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Kutcher quer trocador de fralda em banheiro masculino; brasileiros também

O ator Ashton Kutcher quer ter a chance de trocar a filha, de cinco meses - Michael Loccisano/Getty Images/AFP
O ator Ashton Kutcher quer ter a chance de trocar a filha, de cinco meses Imagem: Michael Loccisano/Getty Images/AFP

Thamires Andrade

Do UOL, em São Paulo

19/03/2015 07h25

O ator americano Ashton Kutcher fez um desabafo no Facebook, no dia 10 de março, sobre a falta de trocadores nos banheiros masculinos. Pai de Wyatt, de cinco meses, sua filha com a também atriz Mila Kunis, ele afirmou que nunca encontra um local adequado para trocar a fralda da filha. "O primeiro banheiro que eu entrar com trocador ganha uma menção na minha página", escreveu na rede social. A situação também é comum aqui no Brasil, pois não existe lei federal que exija que o acessório esteja à disposição tanto dos pais quanto das mães.

Como a regulamentação fica por conta dos Estados e municípios, dentre os poucos que possuem leis ou projetos de lei sobre o tema, a maioria é redigida como se apenas as mulheres fossem responsáveis pela higiene das crianças.

Em Santa Catarina, por exemplo, uma lei garante a disponibilização de fraldários em terminais rodoviários intermunicipais para "resguardar a privacidade de mães e filhos". Já em Mairiporã, município do Estado de São Paulo, um projeto de lei obriga que estabelecimentos comerciais de grande porte possuam fraldários para zelar pela privacidade da "mãe e dos filhos".

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  • http://mulher.uol.com.br/gravidez-e-filhos/enquetes/2015/03/18/na-sua-casa-de-quem-e-a-responsabilidade-de-trocar-a-fralda-do-bebe.js

No Rio de Janeiro, um projeto de lei tramita na Assembleia Legislativa do Estado para que sejam instalados trocadores de fraldas em todos os banheiros femininos de shoppings centers e hipermercados. A justificativa da lei, criada pelo deputado Alessandro Calazans (PMN), em 2007, é que a hora da troca das fraldas é um "momento de dificuldade para as mães".

Em São Paulo, o projeto de lei da deputada estadual Rita Passos (PSD) é menos sexista, pois propõe a instalação de fraldários para "facilitar a vida daqueles que se encontram diante da necessidade de trocar a fralda dos bebês", sejam eles homens ou mulheres, em estabelecimentos públicos, como postos de saúde, fórum, prefeituras, escolas etc.

A seguir veja relatos de pais que passaram dificuldades na hora de trocar seus filhos em locais públicos:

Marcio Nel Cimatti, autor do blog "A Janela Laranja", e pai de Victoria, 6, e Giovana, 2

"Resolvi criar uma campanha no meu blog 'A Janela Laranja' pedindo por mais banheiros familiares e trocadores de fraldas nos banheiros masculinos, pois sempre saio muito sozinho com as minhas filhas e sinto falta dessa estrutura.

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Já precisei apelar para trocar as meninas dentro do carro várias vezes, principalmente, quando estava em restaurantes. Carregava um trocador portátil e fazia toda a higienização no banco de trás do carro.

No passado, era muito comum apenas a mãe ficar responsável por esses cuidados, no entanto, o comportamento dos pais tem mudado bastante. Cada vez mais, eles querem cuidar dos filhos, criar um vínculo com o bebê desde pequeno, e trocar fralda faz parte disso.

Acho que deveria ser uma questão de bom senso dos estabelecimentos comerciais disponibilizar esses espaços tanto para mães quanto para pais. Graças à campanha do blog, recebi muitas mensagens de apoio de pessoas na mesma situação.

Agora que minha filha mais velha completou seis anos, a falta de banheiros de família, para que eu possa levá-la quando saímos sozinhos, também é grande. Os lugares deveriam ter essa preocupação e adotar o fraldário e o banheiro familiar como prática usual."

Luís Mauro Sá Martino, professor da faculdades Cásper Líbero e Cantareira, em São Paulo, e pai de Lucas, 3

"Com exceção de alguns shoppings onde há fraldários equipados, quase todos os outros lugares só colocam trocadores nos banheiros femininos, o que dificulta a vida dos pais que precisam trocar as fraldas dos bebês. Parece que os estabelecimentos têm a impressão de que os homens não vão trocar as crianças.

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Passei por várias situações em que tive de improvisar. Costumava juntar duas cadeiras e esticar o trocador. Também já troquei a fralda dele em um banco e nunca sofri nenhum tipo de repreensão. Quando você vira pai, descobre que tem habilidades de contorcionista.

Já recebi olhares meio estranhos quando estava com a minha mulher e meu filho na fila do supermercado e fui eu em quem saiu para trocar a fralda dele. Parecia que diziam: 'por que o pai vai fazer isso e não a mãe?'.

Ainda existe a ideia de que o cuidado da criança não pode ser compartilhado pelo homem. Acho uma pena para quem acredita nisso, pois perde uma forma legal de interagir com o filho. É importante que essas atividades possam ser divididas, a responsabilidade e a alegria de cuidar são tanto do pai quanto da mãe.

Ao longo de um ano e oito meses que meu filho usou fralda, encontrei mais apoio do que censura. Troquei dicas de fraldas com outros pais. Como a natureza não permite aos homens fazer algumas atividades estritamente femininas, devemos participar no restante que dá para fazer."

Iuri Givago, tenente do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco, e pai de Mateus, 2

"Minha mulher morreu 35 dias depois do parto devido a uma trombose venosa mesentérica –condição em que um coágulo de sangue obstrui a veia que irriga o mesentério, tecido que conecta o intestino à parede abdominal– e quando ia para algum estabelecimento comercial, nunca encontrava um local para trocar meu filho, pois o fraldário ficava no banheiro feminino.

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Sentia falta dessa estrutura em consultórios médicos, laboratórios, estabelecimentos públicos, principalmente os que ficam em prédios mais antigos, e nos restaurantes.

Sempre que chegava a um restaurante, falava com a gerência para perguntar qual logística poderia ser feita para eu trocar a fralda do meu filho. Vários perguntavam onde estava a mãe e se nenhuma figura feminina iria estar com a gente, portanto, precisava sempre negociar e, quando não conseguia, ia para outro lugar.

Para conseguir trocar fralda, o banheiro feminino ficava interditado, mas era sempre um transtorno. Muitas mulheres ficavam batendo na porta, sem saber o que estava acontecendo. Quando eu saía do local, algumas ficavam espantadas e outras fechavam a cara.

Seria interessante existir não só o trocador no banheiro masculino, mas também um fraldário para que tanto pai e mãe possam auxiliar um ao outro na troca de fraldas. Os pais se unem aos filhos graças aos cuidados na infância. Hoje posso afirmar que me sinto muito ligado ao meu por tudo o que passamos."