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Por que cabelo branco é charmoso para homem e desleixo para mulher?

A professora Wanda Magalhães, 63, assumiu as mechas brancas há três anos - Arquivo Pessoal
A professora Wanda Magalhães, 63, assumiu as mechas brancas há três anos Imagem: Arquivo Pessoal

Yannik D´Elboux

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

19/05/2016 07h05

Homens de cabelos grisalhos são considerados charmosos. Já as mulheres que resolvem deixar os fios brancos aparentes costumam ser tachadas de desleixadas. Essa diferença de julgamento mostra como a pressão estética da eterna juventude é bem maior sobre o sexo feminino.

Cansada de recorrer à tintura para disfarçar os efeitos do tempo, a historiadora e professora Wanda Magalhães, 63, resolveu há três anos assumir as mechas brancas. “Parecia que estava me escondendo quando pintava o cabelo, tinha curiosidade de me ver como eu era realmente”, afirma.

Os netos estranharam o visual, acharam que a avó ficou parecendo uma velhinha, porém a maioria da família apoiou a decisão. “Acabei recebendo vários elogios.”
Wanda percebe que ainda faz parte de uma minoria de mulheres, tanto que teve dificuldade em encontrar modelos de cabelos grisalhos nas revistas femininas para mostrar ao cabelereiro. “Sinto o olhar diferente das pessoas”, fala.

Para a psicóloga e professora Joana de Vilhena Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, é inegável que prevalece um padrão de beleza associado à magreza e à juventude, sobretudo para as mulheres.

“Os cabelos brancos são vistos como traços de feiura, desleixo, de uma mulher preguiçosa”, diz Joana. Para a psicóloga, essa avaliação moral depreciativa vem de todas as partes, inclusive das próprias mulheres.

Beleza pelo bisturi

Na busca pela beleza e juventude, as mulheres fazem muito mais do que apenas tingir os cabelos. Segundo dados da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), mais de 80% dos pacientes são do sexo feminino. Além disso, o Brasil é o segundo país no mundo em número de cirurgias plásticas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O presidente da SBCP, João de Moraes Prado Neto, diz que há uma “busca tirânica pela juventude” na cultura atual e uma pressão maior sobre as mulheres. “O sexo feminino é mais cobrado”, afirma. Contudo, o cirurgião nota mudanças significativas nesse aspecto. “Quando comecei, há 38 anos, para cada 30 cirurgias que fazia, havia apenas um homem, agora a cada cem existe uma média de 15 ou mais.”

A vaidade excessiva aliada a expectativa fantasiosa quanto aos resultados pode levar os pacientes a se submeterem a procedimentos desastrosos, de acordo com o presidente da SBCP.

Apesar de ajudar a mitigar as ações do tempo, a cirurgia plástica precisa ser feita com cautela, segurança e bom senso. “Há limites. E existem vincos na pele que não serão extirpados”, declara Prado Neto.

Cultura e envelhecimento

A escolha de Wanda Magalhães de manter um visual mais natural, sem disfarçar os sinais do envelhecimento, também foi inspirada em uma viagem que ela fez para a Europa. “Lá, vi muitas mulheres grisalhas, é mais comum”, fala.

A professora Joana Novaes explica que existe mesmo uma diferença cultural. “A mulher é muito objetificada no Brasil”, diz. Aqui, o conceito de ser feminina está bastante atrelado à beleza, ao corpo. “É um país que não valoriza a tradição, a memória, o conhecimento, não sabe achar a maturidade atraente”, declara a psicóloga, também autora do livro “Corpo pra que te Quero? Usos, Abusos e Desusos” (Editora Appris/PUC).

O presidente da SBCP concorda que a cultura influencia a pressão pela juventude eterna e que muitos países europeus aceitam melhor a velhice. “Falta para nós a valorização de outros aspectos e qualidades além da vaidade”, afirma Prado Neto.

A obsessão por corpos sempre jovens e o uso de eufemismos para retratar a velhice, como a expressão “melhor idade” para designar quem tem mais de 60 anos, revelam um comportamento de negação da morte. “Esticar a juventude é evitar o confronto com o envelhecimento, a decrepitude do corpo”, diz Joana Novaes.

Mesmo que perante o olhar de alguns aparente ser velha, Wanda não pretende voltar a tingir seus fios brancos. Ela prolonga sua vitalidade por outros caminhos, como cuidando da saúde e fazendo exercícios. “Só voltaria a pintar o cabelo se tivesse de voltar para o mercado de trabalho”, diz a professora, que está aposentada, mas sabe que teria mais chances com um visual dentro dos padrões.