Identifique sinais de que o celular está atrapalhando a sua vida
Quantas vezes por dia você checa o seu celular? Em todos os lugares, é possível ver pessoas que não largam o aparelho para nada, nem para comer ou assistir a um filme no cinema. Há poucos anos, a primeira coisa que se costumava fazer pela manhã era escovar os dentes ou lavar o rosto. Agora, o mais comum é verificar as notificações do smartphone antes mesmo de sair da cama.
Uma pesquisa, realizada no ano passado pelo aplicativo Locket, que paga aos usuários nos Estados Unidos para exibir publicidade na tela de abertura do celular, revelou que, em média, as pessoas checam o aparelho 110 vezes por dia. Outra estatística, apresentada pela Nokia em 2010, apontava para 150 checagens diárias.
Esse hábito de não desgrudar do celular pode ser considerado uma forma de dependência. Entretanto, o problema ainda não é classificado como uma doença catalogada entre os transtornos mentais. Nem por isso deixa de trazer consequências para os usuários mais inveterados.
"A pessoa perde a capacidade de concentração, não consegue estar inteira e atenta ao momento porque fica pensando no que será que está acontecendo", diz Dora Sampaio Góes, psicóloga do Grupo de Dependências Tecnológicas, ligado ao Instituto de Psiquiatria do HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São Paulo).
Dora observa que ainda não se sabe quais serão os efeitos dessa dependência em médio e longo prazo, porém chama a atenção para a dificuldade que algumas pessoas já apresentam em se aprofundar nos assuntos ou ler um livro.
Apesar de muitos acreditarem que a utilização excessiva do celular desencadeia ansiedade nos usuários, a psicóloga explica que o processo é inverso. "Essas pessoas já têm propensão à ansiedade. Não é a tecnologia em si que traz problemas para a gente, ela apenas revela", afirma.$escape.getHash()uolbr_quizEmbed('http://mulher.uol.com.br/comportamento/quiz/2012/08/20/voce-e-viciado-em-internet.htm')
Tratamento
Apesar de impactar na maneira como vivemos e nos relacionamos nos dias de hoje, o psiquiatra Aderbal Vieira Junior, responsável pelo setor de tratamento de dependências de comportamentos do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes) do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), acredita que o uso excessivo de celular não acarreta transtornos graves.
"É uma forma de dependência leve, mas mesmo que seja caracterizada como tal, dificilmente a pessoa busca tratamento", esclarece.
Contudo, o psiquiatra percebe consequências negativas desse comportamento, que considera mais como um abuso da tecnologia do que uma dependência propriamente dita. "Tem um grau de empobrecimento existencial. As pessoas estão se relacionando menos porque estão muito concentradas no mundo virtual", diz.
A psicóloga norte-americana Kimberly Young, responsável pelo primeiro programa de reabilitação com internação para dependentes de internet dos Estados Unidos, concorda que o problema ainda não requer tratamento médico. "Penso que nós damos mais atenção aos nossos aparelhos móveis do que deveríamos, mas não é caso para tratarmos clinicamente".
Kimberly conta que a reabilitação para os dependentes tecnológicos começou no ano passado por causa do aumento da procura de pacientes por tratamento com internação. "Funciona da mesma forma que uma reabilitação para dependentes de drogas", explica. O programa recebe pessoas adictas à pornografia, compras online, jogos e redes sociais.
Para saber se o uso do celular está indo além do limite, a psicóloga Dora Sampaio afirma que é preciso analisar se o comportamento interfere nas atividades cotidianas e traz prejuízos para a vida do indivíduo. "Um dos sinais é quando a pessoa tenta diminuir o uso, mas não consegue", alerta.
Falta de interação
A reclamação mais comum nos dias de hoje é que as pessoas não interagem porque ficam o tempo todo no celular. O desenvolvedor web Daniel Oshiro, 27, morador de São Paulo, um usuário intensivo de smartphone (ou "hard user", como ele mesmo se define), não acredita que a culpa seja do aparelho.
"Alguns amigos não gostam, dizem que não participo muito. Mas sou bastante introvertido, então, com celular ou sem, não acho que vou me comunicar mais com eles", diz.
Daniel chega a carregar a bateria do celular três vezes no mesmo dia e dificilmente fica mais do que 30 minutos sem checar o aparelho, com exceção da noite, em que programa seu smartphone para não tocar nem vibrar das 23h às 6h.
O desenvolvedor não concorda com quem o critica, dizendo que ele perde detalhes da vida. "O que as pessoas não entendem é que normalmente não estou 100% imerso no celular. Como usei o aparelho boa parte da minha vida, consigo olhar coisas no telefone e participar da conversa", defende-se. Mas confessa que às vezes vai para o smartphone porque o tema da discussão não o atrai. "Se o assunto na mesa está interessante, não mexo no celular", revela.
Pegar o smartphone para fugir da conversa ou da reunião chata, procurar a última piadinha ou olhar quem comentou o post na rede social são maneiras instantâneas de perseguir o prazer. "Todos temos essa tendência. É uma característica do ser humano buscar o prazer mais imediato, rápido e menos trabalhoso possível", diz o psiquiatra Aderbal Vieira Junior.
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