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Adolescente transgênero relata dificuldade de encontrar namorado

À esquerda, Jazz, no ínicio de sua transição, aos cinco anos. À direita, aos 14 anos - Reprodução/Instagram
À esquerda, Jazz, no ínicio de sua transição, aos cinco anos. À direita, aos 14 anos Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

24/02/2015 16h33

Jazz Jennings nasceu um menino e, aos três anos, foi identificado como transgênero —ela não se via como um garoto desde os dois, mas, sim, como menina. Aos 14, a ativista pelos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais) já escreveu um livro e fundou uma instituição para crianças transgênero, mas lamentou em entrevista ao jornal britânico "Daily Mail" a dificuldade de namorar devido ao preconceito.

"Gosto de alguns meninos da minha turma na escola, mas ninguém gosta de mim. No início, eu me preocupei se era porque não sou bonita, mas todos os meus amigos dizem que sou", disse ao períodico.

"Logo que minhas amigas começaram a conversar sobre garotos, minha mãe me avisou para não participar, pois ela acha que sou muito nova para começar a pensar sobre relacionamentos. Acredito que um dia vou encontrar alguém que goste de mim pelo que sou."

A mãe da garota, Jeanette Jennings, 48, está preocupada com a segurança da filha. "A Jazz nunca poderá sair para um encontro antes de mencionar que é transgênero. Fico preocupada que alguém possa atacá-la se descobrir isso posteriormente", afirmou ao "Daily Mail".

Jazz planeja fazer uma cirurgia de mudança de sexo ao completar 18 anos. "A parte mais difícil de ser transgênero é ainda ter um pênis. Isso me lembra que não nasci em um corpo feminino", diz.

"Quando deixei meu cabelo crescer e comecei a usar roupas de meninas, eu me senti bem. Fui provocada por alguns colegas de escola, mas aprendi a não levar a sério. Hoje, já me sinto como uma menina, mas quando fizer a cirurgia sei que essa transição será completa", declarou.

Jazz nunca se referiu a si mesma como um menino. Quando sua mãe a elogiava por ser um "bom menino", ela a corrigia e dizia "boa menina". "Queria usar roupas de menina e sempre brincava com as bonecas da minha irmã. Quando tinha dois anos, minha mãe conta que perguntei quando uma fada viria com uma varinha mágica para tirar o meu pênis", afirmou ao jornal britânico.

Jennings e o marido, Greg, 47, então, perceberam que o que estava acontecendo não era uma fase e buscaram um pediatra. "O médico mostrou bonecos masculinos e femininos e me pediu para apontar qual eu era. Imediatamente, apontei para a boneca do sexo feminino", conta Jazz.

O especialista aconselhou que os pais não interferissem no comportamento de Jazz de nenhuma forma, nem incentivando nem reprimindo os desejos da criança. Aos três anos, ela foi identificada como transtorno após testes.

Depois dos resultados, Jazz passou por uma transição gradual e começou a viver como uma garota aos cinco anos. "Deixei meu cabelo crescer, furei minhas orelhas e passei a usar vestidos. Eu me senti tão feliz. Meus irmãos e irmãs aceitaram e, mesmo o meu pai, que foi contra a ideia de início, me apoiou”, disse ao periódico.

Quando Jazz começou a se aproximar da puberdade, ficou com medo das transformações de seu corpo. "Tinha pesadelos sobre o crescimento de pelos faciais e odiava imaginar que minha voz engrossaria."

Com 11 anos, ela começou a usar bloqueadores hormonais para suspender a produção de testosterona, para evitar as mudanças corporais da puberdade masculina. "Foi um alívio. Os bloqueadores hormonais são reversíveis, portanto, caso tenha vontade, posso suspender o uso, mas não há nenhuma chance disso acontecer, pois sou muito feliz como menina", afirmou.

Ainda que sua família tenha aprovado a transição, alguns alunos de sua escola reagiram com preconceito. "Algumas crianças perguntavam por que eu estava vestida como uma menina sendo que nasci menino. Explicava que me sentia como se tivesse nascido no corpo errado, mas, na hora do almoço, nem as meninas nem os meninos queriam sentar comigo. Alguns me chamavam de 'coisa', e eu não tinha permissão para usar o banheiro masculino nem o feminino. Tinha de ir para a enfermaria e me sentia muito isolada", contou ao Daily Mail.

Apesar de Jazz não conseguir a atenção dos colegas da escola, ela recebe muitas mensagens de meninos do mundo todo. "Vários rapazes heterossexuais e transexuais entram em contato comigo pelo meu site e pelas redes sociais.”

Atualmente, a garota tem usado sua experiência como transgênero para ajudar outras crianças e adolescentes nessa transição. Ela criou a fundação TransKids Purple Rainbow e escreveu um livro "I Am Jazz" (eu sou Jazz, em tradução livre do inglês) sobre como descobriu que era transgênero.

Seu trabalho como ativista dos direitos dos transexuais fez com que Jazz conhecesse personalidades importantes, como a atriz transgênero Laverne Cox, destaque da série "Orange is the New Black", e a atriz Jennifer Lawrence.

A jovem também já deu palestras em escolas, hospitais e universidades sobre o assunto. "Quero mostrar para as pessoas que não é para ter medo de ser diferente. Espero acabar com a discriminação contra jovens transgêneros."