Saiba quando liberar a menina para usar maquiagem e salto alto
A expressão da vaidade é uma parte importante do desenvolvimento emocional humano, à medida que ela evidencia um senso de cuidado e amor próprio. Desde o começo da infância, por volta dos três anos, algumas manifestações desse sentimento costumam aparecer.
“É nessa fase que as meninas começam a querer usar as roupas e os sapatos da mãe para brincar e demonstram interesse por acessórios de cabelo e maquiagem”, diz a psicanalista Elisabeth Lordello Coimbra, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
A vaidade se torna um problema apenas quando se manifesta de maneira exagerada. De acordo com o pediatra Benedito Scaranci, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), no momento em que a garota insiste em não apenas experimentar, mas usar, no dia a dia, acessórios, roupas e cosméticos que não se adequam à sua idade, os pais precisam intervir.
“Um sintoma de que algo vai mal é a criança deixar de se divertir com brinquedos e brincadeiras típicos da sua idade para começar a se cuidar como uma mocinha”, fala o especialista.
Ao notar esses sinais, a primeira reflexão dos pais deve ser sobre o tipo de conduta que estão estimulando na menina. Isso porque, muitas vezes, sem perceber, são os adultos que incentivam os filhos a cuidarem demais da aparência ou a se comportarem de forma mais madura.
O ideal é que as crianças, mesmo gostando de se arrumar, não deixem de brincar por medo de estragar a produção. “A criança precisa se sentir à vontade sempre. Brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças”, afirma a pediatra Filumena Gomes, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
O que pode e o que não pode
Ao identificar, na criança, uma vaidade exacerbada, cabe aos pais explicar, na linguagem apropriada para a idade dela, que ela ainda não está preparada para realizar atividades de adultos, como trabalhar, cuidar da casa, ficar sozinha ou usar produtos de beleza e salto alto, por exemplo.
“Arrume a criança de forma que ela se sinta bem, com uma roupa e um sapato dos quais ela goste, com peças infantis que a deixem feminina e não neguem sua vaidade. O único ponto é que a produção deve estar de acordo com a idade dela”, fala a psicóloga Claudia Mussa, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Cosméticos
E se a ideia é proteger as crianças, o uso de cosméticos, de forma rotineira, deve ser adiado o máximo possível. Isso porque a pele das crianças é mais fina do que a dos adultos e a absorção cutânea também é maior.
“O uso e a exposição crônica e precoce aos vários componentes químicos presentes em itens de maquiagens, por exemplo, pode desencadear reações alérgicas imediatas ou a longo prazo”, afirma a dermatologista Selma Hélène, coordenadora do Departamento de Dermatologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Segundo a especialista, somente a partir da puberdade, a pele ganha uma barreira mais resistente e o uso desses cosméticos começa a ser liberado.
Em ocasiões especiais, como em festas infantis onde há um camarim para as crianças se arrumarem, pode-se até abrir uma exceção para a pintura da pele, em meninas maiores de seis anos. Isso desde que a maquiagem utilizada seja especificamente desenvolvida para o público infantil.
Esses cosméticos, geralmente, saem com facilidade, bastando usar água, sem a necessidade da aplicação de demaquilantes. Para serem considerados seguros, os produtos destinados às crianças precisam, ainda, atender a outras especificações, como não possuir sabor ou odor fortes.
“O mesmo vale para os perfumes, que também não devem ter álcool”, diz Selma. No caso dos esmaltes, de acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), os permitidos às crianças são aqueles à base de água e que saem sem precisar de removedores, como acetona.
Tinturas e alisamento
“As tinturas de cabelo e as técnicas de alisamento estão proibidas até os 12 anos”, afirma a dermatologista Selma. Os produtos químicos usados nesses processos, geralmente, são derivados de amônia e são altamente tóxicos.
“Produtos de alisamento com uma taxa de formol maior que 0,2% podem causar queda de cabelo, intoxicação por inalação, tosse, falta de ar e até mesmo queimar o couro cabeludo de maneira irreversível”, diz a dermatologista.
Além disso, é preciso levar em conta que essas transformações radicais afetam o emocional da criança, o que é ainda mais delicado quanto mais nova for a garota. Afinal, é preciso considerar que uma criança estimulada a mudar suas características pode vir a se tornar uma pessoa insegura com a própria imagem.
“Em vez de submeter a criança a uma transformação, usando produtos químicos, os pais devem se esforçar para transmitir a ela o conceito de que todos os tipos de cabelo são bonitos. A criança precisa ter sua aparência valorizada para crescer com a autoestima elevada”, diz Filumena.
Também vale sugerir à criança um bom corte de cabelo, que esteja de acordo com o tipo físico dela e que ajude a valorizar o aspecto natural do fio. Autorizá-la a fazer uma escova comum, usando apenas o secador, em datas especiais, é outra solução possível. Por fim, vale usar exemplos de ídolos de sucesso que assumem sua beleza natural para ajudá-la a driblar a insatisfação com a aparência.
Salto alto
“Só a partir da primeira menstruação, quando o estirão de crescimento já ocorreu na menina, o uso de calçados de salto alto está liberado”, diz Filumena. Mesmo assim, o acessório deve compor a produção apenas esporadicamente.
Antes dessa fase, a formação dos ossos, articulações e músculos ainda não está completa e o uso de um calçado inadequado pode trazer danos sérios à saúde. “A criança que usa salto alto desde pequena, de maneira frequente, vai fazer uma pressão maior na parte anterior do pé, o que pode desencadear processos inflamatórios e degenerativos, encurtamento da musculatura da panturrilha e do tendão. Sem falar na sobrecarga das articulações dos joelhos e tornozelos”, afirma o ortopedista pediátrico Fabiano Prata, da Faculdade de Medicina do ABC.
Portanto, o uso de sapatos com salto pode prejudicar o desenvolvimento das pernas, dos pés e afetar a coluna. “A criança ainda apresenta um sistema neurológico imaturo, tem déficit de equilíbrio e coordenação. Por isso, precisa de um calçado firme e estável.”
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