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Aluna reclama de conteúdo sexista em livro de medicina, mas editora esnoba

Conteúdo explora corpo da mulher - Reprodução/Facebook
Conteúdo explora corpo da mulher Imagem: Reprodução/Facebook

Vivian Ortiz

Do UOL, em São Paulo

16/02/2017 16h18

Heloísa Lopes Cohim Moreira, uma estudante de medicina do 8º semestre da Universidade Federal da Bahia, usou seu Facebook para reclamar da empresa Medgrupo, que promove preparatórios para concursos médicos, por publicar material com comentários machistas e cheio de ilustrações que expõem o corpo feminino de maneira vulgar em suas apostilas.

Uma delas, por exemplo, mostra uma mulher era vítima de relacionamento abusivo que, após uma traição e consequente término do relacionamento, decidiu desfrutar da sua liberdade. A cena é retratada com um desenho dela seminua e fantasiada de "diabinha".

"Gostaria de entender os objetivos de tais casos clínicos com tamanha falta de humanidade, bom senso e carregados de tanto machismo e julgamento. Muitos jovens do Brasil tem acesso a esses conteúdos, ou seja, os senhores são formadores de opinião e devem se responsabilizar mais por isso. Espero que as novas edições não apresentem tais absurdos", escreveu na mensagem.

Em entrevista ao UOL, ela ressaltou que não gostaria de mais exposição sobre o caso e que, por isso, acabou restringindo a publicação apenas para amigos. Segundo ela, o objetivo inicial acabou sendo deturpado. "Muitas pessoas começaram a compartilhar a postagem reproduzindo discursos machistas", conta. Contudo, Heloísa nega ter sofrido qualquer tipo de retaliação sobre o assunto.

Uma das pessoas que compartilharam a postagem de Heloísa nas redes sociais foi a advogada Marina Ganzarolli, que é doutoranda em sociologia e cofundadora da DeFEMde-Rede Feminista de Juristas. 

Na legenda, ela afirmou não se espantar com o despreparo dos profissionais da área para lidarem com situações de violência contra a mulher. "Quando falamos em currículo oculto da Medicina é isso que acontece: uma cultura educacional/profissional de opressão, machismo, classismo, racismo e LGBTfobia. Assustador", opinou.

O texto, publicado originalmente pela estudante de medicina em sua rede social, foi o mesmo enviado para o Medgrupo como forma de reclamação em 13 de fevereiro. 

Aluna mostra foto da resposta enviada - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Aluna mostra foto da resposta enviada
Imagem: Reprodução/Facebook

A empresa, de acordo com uma foto da resposta publicada pela estudante, afirmou ser "contra a agenda do politicamente correto".

"Sugerimos que todos que não gostem deste estilo não usem o nosso material, especialmente aqueles que não pagaram por ele", diz a mensagem, assinada como "A Direção".

Para o UOL, a estudante comentou: "Não esperava aquela resposta." Procurada, a empresa ainda não retornou os contatos.

Em contato telefônico, uma pessoa que se identificou como supervisora da Central de Relacionamento, confirmou que essa é realmente a posição da empresa. "Não temos nada a declarar em relação ao material exposto na apostila, e esse conteúdo continuará a ser utilizado normalmente", afirmou.