Mães adotivas também podem amamentar; conheça técnica
O sonho de amamentar não precisa ser exclusividade das mulheres que engravidam e passam pelo parto. Mães adotivas também podem nutrir o filho dessa maneira graças à indução à lactação (também chamada de lactação adotiva).
A técnica consiste em oferecer leite artificial ou materno (doado) ao mesmo tempo que o bebê suga o peito, lançando mão de um cateter acoplado externamente ao seio. A sonda conduz o líquido, armazenado em um recipiente, até a boca da criança, por conta da sucção. A forma de amamentar é ainda capaz de estimular o organismo da mulher a fabricar leite depois de um tempo, pois, quanto mais o bebê suga o peito, mais líquido é produzido.
“A secreção do hormônio prolactina é estimulada com a sucção, e a descida do leite ocorre depois, graças à produção de ocitocina”, explica Marcus Renato de Carvalho, pediatra docente da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), consultor em amamentação pelo IBCLC (International Board Certified Lactation Consultant) e editor do site Aleitamento.com.
Surpresa
A esteticista Magali Felix do Nascimento Luna, 37 anos, conseguiu amamentar o filho adotivo, Pedro Otávio, com a indução à lactação. No dia seguinte ao receber o telefonema de um profissional da Vara da Infância, ela e o marido foram ao hospital onde nascera o garoto, hoje com um ano. Lá, o casal soube da possibilidade de Magali amamentar a criança.
"Não sabia que era possível. Durante o processo de adoção, pedia que um milagre acontecesse para que pudesse amamentar. É mais do que um ato de colocar o bebê no peito. Tem a ver com protegê-lo, e é preciso ter vontade e disposição, além de estar preparada emocionalmente”, afirma Magali.
De acordo com Carvalho, para que o corpo comece a produzir leite por conta própria, além do estímulo da sucção do bebê, alguns médicos receitam às mães medicação homeopática à base de alfafa, que estimula a secreção de prolactina.
"Assim, logo no início do processo, o corpo já produz leite, não precisamos esperar que a sucção faça esse trabalho, embora é possível, sim, que o bebê, de tanto sugar, faça o corpo produzir leite”, declara o pediatra.
Medicamentos alopáticos também estimulam a produção de leite, são os chamados galactogogos. Só que a secreção do líquido é um dos efeitos colaterais desse tipo de substância, ou seja, a função principal deles é outra. Em geral, são antipsicóticos e antirefluxos.
No caso de Magali, para que o corpo fabricasse leite, ela tomou dois medicamentos para aumentar a produção de prolactina. “Também deixei o bebê sugar bastante o mamilo, ao mesmo tempo que se alimentava por meio da sonda.”
Para o procedimento ser bem-sucedido, a mãe de Pedro Otávio contou com a ajuda de uma fonoaudióloga especializada na indução à lactação e do marido, Marcos Luna. “Depois de cerca de um mês usando a sonda, Pedro Otávio estava no meu colo e virou o rosto em direção ao meu peito, pedindo para mamar. Fiquei tão emocionada, que esqueci de pegar a sonda e amamentei sem ela. Não sei descrever a felicidade que senti, não queria que aquele momento acabasse”, diz.
Para recorrer à lactação adotiva, não é necessário nenhum equipamento sofisticado. É possível usar uma sonda uretral ou nasogástrica número quatro, com a ponta cortada, fazendo dela um canudo, e um copo de vidro esterilizado ou uma chuquinha, fazendo um furo grande na ponta do bico (a ponto de conseguir encaixar a sonda).
“A sonda é um item barato, a unidade custa cerca de 80 centavos”, conta Ana Garbulho, obstetriz, doula, consultora de aleitamento materno e autora do site Primeiros Dias. Ela deve ser descartada após cada uso --embora seja possível lavá-la utilizando uma seringa com água, mas a higienização não é garantida.
Como fazer
Para a técnica ser bem-sucedida, assim que a mulher souber que o bebê será entregue à família, ela deve estimular a mama manualmente ou com uma bomba de leite, como se fosse ordenhar.
Se o bebê estiver muito irritado ou ansioso para mamar, os especialistas indicam deixar que ele sugue o peito de 15 a 20 minutos sem a sonda, para estimular a produção de leite. Quando ele começar a reclamar, coloque a sonda junto ao seio, no canto da boca da criança.
Para potencializar a sucção, a mãe também pode interromper a mamada da criança de tempos em tempos. Basta dobrar um pouquinho a sonda, para não permitir que o leite passe, deixando o bebê sugar por mais tempo.
A indução à lactação não é privilégio somente das mães adotivas. De acordo com a consultora de aleitamento materno, a técnica também é válida para casais homossexuais: uma mulher engravida e as duas, se assim desejarem, podem amamentar.
O método ainda pode ser usado em outros casos, por exemplo, quando o bebê é prematuro (nesse cenário, o termo é translactação). Mulheres que sofreram depressão pós-parto e pararam de amamentar por conta disso também conseguem retomar a amamentação graças ao uso da sonda (nesse caso, o procedimento é chamado de relactação).
Embora a indução à lactação apresente ótimos resultados, é preciso ter paciência para produzir o próprio leite. Algumas mães levam até quatro meses para alcançar esse objetivo. “A exaustão durante as madrugadas faz muitas desistirem de usar a sonda e recorrer à mamadeira”, fala Ana.
Outro detalhe importante a ser considerado, segundo Carvalho, é que nem sempre o resultado é próspero a ponto de a produção de leite dar conta da necessidade do bebê. Por isso, o uso de leite artificial pode ser necessário.
Magali conseguiu amamentar com o próprio leite durante um mês. Nesse período, a quantidade produzida era suficiente para uma mamada por dia. Por isso, Pedro Otávio consumia leite artificial na mamadeira e também por meio da sonda nas outras ocasiões.
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