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Para Fernanda Young, juiz questionar sua reputação é grave como a agressão

Helena Bertho

do UOL

10/06/2017 12h33

Assim que viu o e-mail com a sentença do juiz sobre seu processo contra um homem que a atacava virtualmente, Fernanda Young, 47, achou que aquilo era uma piada. "Não era exatamente engraçado, mas eu fiquei  chocada", lembra a escritora. No documento, o agressor, que a insultou nas redes sociais, recebia a sentença de pagar R$ 5 mil a Fernanda, que no mesmo documento levou uma bronca do juiz, questionando sua reputação.

"O valor leva em conta ainda o fato da autora ter artisticamente posado nua, de modo que sua reputação é mais elástica", escreveu o juiz Cristopher Alexander Roisin, da 11ª Vara Cível de São Paulo. O UOL não conseguiu entrar em contato com ele até a publicação da matéria. 

Apesar de preferir não se expor, a roteirista e atriz topou dar entrevista porque acredita que não pode ficar calada. "Isso que aconteceu é tão sério e grave quanto a agressão e fortalece o agressor. O fato é que eu ganhei a causa, mas ao mesmo tempo ele disse: a culpa é sua".

"Ele (o juiz) não me conhece, minha vida pessoal é muito restrita. Ele veio com uma opinião pronta. Mas nem que eu fosse dona de um bordel, não importa, ele não poderia dizer isso. A partir do momento que você foi agredido, não importa a sua conduta. Essa bronca legal é uma forma de dizer que a vítima é culpada", disse ela, que foi incentivada pelas filhas a recorrer da decisão.

Para ela, é também chocante que a nudez ainda cause esse tipo de reação. "Eu não acredito que nessa altura do campeonato ainda tenha gente querendo me criticar porque uso essa ou aquela forma de me expressar".

"A sentença não é lugar de expressar opinião"

O processo trata de um crime de assédio de cunho virtual e isso para ela traz um peso ainda maior para a história. "É uma forma muito recente em que a natureza do machismo se expressa. Eu sou uma pessoa pública e posso falar, mas tem muitas meninas que são agredidas nessa terra de ninguém e não podem se expressar".

Ao expor a história, Fernanda espera que isso não caia no esquecimento e que haja alguma consequência no modo como os profissionais da lei atuam.

Segundo seu advogado, Vinicius Tini, a postura do magistrado está errada. "Todo mundo tem a própria moral, mas a sentença não é o lugar para expressar isso. Principalmente em uma lição de moral que ofende a autora e acaba indo para essa culpabilização da vítima", explica.

Se pudesse ficar frente a frente com o juiz Cristopher Alexander Roisin, Fernanda diria que sente pena dele: "Deve ser insuportável viver com esses conceitos que você diz serem 'gregos'. Espero que você não tenha filhas. Ou melhor, espero que você tenha e elas possam abrir essa argamassa de cimento que é a sua cabeça". 

 Se o UOL conseguir entrar em contato com o juiz Cristopher Alexander Roisin, este link será atualizado.