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Dieta ou fanatismo? Tem famosa levando marmita até no restaurante

Gracyanne Barbosa afirma que sempre leva uma marmita para todos os lugares - Reprodução/Instagram
Gracyanne Barbosa afirma que sempre leva uma marmita para todos os lugares Imagem: Reprodução/Instagram

Andrezza Czech

Do UOL, em São Paulo

18/03/2015 07h02


Dona do corpo mais elogiado dos últimos tempos, a atriz Paolla Oliveira já revelou que mantém a boa forma levando marmita para as gravações. Débora Bloch, Fernanda Torres e Claudia Raia também têm o mesmo hábito –Claudia até diz ser conhecida como “a rainha da marmita do Projac”, por incentivar seus colegas a fazerem o mesmo.

Embora essa seja uma boa solução para manter uma alimentação saudável, há quem leve a dieta ao extremo. A modelo Juju Salimeni, por exemplo, já levou sua marmita com shake de proteína e claras de ovos cozidas para comer durante um voo. Gracyanne Barbosa afirma que seu marido, o cantor Belo, tem até vergonha de levá-la para jantar em um restaurante, pois ela leva sua própria comida para qualquer lugar. Mas, quando a dieta é assim tão rígida, continua sendo saudável?

"A marmita é uma boa opção para ajudar a pessoa a comer adequadamente. Mas, se a dieta for muito rigorosa, deixa de ser saudável e atrapalha o bem-estar", afirma a nutricionista francesa Sophie Deram, doutora em Endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisadora no ambulatório do programa de transtornos alimentares do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

O psicólogo e psicoterapeuta pela USP Marco Antonio de Tommaso, especializado em transtornos alimentares e membro da Abeso (Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), concorda que uma alimentação saudável não deve ser encarada com fanatismo. “O exagero limita a vida pessoal. É o caso de pessoas que evitam convites para comer ou levam a marmita para o restaurante”, diz.

Segundo a psicóloga Marilice Rubbo de Carvalho, especializada em terapia comportamental cognitiva pela USP e em transtornos alimentares pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a marmita é indicada por nutricionistas como um modo de ajudar o paciente a controlar o que come.

Dependendo da fase da vida da pessoa que está tentando emagrecer, ficar exposta a dezenas de opções de um restaurante pode, sim, ser uma tentação difícil de resistir. “Se a pessoa está desestabilizada emocionalmente, a marmita é muito boa para ajudar a controlar esses estímulos. Mas isso não pode se tornar uma obsessão”, afirma.

Para quem está lutando contra a obesidade, recusar convites de almoço ou levar a marmita para restaurantes pode estar relacionado com o medo de perder o controle e ter uma recaída. “Quando se entende a comida como um vício, como um dos poucos escapes da vida, esse medo é tão grande que a pessoa prefere prejudicar as relações sociais. Há a ideia extrema de que, se eu falhar um dia na dieta, tudo estará perdido”, diz Marilice.

No entanto, fugir de convites para almoço ou jantar pode criar outro problema: o mau relacionamento com colegas e amigos pode deixar a pessoa preocupada ou chateada e fazer com que ela queira comer ainda mais. Por isso, se já houver intimidade com os colegas de trabalho, explique que você está passando por uma fase de readequação alimentar e peça apoio.

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Efeito contrário

Uma dieta muito rígida pode dificultar o controle do peso. “A fome e a privação detonam o processo de compulsão alimentar e geram ansiedade”, afirma Tommaso. A culpa, comum em quem tem uma dieta tão restritiva, também pode fazer a pessoa engordar mais.

Segundo Sophie, nosso comportamento ao comer é tão importante quanto aquilo que escolhemos para o cardápio. “Se você comer com medo e culpa, nada fará bem. Estudo nutrição há quase 30 anos e vejo o quanto é importante ingerir o alimento sem medo. Se você come com culpa, come mais", afirma Sophie.

Se a pessoa come sem prazer nenhum, também fica mais suscetível a recaídas. Sophie afirma que, em seu trabalho com compulsão alimentar, observa que o período do fim do dia é quando há maiores chances de deslizes na alimentação. “Se você não come com prazer, vai procurar compensar isso. O resultado é a busca por doces à noite”, afirma Sophie.

Sinal de perigo

Segundo Sophie Deram, se você está obcecado por ter uma alimentação saudável, cuidado. “O medo de comer algo errado gera muita ansiedade". Em seu livro “O Peso das Dietas” (Editora Sensus), Sophie cita a história de uma mulher que chegou a levar marmita a um casamento.

Atitudes extremas como essas merecem atenção, pois podem ser sinal de um transtorno alimentar chamado ortorexia, que é quando a busca por se alimentar de modo saudável se torna uma obsessão. "É o caso da pessoa que tem medo de comer qualquer coisa que não faça parte da dieta”, afirma.