Com ajuda de maquiagem, garotas apostam no visual drag: "Nascemos montadas"
Você pensa em drag e já vem à mente um homem em cima de um saltão de 15 cm e muito make no rosto? Nem sempre. Inspiradas pelo reality show “RuPaul’s Drag Race”, algumas garotas também estão apostando nos cílios postiços poderosos e maquiagem exagerada para cair na noite. São as "faux queens" ("rainhas falsas", em o que seria a tradução literal do francês com inglês que constituem o termo), como são chamadas as mulheres que usam técnicas de maquiagem para criar a ilusão de traços ultra-femininos. “Não gosto dessa palavra, ‘faux’. Nós não somos falsas, somos mulheres, já nascemos drag”, fala a queen carioca Palloma Maremoto, de 32 anos. “Por isso me chamo de real queen”.
O primeiro registro do termo drag, sigla para “dressed resembling a girl” ("vestido semelhante a uma garota", em tradução literal) apareceu no século 19, fazendo referência a atores com figurinos femininos. Mas há evidências que a gíria já existia muito antes disso, principalmente durante a Idade Média, quando mulheres, proibidas de atuarem, eram interpretadas por homens.
Assim, por muito tempo as pessoas achavam--e algumas ainda acreditam -- que apenas artistas do gênero masculino podem fazer drag. “Alguns meninos do meio acham que é fácil para uma menina se montar, porque já temos peito, temos corpo, mas não basta sermos femininas, precisamos ter um visual cabuloso”, explica a queen curitibana Eva Costa, 28.
“Fazer drag é celebrar o feminino, então nada mais justo que as garotas também se empoderem com esta arte. Ponha um pouco de glitter no rosto e se divirta”, comenta Latrice Royale, participante do reality show “RuPaul’s Drag Race”, em entrevista ao UOL Beleza durante sua recente passagem pelo Brasil no mês de julho. “Se tem talento, tem mesmo que se montar. É bom que ajuda a tirar o preconceito das pessoas sobre o mundo drag”, completa Silvetty Montilla, uma das queens mais conhecidas do Brasil.
Criando uma drag
Não pense que a parte mais difícil de se montar é andar e bater cabelo em cima do salto plataforma. Para Palloma, criar este visual “cabuloso” demanda muito esforço. “Nós estamos muito condicionadas a nos maquiar para valorizar nossos traços, mas a drag precisa reinventar o próprio rosto, criar uma coisa nova”, fala a atriz. “Temos que criar uma ilusão maravilhosa em um rosto comum”, adiciona Eva.
A produção é uma espécie de trabalho braçal e exige paciência. Segundo a maquiadora Ana Flávia Guimarães, 23 anos, alguns detalhes do make são o pesadelo dos aspirantes a drag. “Meninos e meninas reclamam muito na hora de esconder a sobrancelha”, comenta a artista, que usa o pseudônimo de Hannah Harakiri. “Desenhar uma nova por cima também é difícil, muita gente não acerta o formato”.
E também tem momentos dolorosos, principalmente se a garota tem sensibilidade para lentes de contato ou problemas para prender o picumã, como as drags chamam o cabelo. “Eu uso fita isolante para não deixar a peruca cair na boate, então dói demais tirá-la. Eu já cheguei a ficar careca”, brinca Palloma.
Tantos cuidados e detalhes de make, peruca e figurino exigem um tempo de preparação mais longo. As meninas demoram de uma a quatro horas para se montar. “Depende do quão elaborada é a montação”, diz a carioca.
Empoderamento feminino
Drag não serve apenas para “aparecer”. Tanto Palloma, como Eva e Ana afirmam que seus alter egos dão aquela força no que se refere à sensação de empoderamento.
Eva sofre preconceito por, no dia a dia, ter um estilo bem masculinizado, composto por camisetas e bermudões. Em contrapartida, a drag da artista é super feminina, inspirada em sua mãe e na eterna personagem Viúva Porcina, da novela “Roque Santeiro”, interpretada com maestria por Regina Duarte. “Essa experiência de conhecer um lado que eu não conhecia foi muito legal. Melhorou minha autoestima, fez de mim uma pessoa melhor”.
Apesar de amar maquiagem e se arrumar, Ana também sempre teve problemas na escola por ter uma personalidade mais masculina. Tanto que a maquiadora se considera uma pessoa não-binária, ou seja, ela não se identifica com nenhum gênero sexual. “Eu sou outra pessoa como Hannah”, fala a garota.
“Quando a menina se veste como drag ela está mostrando quem ela realmente é, tudo aquilo que não é socialmente aceito. Ela se veste de uma máscara para se remontar”, filosofa Palloma.
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