bom exemplo foi o que aconteceu com a estrela inglesa Elizabeth Hurley, símbolo sexual dos anos 1990. Seus encantos não impediram que o astro Hugh Grant procurasse –e fosse pego no flagra– os serviços da prostituta Divine Brown.

Os detalhes do episódio –Divine teria sido flagrada fazendo sexo oral em Hugh– provam que quanto mais picantes os pormenores, maior o interesse. Os especialistas lembram que existem pessoas que não têm coragem de realizar determinados desejos e fantasias, como trocar de parceiro sem se importar com o julgamento alheio, seduzir o chefe, levar a amiga da mulher para a cama, mas os colocam em prática através das celebridades. É como se vivessem a vida sexual delas.

Esse comportamento é inofensivo à medida em que as pessoas conseguem separar bem o que faz parte da sua vida cotidiana e o que só pertence mesmo ao universo dos famosos. "Um fator positivo que percebo é que o público vê, através de seus ídolos, que toda ação tem uma reação", diz Priscila.

O problema, segundo a explicação de Alexandre Bez, é que os relacionamentos entre celebridades podem ser permeados por outros fatores além de sentimentos: status, dinheiro, interesses e necessidade. "Alguns traem, são traídos ou fazem de conta que não o são apenas para manter uma determinada imagem".