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Vício em sexo, como de Núbia, gera isolamento social e deve ser tratado

Núbia Óliiver comemorou superação do vício em sexo em entrevista para o programa "Câmera Record" - Divulgação/Record
Núbia Óliiver comemorou superação do vício em sexo em entrevista para o programa "Câmera Record" Imagem: Divulgação/Record

Thamires Andrade

Do UOL

08/02/2017 19h26

A modelo e atriz Núbia Óliiver, 43, relembrou, em entrevista para o programa "Câmera Record", a compulsão que tinha por sexo. "Dormia pensando nisso, tinha que dormir fazendo isso, acordar fazendo isso, procurar alguém para fazer isso comigo. Era sexo o tempo todo", disse.

Ela ainda conta que não tinha consciência de que sua vontade por fazer sexo era, na verdade, uma questão patológica. E só se deu conta da gravidade quando não se satisfez após ir para cama com quatro parceiros em um só dia. "Cheguei em casa e não estava satisfeita. A compulsão vai tirando cada vez mais o livre arbítrio da pessoa, a vontade dela decidir", declarou.

De acordo com os especialistas ouvidos pelo UOL, de fato, o vício em sexo é uma doença, inclusive catalogada pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). "É descrito como um distúrbio de uma pessoa que, independente do sexo, que faz com que ela não tenha controle sobre o desejo de transar, realizar o ato e se masturbar", explica Nátalia Barros, médica e sexóloga.

"Entendemos que essa compulsão é provocada pela disfunção de alguns neurotransmissores cerebrais e que isso mexeria com essa parte sexual. Esse vício é uma falta de regulação da função sexual", explica Vânia Calazans, psicóloga pelo IPQ-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Ter muita libido X Ser viciado em sexo

A diferença, segundo Vânia, é a intensidade. A psicóloga explica que as pessoas com compulsão têm necessidade descontrolada de fazer sexo, como a própria Núbiia relatou na entrevista. "Ela faz sexo várias e várias vezes e não fica satisfeita, sempre quer mais", explica.

Nátalia explica que os viciados não conseguem, justamente, controlar o impulso e ainda deixam qualquer atividade para se masturbar ou transar. "Todo mundo recebe estímulos sexuais, mas a diferença entre o compulsivo e uma pessoa com muita libido é que um consegue se controlar e o outro não. O viciado deixa de almoçar quando tem uma oportunidade de relação sexual nesse horário, mesmo que seja com um desconhecido. Para ele, nada é mais importante do que ter relações e se masturbar", afirma.

Já a pessoa com muita libido faz sexo e consegue atingir satisfação com o ato. “Ela se relaciona bem, tem maturidade e consegue controlar o impulso de não ter uma relação em público”, exemplifica a médica.

Isolamento social

Segundo Vânia, esse tipo de comportamento começa no início da adolescência ou da vida adulta e é confundido pelas próprias pessoas como uma libido intensa. “Geralmente a culpa sempre recai no outro. O paciente acha que tem muito fogo, que gosta muito de sexo e acaba cobrando os parceiros. Eles dizem que eles não o acompanham”, explica.

Eles também dificilmente conseguem ter um relacionamento duradouro, já que não encontram ninguém que satisfaça seus desejos. "Os viciados não conseguem manter um relacionamento com uma única pessoa, o que faz com que seus parceiros se cansem de traições", diz Nátalia.

Muitas vezes considerados pervertidos, os viciados em sexo têm um comportamento inadmissível pela sociedade, já que se relacionam com muitas pessoas sempre na busca pelo prazer. "Ele é encarado como transgressor por que não tem dia, hora, nem lugar para fazer sexo. E aí ninguém quer se relacionar com uma pessoa assim, o que os deixa isolados socialmente", explica a sexóloga.

Prejuízos no trabalho

Com o tempo e o amadurecimento, a pessoa começa a ter dimensão do quanto essa vontade incontrolável de transar interfere no dia a dia, até mesmo na vida profissional. "Às vezes a pessoa falta no trabalho só para ter relações sexuais. Diante da tentação, o impulso gera uma vontade de realizar o ato e é como se a pessoa não tivesse escolha. Ela não consegue negociar com os próprios desejos", diz Nátalia.

“A diferença entre os viciados e os que tem muita libido é que quem só gosta de sexo não tem prejuízos na vida. Eles até podem transar várias vezes ao dia, mas não deixam de ir trabalhar por isso”, exemplifica Vânia.

Ausência de sexo seguro

Outro problema, inclusive citado por Núbia na entrevista, é que os viciados em sexo muitas vezes não fazem sexo seguro. "Sabia o risco que estava correndo, mas não tinha responsabilidade. Era uma coisa realmente desvairada", afirmou a modelo.

“Em função da compulsão, muitas vezes, eles não param muito para avaliar o risco, vão pelo impulso, já que a compulsão é uma ausência de freio inibitório. Naquele momento, a pessoa não raciocina e o risco de adquirir uma DST (Doença Sexualmente Transmissível) é grande”, fala Vânia.

Remédios e terapias

Segundo a médica, como o vício em sexo é uma doença psiquiátrica, é necessário acompanhamento médico e um tratamento multidisciplinar para controlar o desejo. "Existem medicamentos que reduzem a liberação de dopamina [hormônio do prazer liberado durante o sexo], mas os pacientes também precisam de sessões de psicoterapia cognitivo comportamental", explica.

Até porque, segundo a sexóloga, o paciente precisa ter lucidez para saber o problema que tem e identificar qual estímulo faz com que ele perca o controle. "É igual o vício do cigarro. Se ao tomar cerveja, a pessoa sabe que aumenta a vontade de fumar, então melhor parar de tomar a bebida", diz.

Vânia não fala em cura do vício em sexo, mas sim em gerenciamento. "A pessoa tem um vício e com o aporte da medicação e da psicoterapia consegue gerenciar isso, equilibrar e ter uma qualidade de vida bacana. É igual um viciado em álcool e drogas, ele sempre terá que aprender a lidar com isso na vida", diz Vânia.