Catarinense que foi abandonado vira guru da paternidade na internet
Marcos Piangers, 36 anos, tinha tudo para ser um péssimo pai. O homem que engravidou sua mãe não quis assumi-lo e desapareceu. Estatisticamente, jovens abandonados abandonam, e Piangers bem que poderia fazer o mesmo quando sua namorada --hoje, mulher-- engravidou. Mas não só abraçou a paternidade como fez disso uma causa, e hoje tem um séquito de seguidores que o procuram para tirar dúvidas sobre paternidade e até maternidade.
Hoje casado e com duas filhas (Anita, 11 anos, e Aurora, 4), Piangers também é conhecido como o personagem Papai é Pop. Sua página no Facebook soma mais de 1,2 milhão de seguidores e os vídeos que publica em seu canal chegam a ter 5 milhões de visualizações.
"O Papai é Pop nasceu no dia 20 de março de 2005, em Curitiba, em um domingo de manhã, quando a minha filha Anita nasceu", conta, apaixonadamente, sobre o nascimento de seu projeto, que começou com um livro --coletânea de crônicas sobre a vida com suas filhas. Abaixo, Piangers comenta sobre essa nova geração de pais, que não apenas "ajuda a mulher", mas realmente participa da criação das crianças e divide todas obrigações. Ainda fala um pouco da sua trajetória de filho sem pai para o pai mais admirado do momento.
“Pai não é só pagador de conta”
"Homens, em geral, não são muito incentivados a serem pais. Minha filha chegou e do nada eu tive que trocar fralda, cuidar dela, aprender a fazê-la dormir e cada noite em claro foi me deixando mais forte e preparado. É uma missão muito desafiadora, mas incrivelmente recompensadora e mágica. Meus dias têm sido mais felizes desde então.
Quando escrevi o livro, não esperava que fosse virar um assunto, muito menos que fosse criar essa discussão a respeito do novo pai, aquele que participa e está presente. Achava que homens não estavam muito a fim de participar da vida dos filhos.
Mas tem uma nova geração vindo, uma nova configuração familiar surgindo, com uma discussão sofisticada e moderna, em que o pai é mais participativo.
E uma das histórias que mais ouço é justamente essa, de pais que queriam participar mais, mas se sentiam intimidados pela opinião social. Que queriam ir com os filhos a todos os eventos sociais, mas, sempre que levavam, ouviam: ‘Hoje você está de babá?’. Ou de pais que até queriam ser donos de casa ou trocar fraldas, mas nunca encontravam um trocador no banheiro masculino.
Na nossa sociedade, há um monte de recados de que o pai não precisa participar efetivamente da vida dos filhos.
E o que mais escuto é isto: pais que leram o livro ou assistiram aos vídeos e se sentiram incentivados, empurrados para uma nova visão de paternidade, de que pai não é só pagador de conta, mas, sim, alguém que participa ativamente das relações afetivas, educacionais e emocionais da família."
"Quanto mais pais falarem, melhor"
"Eu tento sempre aprender com pais. É incrível a quantidade de coisas que conheço com os outros caras. Uma vez um homem me falou que tinha quatro filhos --três meninas e um menino. E, como tinha muita gente na casa, tirava uma vez por semana para jantar com um deles sozinho.
Achei isso demais e passei a fazer com a minha filha mais velha também. Agora a gente sai para jantar algumas vezes por mês, para conseguir conversar só eu e ela, para eu saber o que ela está passando e quais são seus medos e anseios. Isso faz muito bem para a nossa relação, porque ela tem um ambiente seguro de conversa, sem outras pessoas avaliando o que ela está falando.
Acho que, quanto mais homens participarem e compartilharem suas experiências, melhor será para todos os outros pais. Quanto mais pai fizer blog, Instagram, vídeo no YouTube, falar sobre paternidade e dividir suas experiências, mais a gente se vai sentir inspirado e tranquilizado para participar da vida dos filhos."
“Tem pai que não quer estar lá”
"Além destes pais que querem participar mais, também escuto muitas histórias de homens que, assim como eu, foram deixados pelos pais ou de mulheres que foram abandonadas grávidas. Mesmo os pais que não abandonam, muitas vezes, não estão em casa. Estão sempre com os amigos no happy hour, jogando bola, no churrasco ou vendo televisão.
No Brasil, é até meio que um luxo ter um pai presente, participativo e inspirador. Homens, na verdade, não têm muitos referenciais.
Vivemos em um país pobre em que muitos meninos são criados sem pai. E quando engravidam uma menina, também acabam abandonando ou se mantendo distantes, porque não têm referencial e acham que abandonar é o padrão. Eu tive sorte de ter tido uma mãe tão guerreira, uma esposa tão esclarecida e duas filhas que me ensinam todos os dias a ser um pai melhor.
Muitas mães solteiras me procuram para saber como lidar com a situação do abandono. Ficam na dúvida se contam para o filho quem é o pai, se escondem. Acho que cada caso é um caso. O que recomendo é explicarem que tem um pai que não quer estar lá, que não quer participar. E nunca também detonar o pai, dizer que ele é isso ou aquilo. Essa é outra forma de não ser sincero, de não ser claro, com a criança.
Também acho importante não endeusar o pai, não mitificar, dizer que o pai era uma pessoa incrível, porque quem é incrível de verdade é você que está ali ao lado, pagando todas as contas e criando seu filho sozinha. É muito fácil para homens saírem correndo e fugirem, porque eles podem. Já as mulheres são obrigadas, até fisiologicamente, a lidar com a criança."
“Um filho te torna uma pessoa melhor”
"Depois de ter filho, você passa a querer ser uma pessoa melhor, porque vai dar o exemplo. Então, a gente tenta ser mais educado, generoso, e até mais engajado em causas ecológicas e sociais. Você para de perpetuar certos pensamentos por respeito e amor a suas filhas, para ela viverem em um mundo mais justo e seguro.
Quando você é pai de menina, começa a perceber que tem muito preconceito, disparidade e injustiça que as mulheres passam.
Passei a ser mais respeitoso com todas as mulheres e a me esforçar, inclusive, para ser um ser humano melhor em relação às minorias e a todos os injustiçados. O mundo pode ser melhor, mas isso passa por você, que tem filho, estar presente na criação deles, passando valores de generosidade e humanidade.
Tenha vergonha de não estar lá, de não estar participando, de não estar ouvindo, de não estar presente para ajudar seu filho ou sua filha a se sentirem mais seguros, de não criar para eles um referencial de uma pessoa empática, boa e legal para seus descendentes."
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