Bolsas e relógios customizados pra ter a "sua cara" podem custar bem caro
Há quem diga que a onda de customização e personalização de objetos começou quando a atriz Sarah Jessica Parker decidiu sair para passear em Nova York, onde mora, carregando uma bolsa "2 Jours Elite", da Fendi, com as iniciais de seu nome gravadas em uma tag, em 2012. De fato, depois disso, várias grifes, entre elas Longchamp e Burberry, passaram a oferecer esse tipo de serviço, fosse ele a inserção de letras para personalizar ou a possibilidade de escolher cores e detalhes dos modelos. No Brasil, lojas como Schutz e Arezzo também aderiram à onda.
"Nos Estados Unidos, houve um movimento nos anos 80 de reaproveitar as roupas, tirando ou colocando algum detalhe. Antes, os clubbers e os punks também faziam intervenções. O próprio visual do hip-hop vem disso, as pessoas recebiam, de outras, roupas que ficavam grandes, mas davam um jeito de conferir estilo à peça”, afirma Andressa Nobrega, consultora e professora de Estilo na Faap. Apesar de frequentemente usadas como sinônimos, customização e personalização não são a mesma coisa. “Personalizar é deixar do seu jeito, dar um toque que só você pode ter, por exemplo, colocar as iniciais. Customizar é modificar a peça”, explica a professora.
Algumas marcas oferecem há anos a possibilidade de gravar as iniciais dos clientes em objetos, a principal delas sendo a Louis Vuitton. Hoje, esses serviços ficaram mais abrangentes e, no caso da famosa grife francesa, é possível adicionar listras e cores a bolsas e acessórios, por exemplo. “Antes, a marca era maior que a pessoa, agora a ideia é que o cliente se sinta mais próximo do produto, algo que confere exclusividade”, diz Andressa.
Segundo a professora, tanto a personalização quanto a customização têm a ver com os movimentos cíclicos característicos da indústria da moda e também com uma mudança no consumo. “A cada 20 anos a moda volta, mas de forma diferente”, diz. “O que é o luxo hoje? É a percepção de experiência. Dar ao cliente um produto exclusivo e personalizado agrega valor”, afirma.
Feito à mão
Fora das grandes lojas há artistas que trabalham por encomenda para dar uma cara única a objetos diversos. Juliana Ali, que por mais de uma década trabalhou com jornalismo de moda, há seis anos recebe pedidos de amigas para pintar as bolsas delas. A partir daí descobriu uma oportunidade de negócio. “Comecei porque vi a Lady Gaga com uma Birkin da Hermès customizada que achei sensacional. Peguei uma bolsa minha e fiz o mesmo.” Hoje ela vive das customizações, faz cerca de dez bolsas por semana e recebe dezenas de e-mails todos os dias de pessoas interessadas em seu trabalho.
O preço da customização assinada por Juliana varia dependendo da complexidade, mas o valor mínimo é R$ 500. Os preços das bolsas em que ela trabalha são bem mais altos. “A mais barata que costumo pintar custa em torno de R$ 5 mil. Mas tem algumas que chegam a 30 mil”, diz.
A artista plástica Olivia Lambiasi também faz trabalhos de pintura em bolsas. Como Juliana, ela começou pintando uma que tinha comprado, um modelo clássico da Chanel. “Quando finalmente saí com ela, entrei em um restaurante e todos tinham uma igual. Fiquei chateada: se todos têm, não há mais valor naquilo. Decidi fazer com ela algo que tivesse a minha personalidade”, relata a artista plástica.
Apesar de ouvir as preferências do cliente, Olivia não abre mão do trabalho autoral. “Bato um papo para ver o que a pessoa curte, se tem alguma cor que não gosta”, diz.
Por causa da marca autoral, Olivia não gosta de chamar o que faz de customização. “Minha abordagem é diferente. Meu trabalho tem uma linguagem muito própria e uma raiz artística forte porque sou artista”, diz ela, que já trabalhou também em capas de celular, malas, tênis, relógios, jaquetas e até uma geladeira.
Em 2015, pintou uma Mercedes-Benz GLA 250 em uma ação de marketing e, em março de 2017, deve pintar outro carro. O trabalho de Olivia custa a partir de R$ 1200 (em sapatos) e chega a R$ 2000 (em relógios). “As cores que uso têm uma referência brasileira, são alegres, variadas: é para ser divertido, porque é o que somos, vibrantes, felizes”, diz.
Quero ser único
Para a diretora da consultoria de imagem DressCode, Silvana Bianchini, a personalização tem a ver com nossa ideia de elegância. “Se olharmos historicamente, havia os brasões, os homens chiques tinham o monograma na camisa, a nobreza marcava com as iniciais vários objetos: em nossa cabeça, tudo isso está associado a requinte”, diz ela.
A customização, por sua vez, vem mais carregada da ideia de algo único, criativo e artístico, “mas não necessariamente requintado”, diz Silvana. “Ambas refletem o desejo da exclusividade. Ninguém gosta de comprar uma roupa, um acessório ou objeto e ver outros quinhentos iguais”, diz a consultora.
Mas, como explica a professora Andressa Nobrega, trata-se também de uma forma diferente de pensar o consumo. “Não é mais comprar algo novo a toda hora. Com a customização, você consegue resignificar um produto”, diz.
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