Apê de arquiteto em Nova York traz obras de arte e peças coloridas
Se você estudar o trabalho residencial de Allan Greenberg, com aquelas varandas e suas colunas, as janelas no estilo palladiano, os projetos paisagísticos formais, com estábulos e grandes passeios; você esperaria encontrar o próprio arquiteto vivendo em vizinhanças igualmente clássicas, talvez nas planícies da Virgínia ou entre os grandes investidores de Connecticut.
No entanto, o homem que certa vez o New York Times chamou de “mestre do classicismo literal” mora num prédio daqueles genéricos, recentemente construídos e com os quais os construtores sem imaginação têm preenchido o horizonte de Manhattan nos últimos anos. Ele divide um apartamento de 93 m² de um quarto, banheiro e lavabo com sua esposa, a pintora abstrata Judith Seligson.
“Frank Lloyd Wright sempre viveu em ambientes que ele projetou porque eram ferramentas de vendas”, disse Greemberg, de 75 anos. “Não sinto necessidade de fazer isso. Eu gosto de estar rodeado pelas ruas da cidade e pelo ar poluído”.
Enquanto seu trabalho como arquiteto é realizar os sonhos de seus clientes, seus próprios sonhos domésticos não envolvem a vida aristocrática do campo que tantas de suas casas sugerem.
“Eu gosto de viver num ambiente menos suntuoso ”, disse Greemberg. “Não quero colecionar mobília do século 18 ou algo do gênero. Minha ideia de paraíso é uma casa ou apartamento no qual você viva cercado de arte”.
Com este propósito, o casal comprou um apartamento comum há oito anos, por US$ 1,6 milhões, atraído pelas janelas em três lados da residência, por sua vista frontal da entrada da ponte Queensboro e pela oportunidade, como primeiros ocupantes, de customizar o apartamento padrão. Assim, usaram o espaço como galeria de arte e laboratório de design.
“Quando nos mudamos, era o parquinho do Allan”, disse sua mulher Seligson, de 63 anos. “Ele se desenvolveu de diversas maneiras”.
Greenberg citou como exemplo uma despensa, que fica na área aberta da cozinha ligada à sala de estar. “Eram quatro portas de aço realmente insípidas”, disse. Elas foram pintadas num padrão vibrante que Seligson desenvolveu em parceria com o marido.
Leitor voraz, Greenberg também construiu prateleiras na bancada de café da manhã e acrescentou uma pequena mesa para direcionar sua visão para longe dos eletrodomésticos.
Onde não há janelas, as paredes e outras superfícies estão cobertas pelas pinturas de Seligson. Uma coluna de sustentação de concreto num canto da sala de estar foi disfarçada com uma de suas obras de arte textuais. Uma customizada estante no quarto está repleta de trabalhos menores.
Algumas das mudanças que eles fizeram são quase imperceptíveis, como o mecanismo de madeira em uma porta do closet ou a iluminação embutida sobre a cama, enquanto outras são dramáticas.
A filha de Greenberg, a ceramista Ruth Frances Greenberg, criou um mosaico de pastilhas, que formam rosas, pássaros e treliças, e cobrem as paredes e o teto do lavabo. O chão é feito de azulejos de vidro impresso com a imagem de grama. “Você se sente como que em um jardim inglês”, disse Greenberg.
De vez em quando um experimento dá errado, como quando eles pintaram as paredes do quarto e o armário com o padrão de um tabuleiro de xadrez, em verde. Segundo Greenberg, a inspiração veio de um designer francês que usou quadrados de mármore para decorar uma parede. “Eu me perguntava como aquilo ficaria se fosse pintado”, disse. “Mas é um exagero”.
Até mesmo quando um experimento dá errado, o casal concorda que isso seja parte da alegria de viver numa casa que serve como laboratório de design mutante.
“Eu quero um espaço que me permita fazer as coisas que mais amo”, disse Greenberg. “Que são: ser arquiteto, ler e escrever sobre arquitetura e admirar obras de arte”.
Na verdade, no lavabo, ele disse que está pensando em se livrar do azulejo e “instalar grama artificial”.
Seligson riu e disse: “por favor, amarre as mãos dele atrás das costas”.
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