Bolha de sabão e remédio dão forma a luminárias expostas em museu suíço
Ela está em todas as partes transformando ambientes escuros em espaços visíveis, destacando os detalhes de prédios públicos, criando atmosferas e, até mesmo, alterando nossos humores.
Se em tempos de extrema dependência tecnológica é quase impossível imaginar a vida sem a iluminação artificial, em certos endereços a luz deixa de ser apenas um item de necessidade básica para assumir o status de obra de arte. É o que acontece na Lightopia, exposição em cartaz no Vitra Design Museum, considerado um dos mais importantes espaços dedicados ao design (de interiores) do mundo, em Weil am Rhein, cidade próxima à fronteira entre a Suíça e a Alemanha.
A mostra conta com 300 obras da coleção de luminárias da instituição que ainda não haviam sido expostas. Em quatro salas estão peças assinadas por nomes como o dinamarquês Verner Panton (1926-98), conhecido pela cadeira sinuosa que leva seu sobrenome; o designer industrial italiano Vico Magistretti (1920-2006); e ícones que mudaram a forma de se desenhar luminárias para a leitura, como a “Anglepoise” que se estrutura em braços articulados por molas que permitem o movimento sem a perda de equilíbrio (algo bastante normal, hoje em dia, mas revolucionário para a década de 1930), criada pelo britânico George Carwardine (1887-1948).
Além do abajur
Em Lightopia, a luz também ganha força performática em instalações artísticas e interativas como a “Developing a Mutable Horizon” (Desenvolvendo um Horizonte Mutável, em tradução literal), do artista Chris Fraser, onde é possível desenhar nas paredes a partir de feixes e da “elasticidade” da luz; ou em clássicos como a réplica de uma obra de 1922, assinada pelo fotógrafo húngaro László Moholy-Nagy, na qual luz e movimento criam diferentes projeções quando o visitante toca o botão de início.
A principal proposta da exposição é mostrar aos visitantes como o design cotidiano pode ser moldado pela luz artificial, tanto em espaços públicos como residenciais, além de apresentar as luminárias como elementos de decoração e arte.
E talvez este seja o maior interesse de que quem visita a exposição: as luminárias atuais de design arrojado que, embora nem sempre caibam no orçamento, são capazes de captar os visitantes por alguns longos minutos. Incomuns e instigadoras, as peças podem ser inspiradas em uma lágrima (“Jingzi”, dos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron, prêmio Pritzker de 2001) ou em pílulas luminosas que saem de caixas de remédio (“Bora Bora Sunlight Pills”, do estúdio francês Vaulot & Dyèvre) e até mesmo se basear nas bolhas de sabão (“Surface Tension Lamp”, da Front Design, indicada ao prêmio anual do Museu de Design de Londres).
"Hilights" da visita
A viagem visual pelo mundo das luzes começa na sala Viver em Lightopia, espaço dedicado à discussão sobre o uso da luz em nosso cotidiano. Na pauta da primeira "parada" estão temas como a dependência da luz, as inovações tecnológicas e suas consequências negativas, como o alto consumo dos recursos naturais e a poluição visual.
Com 1,6 bilhão de pessoas sem acesso à luz elétrica no mundo, segundo os organizadores da exposição, a sala impressiona pelo conjunto de fotos que registram a improvisação em certos lugares isolados como as garrafas pet usadas para iluminação, nas Filipinas, e os comerciantes de um mercado do Marrocos que recorrem à perigosa ideia de iluminar seus produtos com o auxílio de um botijão de gás.
Na segunda sala, Ícones do desenho da luz, 50 peças contam a história da lâmpada e das luminárias. Nesta etapa é possível ver alguns exemplares conhecidos, como o abajur 'Wagenfeld' (1923) – também conhecido como “Bauhaus Lamp” – assinado por Wilhelm Wagenfeld.
A exposição segue pelo ambiente Cor, espaço e movimento, cujo foco é a própria luz e sua capacidade de criar ambientações. A proposta desta sala é uma viagem a partir dos espetáculos com fogos artificiais como do "Palais de l’Electricité", da Exposição Mundial de Paris, em 1900. Aqui, a luz usada como manifestação de poder pelos nazistas e sua aplicação no cinema experimental de Hans Richter, nos anos 1920, também são relembrados.
No segundo andar do edifício, o visitante encontra a última seção, A luz no futuro, onde se vê diante de questões como o uso criativo da luz, propostas promissoras como o sistema OLED e suas influências na sociedade moderna, sobretudo no Ocidente. É neste espaço que estão também diversas instalações (algumas delas interativas) como a obra 'Rope' (2011) de Christian Haas que alia design e fonte de luz em um cordão iluminado.
Vitra Design Museum
Embora esteja em território alemão, o museu é suíço e fica a meia hora da Basileia, cidade conhecida por sua qualidade arquitetônica e considerada a capital cultural da Suíça. Fundado em 1989, o Vitra é considerado um dos mais importantes museus de design do mundo e abriga uma coleção com peças como a "Cadeira de Jardim" (1820) de Karl Friedrich Schinkel, em ferro fundido; a chaise de ajuste contínuo "B 306" (1928) de Le Corbusier, além da famosa (e já citada) "Cadeira Panton" (1957), de Verner Panton.
Serviço – Lightopia
Onde: Vitra Design Museum (Charles-Eames-Straße, 2 - Weil am Rhein, Alemanha)
Quando: até 16 de março de 2014 (diariamente das 10h às 18h)
Informações: design-museum.de
Como chegar ao museu?
Para quem vai em trasporte público a partir da Basileia, na Suíça: tome um ônibus na Badischer Bahnhof. A viagem dura menos de 20 minutos até o Vitra. De carro, use a Autobahn A5 (estrada local) e pegue a saída para Weil am Rhein, cidade já em território alemão.
Não deixe de levar seu passaporte, para possíveis controles de imigração na fronteira. Caso esteja hospedado na Suíça, providencie euros a serem eventualmente gastos em território alemão, uma vez que a Suíça não faz parte da Comunidade Europeia e tem o franco como moeda oficial.
* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a convite do Switzerland Tourism (www.myswitzerland.com)
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