Nos EUA, homens começam a atuar como doula; conheça histórias
Doulas são treinadas para ajudar as novas mães a lidar com os rigores do parto. A própria origem da palavra –em grego, "doula" significa "uma mulher que serve"– parece não deixar dúvida quanto ao gênero: doulas são mulheres.
Conheça David Goldman, 40 anos, de Bellingham, Washington, que é um "doulano".
Goldman foi certificado como doula, no ano passado, pela DONA International, maior órgão certificador de doulas no mundo inteiro. Embora o grupo não mantenha registro de quantos homens completaram o treinamento, representantes da entidade somente conhecem alguns profissionais entre os 8.600 atendentes de parto certificados desde seu lançamento há duas décadas.
A escassez de homens reflete a percepção disseminada de que o papel de doula é visto como trabalho de mulher, mesmo entre muitos que não hesitariam em defender o igualitarismo em outras profissões. Na verdade, o assunto de doulas masculinas costuma atrair ceticismo e, às vezes, críticas mordazes em grupos de discussão online.
Algumas mulheres dizem que a presença de outro homem na sala de parto somente serviria para estressá-las ou a seus maridos. Há quem afirme que somente mulheres que já passaram pela experiência do parto podem agir adequadamente como assistente de parto. As mulheres também são tipicamente vistas como mais protetoras do que os homens, sendo assim mais capazes de atender às exigências emocionas da descrição do cargo de doula.
"Uma discussão recente sobre doulas homens na página da DONA no Facebook demonstrou a sensibilidade acerca do tema, atraindo comentários desrespeitosos atípicos", disse Sunday Tortelli, presidente do grupo e doula em Cleveland, com muitas pessoas, simplesmente, afirmando que "não é adequado".
Entretanto, Sharon Muza, que treinou três homens nos quase oito anos em que vem formando assistentes de parto masculinos, entre eles Goldman (os outros dois decidiram virar parteiros), afirmou que os "homens podem ser protetores, carinhosos, amorosos e ter todas as qualidades que desejamos em uma doula".
Ela também observou que os homens podem ter uma vantagem física. "Eles são fortes de verdade e podem aplicar contrapressão nas costas da mulher ou apoiar alguém que precise ser segurado. É um bônus maravilhoso."
Goldman, que se interessou em virar doula vários anos atrás depois de ser convidado a comparecer ao nascimento do filho de um amigo, já ajudou mais de 15 mulheres durante o trabalho de parto desde que se certificou. Enquanto doula, ele ajuda a grávida a criar um plano de nascimento –conjunto de expectativas de como o trabalho de parto e o nascimento devem acontecer– e fica com a mãe durante esses dois momentos, oferecendo apoio emocional e conforto físico.
Ele consegue clientes da mesma maneira que as doulas mulheres: pelo boca a boca. "Elas dizem: 'eu sei que ele é homem, mas dê-lhe uma chance'."
As mulheres sempre apoiaram umas às outras durante as dificuldades de dar à luz, mas, quando o trabalho e o parto em si se mudaram das casas para os hospitais, quase um século atrás, os médicos –principalmente homens– assumiram a função.
Então, na década de 1970, os médicos John H. Kennell, pediatra, e Marshall H. Klaus, neonatologista, começaram a investigar o efeito do apoio emocional e físico de uma mulher para outra durante o parto.
"A presença de uma mulher positiva e que dá apoio com tranquilidade na sala mudou tudo", disse Tortelli, da DONA International, aberta em 1992 pelos dois médicos e três mulheres –uma doula, uma fisioterapeuta e uma assistente social casada com Klaus.
Desde então, os pais vêm desempenhando um papel cada vez maior durante o parto, massageando os pés das mulheres, dando-lhes pedacinhos de gelo e as incentivando, enquanto as contrações se tornam mais frequentes.
E em outros domínios do parto, o equilíbrio do gênero mudou drasticamente. As mulheres representam a grande maioria das novas obstetras. Em 2012, 83% dos residentes de obstetrícia e ginecologia eram mulheres, contra 31% em 1980, segundo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas. A entidade que certifica parteiras não dispõe de dados similares.
Keith Roberts, 70 anos, de Colorado Springs, Colorado, foi um dos primeiros homens a se formar doula. Ele participou de 176 partos nos 18 anos desde que sua atividade de massagista se expandiu para incluir a massagem em grávidas, por fim levando-o a buscar a certificação como doula, em 2000. Roberts enxerga seu papel como o de aliviar a dor da mulher durante o parto, levando o pai a relaxar e apenas a segurar a mão da parceira.
"Em quase todo parte, o pai termina falando 'ainda bem que você estava aqui'. Existe outro homem com eles, então não fica cercado por mulheres e, talvez, um médico que chega só final e finaliza," relata.
Mesmo assim, o mercado para doulas como um todo, homens ou não, continua pequeno. Menos de dez por cento das mulheres contratam doulas, cujo trabalho não costuma ser coberto pelo seguro-saúde.
Em julho, Goldman, que acompanha cerca de um parto por mês e cobra até US$ 850 por nascimento, trabalhou como doula de Jenn Mason durante um nascimento planejado em casa, administrado por uma parteira. Quando o trabalho de parto se complicou, Mason foi levada às pressas para o hospital, onde passou por cesariana, com a filha nascendo sem problemas.
No hospital, Goldman insistiu com as enfermeiras céticas de que ele fizesse sua assepsia caso tivesse de se juntar a Mason na sala de cirurgia, o que aconteceu assim que o marido saiu para cuidar do neném.
"Eu não sei o que eu faria se o David não estivesse comigo. Meu marido e eu fazíamos piadas de que ele ficaria tão nervoso que iria desmaiar em um canto, assim ele ficou contente de que outro cara pudesse intervir," contou Mason.
No mês passado, Goldman resolveu intervir novamente. Dessa vez mais perto de casa, em seu próprio quarto. No começo de novembro, atuou como doula quando a noiva deu à luz sua filha.
"Eu fiquei muito agradecido pela minha experiência, que me permitiu empregar minha intuição e ser muito presente. Não havia ansiedade. Não precisei procurar ninguém para me tranquilizar."
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