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Masturbação é natural mesmo para quem vive relação fixa

Tocar-se para obter prazer não significa que o sexo com o parceiro esteja ruim - Getty Images
Tocar-se para obter prazer não significa que o sexo com o parceiro esteja ruim Imagem: Getty Images

Yannik D´Elboux

Do UOL, no Rio de Janeiro

01/05/2015 11h36

A masturbação não é apenas uma prática adolescente de quem acabou de descobrir a própria sexualidade. O prazer solitário continua existindo, mesmo para aqueles que estão em um relacionamento fixo. Falar sobre o assunto ainda representa um tabu para muitos casais, que, às vezes, encaram o ato como um concorrente à vida sexual.

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“É muito normal. E seria ainda mais se o processo de masturbação fizesse parte dos jogos sexuais dos dois, sem que isso perturbasse qualquer um dos parceiros”, diz a médica urologista e terapeuta sexual Sylvia Faria Marzano, professora da pós-graduação em psicoterapia e psicotrauma sexual da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Goiás.

Apesar de ser algo natural e saudável no comportamento humano, nem todas as pessoas que namoram ou são casadas aceitam bem o fato de que o outro se masturba. Para algumas, segundo a urologista, isso representa, erroneamente, uma traição. “Esse é o grande problema, principalmente entre os casais heterossexuais”, afirma.

Ter o hábito de se tocar para obter prazer não significa que o sexo com o parceiro esteja ruim. “Muitas pessoas que estão em relacionamentos afetivos e sexuais de qualidade, estáveis, sentem falta de um momento íntimo seu”, declara a psicóloga e terapeuta sexual Ana Canosa, coordenadora da pós-graduação em educação sexual do Unisal (Centro Universitário Salesiano).

Para o escritor Ricardo Coiro, 28, de São Paulo, que namora há três anos, a prática não acontece pela falta da satisfação. “Não vejo a masturbação como algo contraditório ao sexo, mas como um complemento”, fala.

Apesar de reconhecer que o tema é um tabu entre os amigos, ele não tem dificuldade de falar sobre o assunto com a namorada, que entende sua necessidade. “É um momento livre, em que você pode criar situações imaginárias e usufruir, sem culpa, do prazer gerado por esses pensamentos”, diz Coiro.

Culpa e religião

Por influência da religião e também da medicina do século 19, a masturbação já foi vista como pecaminosa e causadora de doenças e distúrbios psicológicos. Apesar de essa concepção ter sido superada, sobretudo entre os profissionais de saúde, muitos ainda veem a prática como errada ou desnecessária em uma relação sexualmente ativa.

“O problema é quando se tem necessidade, mas há um impedimento religioso e cultural, que leva à culpa quando a pessoa a pratica”, afirma o psicólogo Paulo Rennes Marçal Ribeiro, coordenador do mestrado em educação sexual e do Nusex (Núcleo de Estudos da Sexualidade) da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

A vontade de se masturbar muda de intensidade conforme cada indivíduo ou fase da vida. Segundo o psicólogo, à medida que as pessoas amadurecem em termos sexuais, vão substituindo a masturbação pela relação sexual. “Sem abandoná-la total e necessariamente”, fala Ribeiro.

Historicamente, a masturbação sempre foi mais reprimida entre as meninas. “A nossa cultura incentiva o contato do homem com seu pênis, enquanto afasta as mãos da mulher de seu clitóris”, diz Paulo Rennes.

Na vida de casal, é comum que a masturbação seja escondida. Para alguns homens, saber que a parceira busca esse prazer pode gerar insegurança quanto a própria performance sexual.

Entre as mulheres, a principal preocupação costuma ser se o namorado ou marido fantasia com outras. “A masturbação mostra que o desejo sexual é autônomo, independe da relação de amor. Ou seja, se meu parceiro tem tesão sem a minha presença, não tenho domínio algum sobre ele”, declara Ana Canosa.

Para Ricardo Coiro, é ingenuidade demais de algumas mulheres achar que o homem só imagina a namorada enquanto se masturba. “Só transo com ela, seria muito pedir para me tocar pensando só nela”, diz o escritor, sem medo de se expor.

Além da conta

Para a médica Sylvia Marzano, o autoerotismo é benéfico para o relacionamento, pois estimula a fantasia e contribui para a satisfação sexual mútua, seja o ato solitário ou a dois.

A masturbação somente vira um problema quando passa a ser a fonte única de prazer, torna-se mais importante que o sexo ou acontece de forma excessiva e descontrolada. “O que pode ocorrer é que essa atividade, sendo rápida e em geral escondida, faça com que o homem tenha uma ejaculação muito rápida ou outro tipo de disfunção sexual”, afirma a urologista e terapeuta sexual.

O hábito de chegar ao orgasmo sempre pela masturbação também é capaz de produzir o efeito contrário. “Pode gerar casos de ejaculação retardada, em que o homem só consegue gozar na masturbação e não com a penetração”, diz Ana Canosa.