Por que a primeira-dama da França sofre tanto bullying?
Os franceses têm fama de liberais e costumam dizer "c'est dans les vieux pots qu’on fait les meilleures soupes" ( "é nas panelas velhas que fazemos as melhores sopas", em tradução livre do francês). É uma referência de como a experiência de vida é valorizada por lá. Ou melhor, era. Podia até ser assim no passado, mas não em 2017.
Desde que Marine Le Pen, candidata de ultra-direita perdeu as eleições presidenciais para Emmanuel Macron, o que tem ganhado grande destaque na imprensa francesa é um detalhe superficial. A diferença de idade de 24 anos entre o novo líder francês e sua mulher, Brigitte Macron, não para de ser assunto por lá - e em alguns veículos europeus também.
E se o presidente fosse bem mais velho?
Ela tem 64 anos, ele, 39. A título de comparação, Donald Trump tem 70 anos, e Melania Trump tem 47. Ele é 23 anos mais velho, mas muito pouco se falou a respeito disso. Michel Temer, por exemplo, é 42 anos mais velho que a Marcela Temer -- e isso não foi motivo de piada nos jornais brasileiros. "Para a mulher, pesa o fato, simplesmente, de ela ser mulher”, diz Ailton Amélio, psicólogo e autor dos livros "Relacionamento Amoroso" e "Para Viver Um Grande Amor".
Brigitte lê todos os discursos de Macron, critica o que deve ser modificado, participa de reuniões de sua equipe. Mas, para o jornal britânico "Daily Mail", Brigitte é simplesmente "uma vovó". "Sim, ela tem sete netos, mas essa é apenas uma forma sutil de reforçar o fato de ela ser mais velha", diz o psicólogo.
Já para o site francês "Au Feminin", o que importa é que Brigitte "usa saias curtas demais para sua idade". E que ela não trocou de roupa entre um evento da tarde e outro à noite.
"Perderam o senso de realidade", reclamou Macron
Alguns veículos foram ainda mais venenosos. Publicaram especulações de que Brigitte seria apenas uma esposa de mentirinha, para encobertar a homossexualidade do presidente. "As pessoas perderam o senso de realidade", reclamou Macron durante uma entrevista para o "Le Parisien".
Uma das filhas de Brigitte, Tiphaine Auzière, 32, também saiu em defesa da mãe. Em entrevista ao canal francês BFMTV, ela disse que "ataques desse tipo jamais seriam direcionados a políticos homens ou maridos de mulheres que trabalham com política". E completou: "É completamente inapropriado".
Para o psicólogo Ailton Amélio, a explicação para o bullying contra a primeira-dama também acontece pelo fato de o presidente ter conhecido a atual esposa quando ainda era menor de idade. "Ela foi professora dele. Mas o que a imprensa tem feito com Brigitte só pode ser classificado como discriminação e machismo mesmo", define.
A professora do presidente
Brigitte era professora de Emmanuel Macron, no início dos anos 90, em Amiens, no nordeste da França. Na época em que se conheceram, ela era casada e tinha três filhos. Dez anos depois, recém-divorciada, reencontrou Macron e, em 2007, eles se casaram.
Seguindo a vida política do marido, Brigitte parou de lecionar para ajudar na campanha. Agora, no papel de primeira-dama, Emmanuel prometeu que "Brigitte estará ao meu lado como sempre esteve, mas também terá um papel público".
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