Repouso absoluto em gestação de risco assusta mães; veja como lidar
A educadora física Beatriz de Miranda Ribeiro Mugnaini, 36 anos, estava na 23ª semana de sua segunda gestação quando começou a sentir contrações. A princípio, não se preocupou muito. Sentia-se saudável e disposta, a rotina agitada incluía brincadeiras de cavalinho com o filho mais velho, Thiago, então com um ano e meio. Mas a obstetra viu sinal de perigo e pediu a ela que fizesse repouso de duas semanas. A pequena pausa não funcionou, as contrações só aumentaram. Foi assim que começou a fase mais difícil de sua vida.
“Precisei contratar uma pessoa para cuidar da casa e tive de matricular o Thiago em uma escola. Todos da família mudaram a rotina para me ajudar, pois não podia sair da cama nem para tomar banho”, conta. O repouso absoluto durou cerca de quatro meses, até o nascimento de Laura, hoje com sete anos. Durante esse período, mesmo deitada, Beatriz chegou a fazer um curso de fotografia, para passar o tempo. Apesar de ter se mantido relativamente ativa, ela se ressente de não ter fotos da gestação, que esperava viver de forma diferente. “Foi bem difícil, chorava muito, sentia-me culpada.”
Parar totalmente as atividades também foi um desafio para a supervisora administrativa Débora Cosin Carbol, 38, que no sétimo mês de gravidez sentiu a barriga ficar rígida e teve um pequeno sangramento. Por causa do risco de o bebê nascer antes da hora, teve de abandonar as longas jornadas de trabalho em uma grande loja de departamentos de Jundiaí (SP). De uma hora para outra, precisou tirar licença e está deitada desde o início de junho, com permissão de levantar apenas para ir ao banheiro e para comer. “Até então, havia passado a gravidez superbem. Na primeira semana, foi muito difícil parar. Mas coloquei na cabeça que o mais importante era cuidar da minha filha”, fala, ansiosa pelo parto, previsto para os próximos dias.
O ginecologista e obstetra Eduardo Zlotinick, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, explica que o repouso absoluto é necessário em situações com grandes chances de complicações. “Alguns exemplos são os casos de placenta prévia com sangramento (condição em que a placenta se fixa à parede uterina e cobre parcial ou totalmente o colo do útero, o que pode causar hemorragia), de pacientes com maior risco de trabalho de parto prematuro ou que não estejam estáveis de quadros como hipertensão, cardiopatia ou asma”, diz.
No repouso absoluto, a gestante não pode sair da cama e deve ficar deitada preferencialmente do lado esquerdo, posição que proporciona melhores condições de oxigenação para o bebê. Algumas mulheres podem se levantar somente para tomar banho ou ir ao banheiro, mas outras não têm permissão nem para sentar. Nos casos mais graves, a internação pode ser necessária.
Quando a recomendação é o repouso relativo, é o obstetra quem define as atividades que serão permitidas. No caso da administradora de empresas Simony Correia Souza, 28, a proibição era para qualquer atividade que exigisse esforço físico. “A obstetra disse que o repouso era necessário porque minha filha não estava se desenvolvendo como deveria”, conta a mulher, que passou por uma cesariana sem complicações e hoje curte a filha de três meses. Como aconteceu com ela, a restrição de crescimento intrauterino, que pode ocorrer devido a alguma alteração da placenta, é outro motivo que demanda repouso na gravidez, explica a obstetra Camila Martin, do Hospital Israelita Albert Einstein.
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Sentimento de impotência
Para a psicóloga Flávia Carnielli, do Hospital e Maternidade Santa Joana, de São Paulo, lidar com o sentimento de impotência é uma das maiores dificuldades enfrentadas por essas gestantes. “Muitas relatam que a necessidade de ajuda traz a sensação de terem sua vida e privacidade invadidas por outras pessoas”, diz. Por isso, pequenas escapadas das orientações médicas são comuns, mas podem trazer graves complicações. “Tanto para a mãe, quanto para o bebê e, conforme o caso, para futuras gestações”, afirma a obstetra Carla Kikuchi, também do Hospital e Maternidade Santa Joana.
“É fundamental que a mulher entenda que o repouso pode ser o trabalho mais difícil que terá de enfrentar, mas também o mais importante”, fala Flávia. Para Daniela Andretto, psicóloga materno-infantil pela USP (Universidade de São Paulo), uma boa estratégia é pensar no objetivo do repouso. “É sempre bom lembrar que se trata de uma ação preventiva e de proteção que a gestante estará exercendo em benefício de seu bebê”, diz.
Quem recebeu essa indicação médica não precisa se desesperar, pois é possível aproveitar o tempo de repouso de maneira saudável e produtiva. Veja, a seguir, algumas dicas da psicóloga Flávia Carnielli, de São Paulo:
1 - Receba visitas: pode ser gostoso jogar conversa fora e escutar as novidades de outras pessoas;
2 - Escolha bem a pessoa para te ajudar: dê preferência a alguém com quem tenha intimidade e se sinta confortável;
3 - Deixe os objetos que mais usa ao seu alcance: uma garrafa de água, o telefone, medicamentos, o controle da TV. Assim, não precisará depender o tempo todo de outra pessoa;
4 - Coloque a leitura em dia, veja filmes, navegue na internet. Todas essas atividades ajudam a passar o tempo, basta escolher aquela que te dê mais prazer;
5 - Crie uma rotina: tenha horário para acordar, para fazer as refeições, para tomar banho. Isso a ajudará a se organizar e dará sensação de controle;
6 - Converse sobre seus medos e incômodos: marido e filhos também podem sofrer com a mudança na rotina. É bom falar sobre isso, pois a comunicação é sempre bem-vinda nos relacionamentos;
7 - Faça o que for possível para se sentir bem: arrume o cabelo, faça as unhas. O cuidado consigo mesma contribui para a sensação de bem-estar;
8 - Exponha suas dúvidas ao médico e, se ele autorizar, exercícios físicos de fisioterapia podem ser interessantes para aliviar as dores no corpo e fortalecer a musculatura;
9 - Escolha o lugar mais confortável da casa para passar o dia;
10 - Alterne atividades para não enjoar de nenhuma delas;
11 - Converse com outras mulheres que estejam na mesma situação que você: na internet existem fóruns e bate-papos que podem ajudar a mãe a ver que não está sozinha. Mas fuja de palpites e histórias trágicas.
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