"Ele acha que sou eu, mas o herói é ele", diz viúvo sobre filho de 6 anos
O advogado Rodrigo Leite Segantini, 38, de São José do Rio Preto (SP), perdeu a mulher Adriana em 2014 e passou a cuidar sozinho do filho do casal, Arthur, hoje com seis anos.
No dia em que ganhou do filho uma lembrança de Dia das Mães que ele fez na escola, Segantini conta os desafios de se desdobrar para cumprir os papéis paterno e materno na vida do garoto:
"A Adriana sofreu um acidente de carro em abril de 2013 e entrou em coma. No começo, eu me dividia entre trabalhar, cuidar do nosso filho, Arthur, que estava com três anos e meio, e ir para São Paulo ficar com ela no hospital. Depois de seis meses, ele me pediu para ficar mais tempo com ele. Entendi que ele estava sentindo falta da família, estava, de certa forma, sem o pai e a mãe.
Resolvi passar praticamente todo o meu tempo com ele, trabalhava quando dava e visitava minha mulher de 15 em 15 dias. Ainda que no começo eu tenha contado muito com a ajuda da família dela, existem certas tarefas que não tem como você pedir auxílio, como quando pinta a febre de madrugada ou um trabalho de escola. Parecem tarefas pequenas, mas elas são indelegáveis.
O Arthur nasceu com enterocolite necrosante, um problema de saúde sério, e precisou ficar internado por quatro meses em uma UTI neonatal. Ele quase morreu e, como fiquei com medo de perdê-lo, ele olhava para o lado e eu tirava uma foto ou gravava um vídeo. Fiz todos esses registros com medo de não tê-lo mais por perto e acabei perdendo a Adriana.
No fim das contas, foi bom ter feito esses registros, pois, hoje, eu mostro as fotos e vídeos dela. Não deixo que ele se esqueça da mãe nunca. Quando perguntam quem é da família dele, ele responde: 'eu, o papai, a mamãe, o Jesus e o papai do céu'. Até na foto da escola que nós dois tiramos ele quis colocar três estrelas em cima para representar os outros três integrantes da família.
Esse respeito e carinho que ele sente pela mãe é algo dele, muito espontâneo e, claro, que eu alimento e estimulo. Tem vezes que ele chega em casa, olha para o céu e pergunta em qual estrela está a mãe dele. Ele sempre escolhe Vênus, a mais brilhante.
Acho que a maior dificuldade que enfrento na criação do Arthur é cumprir o papel de pai e de mãe. A postura do homem na educação geralmente é mais dura, tanto que muitas mães falam: 'se não obedecer, vou chamar seu pai'. Mas eu tenho de saber dosar isso, saber ser duro quando preciso, mas também flexível. Tenho de saber quando ficar bravo, mas também agradar e, tudo isso, sem perder a mão. As outras crianças quando recebem bronca do pai podem chorar para a mãe, mas e o Arthur vai chorar para quem?
Ele tem uma confiança brutal em mim e me sinto na obrigação de não decepcioná-lo, de não falhar com ele. Portanto, entro na brincadeira mesmo... Quando teve pré-estreia do filme 'Capitão América 3: Guerra Civil', ele foi vestido de Capitão América e eu fui acompanhá-lo de Homem de Ferro. A gente é muito companheiro. Ele acha que eu sou o herói, mas o herói é ele. Se não foi ele quem me deu força para superar tudo isso, foi o motivo de ter força para superar. Tudo, sem exceção, gira em torno dele, pois ele é a minha razão.
Este ano ele trouxe uma lembrancinha da escola pelo Dia das Mães e me deu dizendo: 'você não é minha mãe e não é só meu pai: você é meu amor, você é minha família'. E o meu coração brilhou. Não tive opção de não suprir a presença da mãe na vida dele. Tem quem questione: 'nossa, como você aguenta?', mas qual é a opção? Não aguentar e abandonar meu próprio filho? Isso sim que é inconcebível.
Como sou advogado, tenho uma rotina mais flexível e consigo cuidar dele, levá-lo para escola e etc. Além disso, se quero ir em algum lugar que ele não pode ir, não vou. Não estou preparado para deixá-lo nessa posição. Fazemos tudo juntos, assistimos aos jogos do São Paulo e vemos shows de covers do Legião Urbana –ele já até cantou no palco em um. Teve um show de talentos em um shopping da cidade que o Arthur cantou uma música da banda e, ao fim da performance, fez uma homenagem para mim, cantando aquela música do Tarzarn, 'No Meu Coração Você Sempre Vai Estar", pois enquanto enfrentávamos o luto eu disse que essa era nossa canção, que ninguém nunca vai nos separar e que sempre estaremos juntos.
Depois que minha mulher morreu, tive um relacionamento de mais de um ano com uma pessoa e que começou por que o Arthur se encantou por ela e ela por ele. Brinco que foi um amor à segunda vista. Terminamos recentemente e em paz, não estou procurando ninguém, pois vivo em função do meu filho."
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