Para desmame ser tranquilo, mãe tem de estar segura da decisão
A rotina de alimentação da criança inclui bem mais do que o leite materno há tempos, mas ela ainda mama no peito. Como fazer para que o fim da amamentação não seja sofrido para mãe e filho? Segundo os especialistas ouvidos pelo UOL Gravidez e Filhos, o desmame deve ser encaminhado da forma mais natural possível e acontecer gradualmente, lembrando que a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda a amamentação exclusiva até os seis meses e, complementada por outros alimentos, até, pelo menos, os dois anos.
“Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, explica que tudo o que é bom chega ao fim. Faz parte da coisa boa que ela se acabe, e isso inclui o aleitamento materno. A base do desmame é uma boa experiência de amamentação. É importante que a mãe tenha consciência que, com o passar do tempo, a criança cresce e não precisa mais do leite que ela fornece. Além do mais, ela tem outros interesses e precisa ir além desse mundo, conquistar outros espaços”, diz Cynthia Boscovich, psicóloga clínica, psicanalista, membro regular da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana e autora do site Cuidado Materno.
Para Cynthia, a mulher precisa estar atenta aos sinais que a criança dá demonstrando estar pronta para ser desmamada: já não tem mais paciência para ficar no colo mamando, não pede com insistência o peito, adormece sem mamar...
Também é fundamental que a mãe se observe emocionalmente. A amamentação é um elo muito forte que ela mantém com a criança. Não raro ela dá sinais de que não quer mais o leite materno, mas, mesmo assim, muitas mulheres insistem, pois para elas é difícil romper essa ligação.
“É necessário estar segura de si para que o desmame seja bem-sucedido. Algumas mães não querem desmamar porque sentem dificuldade de aceitar que o filho está crescendo e se tornando independente, mas isso é a vida. Quanto mais independente e segura a criança crescer e viver essa fase, maiores serão as chances de se tornar um adulto seguro e autônomo.”
Na prática
A psicóloga recomenda planejar o término da amamentação, aproveitando que, naturalmente, está ocorrendo a introdução de novos alimentos. A mãe pode, em paralelo, diminuir ainda mais o número de mamadas (que já estarão reduzidas, pois a criança tem outras fontes nutritivas), até chegar um momento que não será mais necessário o aleitamento.
Também é produtivo estabelecer combinados com a criança, por exemplo, uma mamada somente antes de dormir. Cynthia diz que é essencial estipular uma rotina e não voltar atrás nas decisões para não correr o risco de confundir o filho. Pode ser que ele sofra um pouco no início, demore a se acostumar, chore mais, fique irritado, tenha dificuldade para adormecer, peça para mamar fora dos combinados, diminua o interesse por comer... “Essas são formas de ressentir o desmame. Faz parte do processo, O que resta à mãe é esperar e ajudar o filho. Não é uma tarefa fácil e requer paciência”, fala.
A enfermeira obstetra Lilian Cordova do Espírito Santo, professora da Escola de Enfermagem da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com pós-doutorado em aleitamento materno, endossa a recomendação de que a amamentação não seja interrompida bruscamente.
Para tanto, uma sugestão de Lilian é retirar e estocar leite materno após cada mamada. Assim, quando a retirada do peito começar, o alimento poderá continuar sendo oferecido à criança. “Com o passar do tempo, as mamas serão menos estimuladas e então o corpo vai produzir menos leite, até cessar”, diz.
Lilian ainda explica que, ao observar que a criança não requisita mais o leite materno, se a mama estiver cheia, a mulher não deve insistir em oferecer o peito. “Ela pode retirar o leite e oferecê-lo em um copo mais tarde. Não recomendo o uso da mamadeira para evitar o desenvolvimento de problemas respiratórios.”
De acordo com Roberto Mario Silveira Issler, consultor internacional de aleitamento materno do IBLCE (International Board of Lactation Consultant Examiners) e professor de pediatria da Faculdade de Medicina da UFRGS, o desmame não deve ser encarado como a interrupção do aleitamento materno e, sim, como a introdução de outros alimentos na dieta da criança.
Lilian e Issler concordam sobre os combinados com a criança: quanto mais ela participar do processo, compreender o que está acontecendo –e não ser enganada–, melhor e mais tranquilo o percurso.
Carolina Pacheco, mãe de Lucas, iniciou o processo de desmame quando ele completou dois anos. “Comecei a sentir vontade de dar alguns limites para ele, então, passei a limitar mamadas fora de casa ou quando sentia que ele só estava pedindo o peito por falta do que fazer. Evito também de ele mamar perto das refeições, a não ser que sinta que ele realmente está precisando emocionalmente. Ele não reclama porque explico que logo vamos comer”, diz.
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