Quebrar a cara é fundamental para que o adolescente amadureça
Por mais que seja papel dos pais orientar o adolescente, muitas vezes, ele só vai aprender a lidar com certas situações se a ele for permitido vivenciar as consequências de atitudes ou comportamentos errados, o que não significa deixá-lo sem orientação e supervisão.
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“A educação familiar deve ser sempre construtiva. Porém, se os pais já mostraram como se faz, e o adolescente ainda assim teima em fazer de outro jeito, é preciso deixá-lo viver, experimentar”, declara a psicopedagoga Teresa Messeder Andion, diretora da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia).
A psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro “Criando Adolescentes em Tempos Difíceis” (Editora Summus), concorda. “Crescer envolve sofrimento, porque muitas coisas a gente só aprende quebrando a cara. Com os adolescentes, não é diferente.”
A experiência do sofrimento é importante para formar indivíduos mais flexíveis, que entendam que nem tudo acontece da maneira desejada ou imaginada. Por isso, deixar o filho viver determinadas situações, ainda que os pais saibam de antemão que isso lhe trará insatisfação depois, faz parte do processo de educar.
“A superproteção cria adolescentes mimados, que pensam que vão conseguir as coisas sempre à sua maneira. Esses jovens, quando escutam um ‘não’, ficam desorientados”, diz a psicóloga infantil Renata Yamasaki, especializada em psicopedagogia pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Autoconfiança
Segundo os especialistas, deixar o adolescente passar pelas consequências das próprias escolhas, sem amenizá-las, é uma maneira de formar adultos autoconfiantes e realizados. “Se os pais protegem o filho a qualquer custo, inclusive agindo por ele, aumentam as chances de que o jovem se torne um adulto dependente e, provavelmente, infeliz”, diz a psicóloga Elizabeth.
“Existe, ainda, o risco de que o adolescente culpe os pais por não ter conseguido alcançar o que desejava, justificando com o argumento de que foi podado demais pela família”, fala Renata.
É claro que essa filosofia não se aplica quando o filho arrisca a própria integridade física, como no caso de se envolver com drogas, praticar sexo sem preservativo ou ainda dirigir perigosamente. Nesses casos, os pais devem intervir, com firmeza.
“O adolescente tem uma coisa chamada onipotência juvenil, representada, na prática, por uma certeza de que nada de ruim acontecerá com ele. Cabe aos pais ponderarem isso, impondo limites”, afirma Elizabeth.
Sofrer por ter escolhido a pessoa errada para se envolver em um relacionamento, ficar de recuperação porque não estudou durante o ano e perder um emprego por falta de responsabilidade são exemplos de consequências que o adolescente receberá em virtude de suas escolhas equivocadas. E a frustração por ter cometido esse tipo de falha deve ser vivenciada pelo jovem, sem muita influência dos pais, para que ele realmente consiga amadurecer e se tornar mais forte.
O caminho do equilíbrio
O desafio dos pais, portanto, é encontrar o meio-termo entre a superproteção e a omissão, agindo de maneira a manter o equilíbrio entre o ponto de vista deles e o do filho e, sempre que possível, favorecendo o consenso.
“Para saber quando é preciso intervir ou não, analise o grau de sofrimento e de improdutividade do adolescente diante da situação. Além disso, avalie o quanto é custoso para você, como adulto, conviver com aquele cenário”, afirma Elisabeth.
Para a psicopedagoga Teresa Messeder Andion, cabe aos pais provocar um diálogo com o adolescente, ajudando-o a enxergar além do próprio umbigo. “Os pais devem falar o que não gostam, apontar que aquele tipo de comportamento não é aprovado pela família e dizer o porquê. Mas o ideal é que o filho faça uma avaliação posterior sozinho e chegue à conclusão de que aquilo não é bom para ele.”
Enquanto isso, pai e mãe podem ficar por perto, zelando, dando bons exemplos de comportamento e apontando sempre as atitudes que consideram ruins, para que o adolescente entenda onde está errando. Esse cuidado será muito mais eficiente do que a proibição sem justificativa. “É como uma pipa no ar: se o vento está favorável, você solta um pouco. Se estiver vislumbrando uma tempestade a caminho, puxa de volta”, declara Teresa.
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