Para o recém-nascido, um pouco de colo pode ajudar a dormir
O livro “Nana, Nenê” (Martins Fontes), de Sylvia de Bejar e Eduard Estivill, foi considerado a bíblia dos pais desesperados por uma noite inteira de sono. Nele, entre outras técnicas, indicava-se deixar o bebê adormecer sozinho no berço e não atendê-lo imediatamente em caso de choro. Na atualidade, o recomendado pelos especialistas é ensinar a criança a dormir aos poucos, sem atitudes extremas. Na nova linha, até um pouco de colo está liberado em alguns casos.
Deixar o filho chorar no berço até parar para que, assim, ele “se acostume” a ficar lá e durma é sinônimo de abandono, de acordo com Monica Picchi, neonatologista e pediatra no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A criança para de chorar e acaba adormecendo devido ao cansaço extremo, provocado pelas lágrimas.
Para que o bebê aprenda a pegar no sono –sim, é algo que se aprende tal como andar–, sem precisar de colo, existem táticas que exigem persistência da família. “Os pais não devem criar associações indevidas para estimular o sono dos filhos, como embalá-los no colo ou dar uma volta de carro”, diz José Hugo de Lins Pessoa, professor titular de pediatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí e membro do Núcleo Permanente de Estudos sobre o Sono da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
O especialista defende que o normal é que as crianças durmam naturalmente. “Problemas de sono são culturais”, fala. Se isso é feito, ao acordar, ela vai procurar o último estímulo que recebeu. “Se tiver sido embalada, vai querer isso novamente”, diz Derblai Sebben, clínico geral antroposófico de São Paulo, especialista em ritmos biológicos e medicina do sono.
Deixar a criança no berço, já sonolenta, para que adormeça por si é uma das táticas. Nesse caso, Monica fala que ter os pais por perto é fundamental. Se o bebê começar a chorar, é importante que eles demonstrem que estão por lá, falando em voz baixa ou até mesmo pegando-o um pouco no colo.
Pessoa, da SBP, recomenda esperar entre três e quatro minutos até que o choro cesse. “O importante é não voltar atrás ou desistir. Ensinar isso aos filhos pode levar dias. Por isso, sugiro que as tentativas comecem em um fim de semana, com o pai e a mãe da criança a fim de encarar o desafio, sem a preocupação de ter de acordar cedo no dia seguinte para trabalhar”, diz a pediatra Mônica, do Einstein.
Objeto de apego
No caso de crianças a partir de um ano, um bom jeito de ensiná-las a adormecer sozinhas é elegendo um objeto de apego, como um ursinho de pelúcia, que ficará com ela no berço. Ao adormecer e acordar –no meio da noite ou pela manhã–, ela encontrará o brinquedo e se sentirá mais segura.
Para recém-nascidos, Monica diz que o colo está liberado, pois eles se acalmam e adormecem bem ouvindo o coração da mãe bater. “Mas assim que adormecerem, devem ser colocados imediatamente no berço.”
Pessoa, no entanto, fala que nem isso deve ser feito. Já nos primeiros dias de vida, os bebês devem dormir sozinhos, seja no próprio quarto ou no dos pais (mas nunca na cama com eles). “Isso não quer dizer que os adultos estejam negando carinho para a criança.”
O costume da cama compartilhada não é consenso entre os pediatras também. Muitos, como Monica e Pessoa, explicam que, com esse hábito, a tendência é que as crianças tenham dificuldade de dormir sozinhas com o passar do tempo.
No entanto, os pediatras que endossam a prática, como Carlos Gonzalez, médico espanhol e fundador da Associação Catalã de Amamentação, defendem que cada família tem de ter liberdade para dormir como achar melhor.
Rotina
Embora discordem em vários pontos sobre a hora de dormir, os especialistas têm a mesma opinião em um aspecto: criar e manter uma rotina de sono é muito importante. Ao perceber que o ritmo e o horário de dormir sempre seguem o mesmo padrão, as crianças ficam mais calmas para adormecer.
Para o sono da noite, a pediatra do Einstein recomenda um banho relaxante –na banheira ou no ofurô para bebês– e que o ambiente seja preparado com luz baixa e silêncio. “A água do banho pode ser enriquecida com um chá de camomila bem concentrado.”
Pessoa ainda ressalta a importância de o ritual ser feito fora do quarto da criança e que o berço ou a cama seja usado exclusivamente para dormir. “Não para brincar nem para ficar de castigo. É para dormir e só.”
Evidentemente, às vezes, a rotina do sono será quebrada, por causa de um compromisso dos pais ou por um dia cheio de cólicas da criança. Quando isso acontecer, nada de pânico. Aquela noite pode até ser mais tumultuada, mas se, no dia seguinte, o ritmo for retomado, tudo tende a entrar nos trilhos.
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