Por que a separação de Bonner e Fátima fez a internet desacreditar do amor?
Na segunda-feira (29), William Bonner e Fátima Bernardes anunciaram simultaneamente em suas contas no Twitter o fim do casamento de 26 anos. No microblog, "Fátima" chegou a ser o assunto mais comentado, minutos após a divulgação do comunicado pelos jornalistas da Globo. Bastou isso para brotarem, nessa e em outras redes sociais, comentários como "não acredito mais no amor". Mas por que a internet sofreu tanto?
Para Ana Luiza Mano, psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, a comoção aconteceu porque a web é um espaço que propicia a propagação de fantasias. "As pessoas idealizam e projetam o amor nos casais famosos e, quando eles se separam, há um rompimento desse amor idealizado", declara.
"Eles eram o casal modelo: bonitos, bem empregados, saudáveis, com três filhos. Era a família do comercial de margarina. As pessoas projetavam neles o ideal de casamento e de amor, só que esqueceram que eles eram um casal como outro qualquer, que tinha de lidar com a convivência do dia a dia", fala Marina Vasconcellos, psicóloga especializada em terapia familiar e de casal pela Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo). Ela também diz acreditar que o fato de o Brasil ter acompanhado o casamento e a gravidez de Fátima fez com que as pessoas sentissem como se conhecessem o casal.
A psicanalista Regina Navarro Lins --autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso-- afirma que as pessoas vivem, de uma maneira geral, aprisionadas pelo mito do amor romântico e pela ideia de que só é possível haver felicidade se existir um grande amor. "As pessoas idealizam o par amoroso e se frustram ao perceber que o amor e o casamento não são para sempre."
Segundo Alexandre Bez, consultor conjugal e psicólogo especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos, há um endeusamento dos famosos por parte dos cidadãos comuns. "Eles não podem cometer erros ou sofrer. As pessoas ficam chocadas quando um casal público aparentemente feliz se separa, pois há uma quebra de mitos, paradigmas e valores individuais", afirma.
As pessoas que torcem pelos relacionamentos alheios ficam angustiadas e entram em conflito com uma notícia de separação, como a do casal de jornalistas. "Elas se martirizam, ficam perturbadas e sem chão: 'Como um casamento bom acaba?'. Conscientemente, estão preocupadas com os dois, mas, em nível inconsciente, ficam preocupadas com a própria relação, se aquilo também pode acontecer com elas", diz Bez.
Para Bez, as frases "não existe amor" e "não acredito mais no amor", encontradas em muitos dos posts comentando a separação de Bonner e Fátima, são uma fuga de quem não quer racionalizar o motivo de a relação ter tido um fim. Assim se livram de refletir sobre os embates do dia a dia que desgastam os relacionamentos.
"Não há um pensamento lógico, só a fuga. Se amanhã isso acontece com elas, seguem com essa mentalidade que foi traçada para ser um escudo de proteção. Esse tipo de processo mental causa uma série de reações negativas no âmbito amoroso", fala o psicólogo.
De acordo com Ana Luiza, mostrar nas redes sociais o que sente a respeito da vida amorosa alheia é uma maneira que os usuários encontram de canalizar os próprios sentimentos. "A pessoa despeja no Facebook a frustração, a surpresa ou a tristeza com aquela notícia. Tem quem xingue, fique triste e tudo isso acontece pela desinibição on-line", fala.
Segundo a psicóloga do NPPI (Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática) da PUC, essa desinibição faz com que o indivíduo tenha vontade de expor na internet suas emoções. "A pessoa se sente anônima na multidão. Mesmo nas plataformas que mostram nome e fotografia. O usuário faz um comentário e acha que o que ele escreveu é só mais um, que não vai ser o mais lido, e mesmo que outras pessoas comentem, ele só vai retomar essa conversa se desejar. É aquela ideia do banheiro público: a pessoa entra, rabisca na porta e depois vai embora."
Outro comportamento também observado entre as pessoas que se comoveram com o fim da relação de Bonner e Fátima foi o pessimismo. "É uma postura bem comum as pessoas ficarem pessimistas depois de notícias como essas, mas a relação deles não fracassou. Ela deu certo por 26 anos. Tanto que eles saem como amigos e parceiros na criação dos filhos.", afirma Marina.
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