Em casa ou no trabalho, bagunça causa estresse e distração
Por causa de uma mudança feita às pressas e sem planejamento, a empresária Juliana Reis morou por alguns meses em uma casa nova tomada pelas caixas. "Metade do meu guarda-roupa estava fora do lugar e o caos me atrapalhava. Eu não encontrava nada do que precisava. Não conseguia fazer nenhuma tarefa direito, porque começava uma coisa e a bagunça me levava a fazer outra", conta.
A dificuldade que Juliana sentiu em se concentrar nas atividades exemplifica o resultado de um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, o excesso de estímulo visual, como o da bagunça, atrapalha a nossa capacidade de prestar atenção em uma atividade só.
O estudo foi realizado graças a uma parceria entre o Instituto de Neurociência e o Departamento de Psicologia da universidade e mostrou que o ambiente bagunçado também limita a capacidade do nosso cérebro de processar informações e guardá-las na memória. Essa condição leva ao estresse, à distração e à irritação.
Esses eram os sintomas que a empresária Juliana percebia ao procurar uma roupa para ir trabalhar. Com metade das peças em caixas, ela até tentava encontrar uma blusa que combinaria com a calça, mas surgia uma saia no meio e ela acabava se esquecendo da tal blusa. O que ficava era a frustração e o cansaço quando o dia estava apenas começando.
"Em um guarda-roupa bagunçado, a gente olha, mas não consegue encontrar com facilidade aquilo que procura. Se, ao contrário, estiver tudo arrumado, é só bater o olho que o cérebro já localiza e decide o que vestir. É uma economia de energia cerebral que pode ser aproveitada em outras atividades do dia a dia", compara.
"Quanto mais estímulo visual, mais dificuldade o cérebro vai ter de se concentrar no que é mais importante na ocasião. Não precisa nem ser o ambiente de trabalho todo. A mesa já pode ser suficiente para atrapalhar", diz o psiquiatra Duílio Antero de Camargo, coordenador do Grupo de Saúde Mental e Psiquiatria do Trabalho do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Mesmo que existam pessoas que digam "da minha bagunça eu entendo" ou "eu sei onde está qualquer coisa que precisar", o psiquiatra explica que, como o ambiente de trabalho é coletivo, mesmo que a sua bagunça não atrapalhe o dono dela, o colega ao lado pode ser prejudicado sem se dar conta disso.
Ele fala, ainda, que essa perturbação não se limita a encontrar um objeto específico no meio da desordem, mas o fato de que a bagunça em si é o que causa da poluição visual e, consequentemente, da distração.
Ordem na bagunça
"Mesmo ainda estando no meio do meu processo de reorganização, saber onde está cada coisa já facilita e me livra do estresse matinal ao me vestir. Hoje, consigo bater o olho e saber tudo o que tem no armário e saber o que eu quero".
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