Xixi na cama depois dos 5 anos pode ser sinal de algum problema
Após o desfralde e até que complete cinco anos, é comum que a criança tenha certa dificuldade para segurar a urina durante a noite. A fase é parte normal do desenvolvimento infantil e precisa ser encarada com naturalidade e paciência. Após essa idade, uma avaliação médica se faz necessária para verificar se o escape de xixi não é indicativo de algum problema de saúde, como infecção urinária ou insuficiência renal.
“Primeiro, aprende-se a controlar o xixi durante o dia e, depois, durante o sono. O controle esfincteriano noturno ocorre de seis a 12 meses após o diurno”, explica a pediatra Eliane Garcez da Fonseca, do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Não é raro que, nessa fase de aprendizado, ocorra a superficialização do sono sem haver o despertar, por isso acontece de a criança sonhar que está no banheiro e acabar soltando o xixi na cama.
Segundo a especialista, a incontinência urinária durante o sono depois dos cinco anos chama-se enurese noturna. “Após essa idade, se a criança se sente envergonhada e há repercussões negativas em sua vida social [como evitar convites para dormir na casa de amigos], existem boas opções de tratamento medicamentoso”, diz a médica.
Estima-se que 10% das crianças em idade escolar façam xixi na cama, sendo que 50% delas apresentam histórico familiar do problema. “Se um dos pais teve enurese, o risco de o filho também ter é de 44%. Se os dois pais tiveram, as chances aumentam para 77%.”
De acordo com Eliane, quando o quadro aparece isoladamente, denomina-se enurese noturna monossintomática. Mas também é possível que surja associado a outros sinais e sintomas, tais como incontinência diurna, aumento ou diminuição da frequência urinária, dificuldade para iniciar ou manter o jato, infecção urinária, alteração de marcha (dificuldade para andar), baixa estatura e vômitos frequentes.
“Esses sintomas são sinais de alerta para os pais. Uma avaliação médica é essencial para diferenciar um quadro mais simples de um mais grave”, diz.
A médica afirma que pesquisas recentes têm apontado uma maior prevalência da enurese entre pacientes com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TOD (Transtorno de Oposição e Desafio), condição em que a criança tem um comportamento desafiador diante de figuras de autoridade.
Porém, essa não é uma relação de causa e efeito, são considerados comorbidades (quando duas doenças ou distúrbios estão relacionados). Nesses casos, o tratamento de uma condição ajuda na resposta ao tratamento da outra.
Causas emocionais
Para a psicoterapeuta junguiana Sâmara Jorge, especialista em orientação de pais, a forma como a família lida com o desfralde pode interferir negativamente no comportamento da criança. “Há pais que ficam bastante ansiosos com esse momento e cobram muito do filho e de si mesmos. Ficam bravos, repreendem ou colocam fraldas para não ter trabalho durante a noite. Isso confunde a criança e pode aumentar seu medo e ansiedade por não corresponder às expectativas.”
Sâmara explica que fatores emocionais costumam estar presentes, sobretudo na chamada enurese secundária, quando a criança já adquiriu o controle do esfíncter e regride, voltando a fazer xixi na cama. Mas podem também influenciar nos casos de enurese primária, quando a criança nunca adquiriu o controle.
“Não é raro que crianças apresentem a enurese em situações de estresse. Separação dos pais, morte de alguém querido, mudanças, entrada na escola, chegada de um irmãozinho e tantas outras circunstâncias podem acarretar o problema”, diz.
Antes de atribuir uma causa emocional, aconselha a psicoterapeuta, é preciso descartar a existência de problemas físicos por meio de uma avaliação médica minuciosa.
Lidar com a enurese pode ser uma tarefa difícil para a família. Por isso, informação e orientação são essenciais. “Em primeiro lugar é preciso saber que a criança não faz xixi na cama porque quer. É um sofrimento para ela e motivo de vergonha também. Castigos, punições e piadas são a pior abordagem. Só levam a criança a se sentir mais ansiosa, incapaz e sem autoestima”, diz Sâmara.
Para a psicóloga, o indicado é explicar para a criança o que acontece e buscar uma solução. “Sentir o acolhimento e a empatia dos pais e familiares traz um alívio tão grande que, muitas vezes, já se percebem alguns sinais de melhora.”
Quando a situação não é bem conduzida pode levar a criança a desenvolver problemas de autoestima e socialização, tendendo ao isolamento. “É preciso tratar a questão com cuidado e delicadeza, evitando expor sua intimidade, contando para as pessoas que ela faz xixi na cama. Além disso, jamais compará-la com irmãos ou outras crianças.”
Outra dica da psicóloga é incentivar a criança a participar do processo de controle do xixi. “É importante que ela ajude a trocar a roupa de cama, sua própria roupa e ajude a colocar na máquina de lavar, por exemplo.”
Segundo a psicóloga, ao fazer isso, os pais devem ter cuidado para não dar a ideia de punição. “A criança precisa perceber que pode se cuidar, com a ajuda dos pais. Isso dará a ela uma sensação de autonomia e de que está crescendo e se responsabilizando por sua higiene, por si mesma, o que pode influenciar positivamente em sua autoestima.”
Medidas práticas para evitar que seu filho faça xixi na cama:
1 - Hidrate bem a criança durante o dia para que ela não sinta tanta sede à noite.
2 - Procure não dar muitos líquidos para a criança próximo da hora de dormir.
3 - Evite dar bebidas com cafeína à criança.
4 - Contribua para que a criança tenha uma alimentação saudável, rica em verduras, frutas e legumes, que melhoram o funcionamento do intestino. A constipação intestinal dificulta o controle urinário.
5 - Estabeleça uma rotina para a criança, incluindo uma ida ao banheiro para fazer xixi e escovar os dentes, imediatamente antes de deitar. Deitar de bexiga vazia aumenta capacidade de armazenar a urina produzida durante a noite.
6 - Reconheça e elogie os dias em que a cama amanhece seca, mas é preciso acolher e dizer que está tudo bem também nos dias em que isso não acontece.
7 - Se necessário, busque a ajuda de um psicólogo.
Fontes: Sâmara Jorge, psicoterapeuta, e Eliane Garcez da Fonseca, pediatra do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
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