Apesar de destaque na moda, idosas ainda têm dificuldade para se vestir
Mulheres idosas estão começando, ainda que timidamente, a ganhar destaque no universo fashion. A modelo Carmen Dell'Orefice, de 85 anos, encerrou o desfile de Guo Pei na Semana de Alta-Costura de Paris, que chegou ao fim na última semana. Grifes como Céline, Saint Laurent e Dolce & Gabbana colocaram beldades mais velhas em suas campanhas. E tem até blogueira de moda da terceira idade bombando de seguidores.
Apesar de dar a impressão que as lojas estão atendendo a esse público, não é bem assim quando essas consumidoras vão às compras. “As marcas estão começando a fazer publicidade sobre isso. Mas é mais uma espécie de truque para chamar a atenção”, afirma Costanza Pascolato, que diz, ela mesma ter complicações na hora de escolher roupas.
“Os velhinhos, mesmo que possam ter mais dinheiro para comprar, têm mais dificuldade. Fica uma encrenca na hora de se vestir. Até com marcas que me ajudam, na hora de provar, veem que minha cintura já não está mais no lugar. Fica difícil acompanhar o prêt-a-porter”, conta a consultora de moda.
Depois dos 60 anos, a gente acha que não pertence mais ao mundo da moda. As roupas não ficam boas. Até sapato é difícil de comprar, porque fica complicado de caminhar com salto.
Costanza Pascolato
Para a jornalista e empresária Gloria Kalil, o desfile de Carmen na Semana de Paris (foto acima, à direita) também não condiz com a realidade, já que o vestido apresentado na passarela não é nada usável. “O que eu vejo é mais uma tendência de chamar atenção para tipos inusitados nos desfiles. A própria roupa que ela está usando não é para mulheres mais velhas. Aquilo é uma fantasia, é ‘freak show’.”
População envelhecendo
A partir de 2030, o país terá mais velhos do que jovens e este envelhecimento súbito exigirá adaptações complexas da sociedade. E da moda também, que terá de começar a dialogar com esse público. “Não vejo marcas preocupadas com a terceira idade. Não é uma preocupação evidente dos estilistas. Vejo pessoas mais velhas e que de fato têm um poder aquisitivo bom com dificuldade de achar coisas. Tem que ficar batendo perna para descobrir uma peça”, diz Gloria.
Esse é um filão que existe e é tendência que cresça, porque as pessoas estão vivendo até mais tarde. Tem toda uma organização que a moda vai ter que acompanhar.
Gloria Kalil
Para Isaac Silva, estilista que costuma vestir a cantora Elza Soares, essas "jovens senhoras" querem roupas que dialoguem com o momento atual. "Elas não são mais vovozinhas, não são a Dona Benta. Essas mulheres estão aproveitando muito a época em que vivem. A cabeça delas é jovem, só o corpo que não acompanha."
E complementa: "Percebo que essas senhoras têm dificuldade de achar marcas e estilistas que conversem com elas. Esse é o grande problema, encontrar peças com modelagem que caia bem em seus corpos, decote apropriado e até tecidos com estampas menos caretas".
Gloria também ressalta que aqui no Brasil, país com uma "cultura muito forte ligada à juventude", o cenário é ainda mais complicado. "Várias marcas que também se dedicavam a esse público, como a Maria Bonita e a Andréa Saletto, fecharam." Para essas consumidoras, parece que o jeito, pelo menos por enquanto, será ainda bater muita perna para encontrar uma roupa ideal.
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