Passivo-agressivo é crítico demais; avalie se é o seu caso
Pense em uma pessoa pessimista, que critica figuras de autoridade –como chefes, pai e mãe– sem um motivo sensato. Quando é obrigada a fazer uma tarefa que não gostaria, em vez de falar sobre sua insatisfação ou de aceitar que não há escolha, adia aquele dever ou o realiza com pouca competência. Mas, se lhe perguntarem o motivo, não assumirá a responsabilidade pela falha, se fará de vítima, como se os outros é que estivessem exigindo demais dele.
Você classificaria alguém com esse perfil como chato, irresponsável e imaturo? Pois saiba que esse é um comportamento que vem sendo estudado pelos profissionais da psicologia e da psiquiatria e que foi classificado como passivo-agressivo.
"Uma das características dessas pessoas é a grande dificuldade de expressar claramente um descontentamento", explica o psiquiatra Rodrigo Leite, coordenador dos ambulatórios do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo). "É isso o que os leva a manifestar comportamentos opositores de maneira indireta, por meio de teimosia, rancor, atrasos constantes e procrastinação", afirma.
Essas atitudes, bastante típicas, também estão ligadas a uma relutância em ser controlado e em seguir regras, conforme explica a psicóloga Carla Cristiane Presutti dos Santos, especializada em terapia cognitivo-comportamental pela USP. "O passivo-agressivo tem uma necessidade imensa de manter a sua liberdade. Por isso, se torna, muitas vezes, inflexível e apresenta dificuldade de se adaptar a ambientes sociais e profissionais", diz.
Apesar do nome que receberam da comunidade científica, essas pessoas raramente se tornam agressivas por conta da dificuldade de manifestar os sentimentos. Mas, segundo o psiquiatra, o comportamento pode vir acompanhado de outros transtornos de personalidade, como os de humor, os ansiosos –a exemplo da fobia social– e depressão.
A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, também pode desencadear um comportamento passivo-agressivo, de acordo com Leite. "Até pessoas que estão passando por algum estresse situacional no ambiente de trabalho, por exemplo, podem se tornar indolentes, pouco colaborativas, procrastinadoras e sabotadoras", diz.
O prejuízo é total
Uma pessoa passiva-agressiva provavelmente terá sérios problemas de relacionamento, seja no âmbito pessoal ou profissional. Por serem pouco cooperativas, algumas sequer conseguem permanecer por muito tempo em um emprego ou em um determinado círculo social.
“Alguém que não obedece regras deliberadamente, que se opõe à realização de tarefas, que se sente incompreendido e desvalorizado o tempo todo dificilmente terá relacionamentos duradouros”, explica Carla Cristiane.
No trabalho, alguém com esse comportamento pode prejudicar a eficiência de toda a equipe. Já nos relacionamentos sociais e afetivos, a inflexibilidade, a falta de compromisso e o mau humor é que o transformam em alguém difícil de conviver. “Essa pessoa também se desgasta emocionalmente, porque sofre com a própria negatividade e com o seu padrão derrotista", afirma a psicóloga.
Sob controle
Quem cala os sentimentos dessa maneira pode ter herdado esse modelo da família. “Essa pessoa pode ter se tornado inibida porque algum parente era violento demais, por exemplo”, diz Rodrigo Leite. Qualquer que seja a origem do problema, o importante é que seja controlado. E o primeiro passo é identificar os traços característicos dele.
“A pessoa poderá perceber que há algo de errado à medida que começa a perder amigos, namorados e empregos. É nesse momento que muitas se deprimem e procuram ajuda”, diz a psicóloga Miriam Barros, psicodramatista formada pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
O tratamento pode ser feito com sessões de psicoterapia e, em alguns casos, é necessário adotar medicamentos, prescritos por um psiquiatra. O médico vai avaliar se há outros problemas psíquicos que possam estar estimulando o comportamento.
“É preciso deixar bem claro que uma pessoa deprimida pode apresentar traços passivo-agressivos pela alteração de humor, e isso é mais fácil de reverter. É diferente de alguém que é passivo-agressivo crônico. Nesse caso, o tratamento pode persistir por tempo indeterminado”, diz Rodrigo Leite.
No processo psicoterapêutico, haverá o treinamento das habilidades sociais, da comunicação e do manejo da raiva, diz Carla Cristiane. “Familiares e pessoas muito próximas também recebem orientações a respeito de como lidar com ela e auxiliá-la em seu tratamento diário”, afirma.
A ideia é que, com o tempo, o passivo-agressivo se torne capaz de identificar os inúmeros gatilhos que desencadeiam comportamentos típicos do transtorno e que possa assumir o controle das próprias emoções, sem medo de manifestá-las explicitamente.
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