Por que a episiotomia arruinou a vida sexual de Bela Gil por um ano?
Em seu canal no YouTube, a apresentadora Bela Gil revelou que a episiotomia (corte entre a vagina e o ânus) feita no parto da primeira filha, Flor, 6, fez com que tivesse problemas na vida sexual durante um ano. “Esse negócio pode arruinar sua vida sexual por um ano, que foi o que aconteceu comigo. Muitos médicos fazem a episiotomia de rotina”, disse ela, que ainda é mãe de Nino, 4 meses, nascido em casa em um parto normal sem intervenções.
Segundo Cátia Chuba, ginecologista e obstetra da medicina antroposófica de São Paulo, a episiotomia não necessariamente atrapalha a vida sexual de todas as mulheres, mesmo se feita desnecessariamente.
Algumas --e isso depende da fisiologia de cada uma-- podem ter uma dificuldade maior de cicatrização, outras desenvolvem queloide (lesão fibrosa e elevada na pele) ou apresentam reação alérgica ao fio usado para fazer a sutura do corte. As consequências são dor e sensibilidade na cicatriz, principalmente durante o primeiro ano pós-parto.
“Para piorar, há médicos que, na hora de suturar o corte, apertam demais a camada muscular, dão o chamado ´ponto do marido´, deixando a extremidade inferior da vagina [introito vaginal] apertado demais, a ponto de a mulher ter dificuldades e sentir dor com a penetração”, diz a ginecologista.
Por conta de tudo isso, Gustavo Kesselring, ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital São Luiz, em São Paulo, recomenda que, antes do parto, a gestante se informe sobre episiotomia, saiba se o médico que fará seu parto tem experiência em fazer o corte se for necessário e qual a conduta dele a esse respeito.
Para Kesselring, ainda é importante que a mulher assine um termo de consentimento para autorizar o médico a fazer o corte em caso de necessidade detectada por ele, evitando assim casos de violência obstétrica ou de desentendimentos pós-parto.
“Também é possível que a própria gestante escreva seus desejos em um plano de parto e peça para o médico assinar”, afirma Renato Kalil, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade São Luiz, Hospital Sírio Libanês e Hospital Israelita Albert Einstein, todos em São Paulo.
Para evitar complicações --inclusive problemas relacionados à vida sexual-- quem sofreu episiotomia deve cuidar do corte. Logo depois do parto, é possível que, para alguns casos, sejam recomendadas compressas de gelo para diminuir a dor e o incômodo provocados pelo edema.
“É imprescindível manter a área limpa, lavando-a com água e sabão neutro sempre que usar o banheiro e no banho”, fala Kesselring. E, a qualquer sinal de dor, inflamação e saída de pus, o médico deve ser acionado para examinar o local.
É possível também recorrer a aplicações de laser --a primeira, inclusive, pode ser feita logo após do parto, depois que a área for higienizada. Esse recurso, de acordo com Cátia Chuba, ajuda a cicatrização, pois deixa a marca mais bem estruturada, diminuindo a chance do aparecimento de queloides.
Outra possibilidade é recorrer a pomadas manipuladas de uso tópico que favorecem a cicatrização e investir nos exercícios de Kegel (série de movimentos criados pelo ginecologista norte-americano Arnold Kegel, no final da década de 1940), para recuperar o tônus do períneo.
Conduta de exceção, não de rotina
Embora a OMS (Organização Mundial da Saúde) aponte que provavelmente somente em 10% ou 15% dos casos a episiotomia seja necessária, o corte é feito no Brasil em 53% dos partos, mesmo a conduta sendo apontada como desnecessária na maioria dos casos desde a década de 1970. O dado consta do documento “Nascer no Brasil - Inquérito Nacional Sobre Parto e Nascimento”, fruto de pesquisa realizada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
De acordo com a ginecologista Cátia Chuba, está comprovado cientificamente que a episiotomia não protege os tecidos maternos e a integridade do polo cefálico (topo da cabeça) do bebê, como se acreditava antes.
Segundo Cátia, o corte pode ser feito eventualmente em circunstâncias limites, quando o médico percebe que a episiotomia pode trazer algum benefício para o parto, mas casos assim são raros. Por exemplo, quando o bebê está bem baixo no canal vaginal, mas a fase do expulsivo está muito prolongada e a criança começa apresentar sinais de sofrimento fetal.
“Ainda assim, a episiotomia é discutível, pois é possível recorrer ao uso do vácuo extrator para ajudar a criança a sair, dispensando o corte”, afirma Cátia. Outro exemplo de necessidade de episiotomia são quadros em que o médico entenda que a resistência perineal possa estar impedindo a saída do bebê.
Providências para escapar do corte
Mesmo com todos esses cuidados e situações em que a episiotomia pode ser realmente necessária, se preparar para poder tentar evitá-la é o mais indicado. Além de buscar um bom médico, que não tenha a prática do corte como algo rotineiro, mas que seja experiente, vale a pena investir no preparo do períneo e do assoalho pélvico.
“Isso quer dizer preparar, alongar a musculatura local e aumentar a elasticidade, para não haver rompimento das fibras”, diz Cátia. É possível fazer isso com massagem perineal com óleo essencial de qualidade ou com o uso de um aparelho chamado Epi-no. Ambos requerem orientação de fisioterapeuta especializado no assunto.
No entanto, mesmo com tanto preparo para evitar a episiotomia, é preciso compreender que existe o risco de haver laceração do períneo com a saída do bebê, que pode ou não precisar ser suturada. Normalmente, a laceração que ocorre naturalmente costuma ser menor e muito mais superficial do que o corte feito pelo médico, dispensando suturas ou então requerendo poucos pontos e cicatrizando sozinha. “Por isso, em minha avaliação, melhor ter uma laceração natural do que sofrer uma episiotomia”, fala Cátia.
No caso de mulheres que não passaram pela episiotomia, tendo sofrido ou não laceração, Kalil destaca ser muito importante cuidar do períneo no pós-parto para evitar o aparecimento de incontinência urinária, cenário bastante comum.
“Quanto menos ela investir em fisioterapia, com exercícios simples de serem feitos em casa com foco na contração e relaxamento do períneo, maior a chance de ter de se submeter à cirurgia para acabar com o problema”, afirma o médico.
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