"Vovó" designer aprecia o 'faça você mesmo' e ainda trabalha, aos 84 anos
Certa vez perguntaram a Gere Kavanaugh o que ela mais gostava de projetar e, com um misto de humor e franqueza, a designer respondeu: “Qualquer coisa na qual eu possa colocar a mão na massa”.
Tem sido assim, desde que Kavanaugh teve sua primeira aula de artes, há 76 anos, em Memphis, no Tennessee. Mais tarde, ela se tornaria a terceira mulher a conquistar um mestrado em Belas Artes pela Cranbrook Academy of Art, em Michigan, logo após ter trabalhado brevemente como designer na General Motors.
Kavanaugh deixou a GM para assumir uma vaga no escritório do pioneiro dos shopping centers Victor Gruen, em Detroit, e logo foi enviada pela firma para trabalhar em Los Angeles, onde está há mais de 50 anos.
Nos anos 1960, como designer freelancer, Kavanaugh dividiu espaço no estúdio com Frank Gehry, Deborah Sussman, Don Chadwick e outros eruditos do design da Costa Oeste, que se reuniam num prédio na San Vicente Boulevard.
Ao longo de sua longeva e diversificada carreira, projetou interiores de lojas, casas, relógios urbanos, uma sala de pesquisa para a Biblioteca e Museu Presidencial Nixon, luminárias, têxteis e móveis, entre outras coisas. “Criei bolos de aniversário para a Blum”, conta, referindo-se a uma antiga rede de padarias da Califórnia. “Estava começando. Precisava do dinheiro”, completa.
Na ativa
Ainda cheia de energia, curiosa e aceitando encomendas aos 84 anos, Kavanaugh recebeu recentemente um repórter em seu lar em Angelino Heights, a qual divide com seu cão, Tippy. A designer comprou a casa de dois andares construída em 1906 e a pintou da cor da areia há 25 anos, depois de viver por décadas em uma residência geminada no lado oeste.
“A construção tinha o preço certo e estava um desastre”, resume ela ao modificar o tom de voz para soar como o de Julia Child (culinarista, apresentadora e escritora de livros sobre culinária e retratada no filme Julie & Julia, de 2009) e acrescentar enfaticamente: “Eu a coloquei em ordem, na medida em que tinha o dinheiro e as ideias”.
Como Kavanaugh nunca se casou ou teve filhos, pôde decorar de acordo com suas crenças sobre o que seria um bom design. Embora a designer tenha começado a trabalhar na era (Charles e Ray) Eames, admite ter um fraco por artistas populares, os quais ela chama de “cozinheiros de bistrô” do design. “Eles sabem como criar algo do nada”, justifica.
Talvez por isso, sua casa seja uma vitrine de simplicidade e engenhosidade. Na cozinha, Kavanaugh pendurou cestos de pescaria nas paredes para que funcionem como cestas e achatou latas de azeite para fazer prateleiras. Na escadaria principal, uma luminária devia ter sido coberta com um tecido Nuno, mas quando o padrão foi totalmente vendido, “eu disse: ‘Dane-se isso tudo’! Tinha estes lençóis velhos, então, fiz a luminária a partir de retalhos de roupa de cama”.
“DIY” (“Do It Yourself”, em tradução, faça você mesmo)
Kavanaugh apontou para cada móvel por ela projetado, contando a história por trás das peças. Sobre duas cadeiras de madeira de espaldar alto, na sala, a designer conta: “Estas foram influenciadas pelas mobílias projetadas por (Rudolph) Schindler ( arquiteto austríaco, radicado nos EUA, 1887-1953) – mas sob meu ponto de vista.”
Questionada acerca de uma espreguiçadeira, bonita e feita de madeira ripada, diz: “Ela seria fabricada pela Stendig (fábrica de móveis de NY), mas na época a empresa estava mudando de mãos." A fábrica foi reestruturada, explica, e seu projeto nunca foi produzido. Kavanaugh ainda acrescenta com tristeza: “Minha vida tem várias histórias sobre entressafras de gestões”.
No andar de baixo, as prateleiras estão habilmente forradas com várias coleções (bules, xicaras de chá e funis de lata do México). O andar de cima mostra uma escassez comum em decorações de casas de fazenda. No quarto de Kavanaugh há uma cama, uma cômoda, algumas fotos de seus pais e uma estante elegantemente simples, que ela fez com aço e suportes de papelão ondulado.
Numa pequena sala, do outro lado do corredor, está sua parede “de troféus”, que incluem um recorte de jornal do New York Times mostrando um banco público que ela projetou e uma foto em preto e branco dela com Gehry e o grupo de San Vicente, tirada no início dos anos 1970 para um cartão de Natal.
De volta ao andar de baixo, Kavanaugh relembrou como seus pais haviam notado suas inclinações criativas e a direcionaram. Depois que seu pai a matriculou em uma escola de artes, ela conta: “Ele se virou para mim – eu nunca vou me esquecer deste dia – e disse: ‘Não espero que você faça algo com isso, mas espero que isso enriqueça a sua vida.’ E foi o que aconteceu”.
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