Regras, ciúme e prazer: 4 casais contam como vivem o relacionamento aberto
Como diz a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, monogamia não garante fidelidade. Pensar dessa forma pode ser uma vantagem se o objetivo é ter sucesso em um relacionamento em que a exclusividade não é uma regra.
Ter um relacionamento aberto não precisa ser necessariamente algo que se faz desde sempre. O UOL conversou com quatro casais que mudaram suas relações com o passar do tempo.
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A seguir, eles contam como decidiram ir por esse caminho e o que fazem para lidar com os obstáculos, como o ciúme, para seguirem juntos.
*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos personagens.
A decisão deve ser do casal
"Começamos a ser muito sinceros sobre o desejo que tínhamos por outras pessoas. Conforme isso foi sendo falado, parecia não fazer sentido prender o outro. Depois de muito diálogo, ficou claro que nos amamos muito, mas que o relacionamento monogâmico nos forçava a reprimir vontades. O tempo foi passando, os filhos cresceram e sentimos necessidade de nos redescobrir, conquistar, transar com outras pessoas e até mesmo se apaixonar. Eu, Livia, queria saber que mulher eu era fora desse relacionamento depois de tudo o que passamos juntos. E queria que ele vivesse também, curtisse e experimentasse sem culpa". Livia, 27, e Lucas, 30, estão casados há oito anos e há um decidiram abrir a relação.
"A iniciativa de abrir o relacionamento partiu de mim, Marjorie, porque eu percebia que não me adaptava à monogamia. Depois de muito tempo tentando me encaixar, enxerguei que ou a gente rompia ou abria a relação. Continuar como estava não estava dando certo", Marjorie, 30, e Bruno, 38. O casal está junto há oito anos e há um o relacionamento aberto começou.
"Temos histórico de relacionamentos monogâmicos falidos e, por isso, já sabíamos que em uma relação com dois homens a chance de traição é enorme. E isso não tem a ver com não amar, mas sim porque temos uma necessidade de curtir com mais pessoas. Trocamos a tal da fidelidade por algo que faz muito mais sentido, a lealdade. Acima de tudo somos amigos, sócios profissionais e construímos nossa vida como qualquer outro casal: estamos investindo em nosso segundo apartamento, nossas famílias se conhecem e se adoram. Ou seja, somos um casal 'normal', mas que na intimidade sabe que pode ter prazer de outras formas". Kaique, 31, e João, 28, estão juntos há 6 juntos e há três mudaram o caminho do relacionamento.
"Foi um processo bem tranquilo. Eu aceitei que era bissexual e quis me abrir mais para esse novo lado da minha vida. A iniciativa, inclusive, partiu dele, mas era algo que eu já tinha pensado. A ideia inicial era procurar só pessoas que interessassem aos dois, mas depois de algumas divergências, resolvemos abrir mesmo, sair sozinhos". Joana,24, e Hugo, 23, namoram há 6 anos e o relacionamento aberto começou há três.
Há regras para não desrespeitar o parceiro
"Temos alguns combinados para evitar machucar o outro. Sempre conversamos muito sobre nossas limitações, inseguranças, desejos e planos. Vamos ajustando isso conforme sentimos necessidade. Nós mudamos muito desde que abrimos o relacionamento e os combinados foram sendo adaptados", Livia e Lucas.
"Existem regras, mas que são as mesmas que qualquer solteiro leva para a sua vida, como se prevenir sempre com outras pessoas --e usar camisinha se for para a cama-- e tomar cuidado com estranhos e bebidas alcoólicas. Nada que os solteiros também não precisem estar atentos", Marjorie e Bruno.
"Em quase todos os casos ficamos os dois juntos com o terceiro integrante. Vez ou outra ficamos separados. Nosso tesão está em curtir um ao outro tendo prazer. Também somos bem poliamorosos, ou seja, criamos vínculos com essas pessoas, nos tornamos amigos e curtimos várias vezes com a mesma pessoa. Uma das poucas regras que temos é que o 'convidado' seja do gosto dos dois. Às vezes não dá para agradar e aí cedemos", Kaique e João.
A nossa regra é sempre contar para o outro quando acontece um encontro fora do relacionamento para evitar manter segredo ou que a informação venha de fora e cause um desentendimento (Joana e Hugo)
O ciúme faz parte
"Já rolaram vários episódios de ciúmes. O ciúme é natural e surge porque temos inseguranças, medo de perder o amor do outro. Mas quando ele vem junto com o sentimento de posse, faz muito mal e é esse ponto que a gente tenta trabalhar. É normal sentir ciúmes, mas o que mudou foi a forma como aprendemos a lidar com ele. É claro que para isso a gente precisa cuidar um do outro, ouvir e compartilhar. Nosso relacionamento é muito mais profundo hoje por conta dessa sinceridade e transparência que buscamos na nossa relação", Livia e Lucas.
Ciúme rola sempre, um friozinho na barriga quando o outro sai.... Mas aprendemos a ser menos egoístas e achar legal quando o outro está vivendo algo bacana ou se divertindo. Mesmo quando você não faz parte (Marjorie e Bruno).
"Existe ciúme e é muito natural --e ao mesmo tempo sexy. Confiamos muito um no outro e durante o sexo nos entregamos sem medo. O legal é que os terceiros também têm experiências anteriores e respeitam muito nosso espaço, além de saberem que não são 'objetos' em nossa relação, mas sim caras legais que podem somar bastante", Kaique e João.
"Nenhum dos dois é muito ciumento. A verdade é que não somos muito parâmetro para falar dessas coisas. Eu, Joana, sempre digo que não sou fiscal. Ele faz o que quiser e espero o mesmo tipo de liberdade. Saímos sozinhos, sim, mas como o círculo de amizade é o mesmo --fizemos faculdade e trabalhamos juntos uns anos-- acabamos saindo mais juntos do que separados", Joana e Hugo.
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Quando o relacionamento aberto atrapalhou
"Chegamos muito perto de nos separar logo no começo porque nos afastamos muito. Fazia tanto tempo que a gente se reprimia, que logo que abrimos começamos a ficar com muita frequência com outras pessoas. Rolaram algumas paixões e era muito difícil lidar com isso. Brigávamos muito e não conseguíamos nos entender. Fomos parando de cuidar um do outro, ficamos egoístas. Acabávamos fugindo dos nossos problemas e em vez de tentar resolver, íamos atrás de outras pessoas. Quando percebemos, havia um abismo entre nós. Foi muito difícil essa fase", Livia e Lucas.
"Acho que o maior perigo que nossa relação teve foi quando apareceu uma terceira pessoa e nosso relacionamento ainda era fechado. Para viver aquilo automaticamente a relação teria que acabar. E foi uma época complicada para a gente. Depois que abrimos nunca mais isso aconteceu. Mas sabemos que esse risco existe, como em qualquer outro tipo de casamento", Marjorie e Bruno.
"Já nos apaixonamos por outras pessoas, mas conversamos e levamos numa boa. Só uma vez tivemos crise realmente com relação a isso. Muitas pessoas perguntam se não temos medo de perder e o que respondo é o risco sempre existe para qualquer tipo de casal. Podemos, por exemplo, estar num metrô indo para o trabalho e nos apaixonar por alguém. Por isso, que seja eterno enquanto dure", Kaique e João.
"Eu, Joana, passei um ano morando no exterior e essa época foi muito problemática para nós. Mas foi mais porque estávamos longe, com a comunicação prejudicada do que propriamente por se relacionar com outras pessoas", Joana e Hugo.
A frequência do "terceiro elemento" não tem regra
"Não temos uma regra fechada para a frequência. Saímos, em média, uma vez por semana sem o outro, quando podemos ou não ficar com outras pessoas. O resto do tempo é dedicado um ao outro, à nossa vida em família. Ocasionalmente nos relacionamos juntos com outra pessoa ou casal. Não vemos o relacionamento aberto como uma solução para problemas conjugais. É uma escolha que fizemos para nós, mas que nos traz diversos outros problemas e desafios (Livia e Lucas)
"Não tem frequência. As coisas acontecem e não conseguimos prever quando vamos encontrar alguém interessante", Marjorie e Bruno.
“Temos uma certa ‘sazonalidade’. Às vezes passamos o mês inteiro só nós dois, sem necessidade de uma terceira pessoa”, Kaique e João.
"Ficamos mais juntos só nós dois do que com outras pessoas. É mais por estar aberto à possibilidade de querer algo sem ficar se privando. Não é uma questão de 'ai meu deus, preciso beijar outras bocas', simplesmente assumimos e realizamos nossas outras necessidades", Joana e Hugo.
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