Congelamento de óvulos deve ser feito até os 35 anos; entenda como funciona
Adiar a gravidez é uma realidade cada vez mais comum às mulheres. Nos últimos 16 anos, o Brasil viu crescer em 27% o número de gestantes com mais de 40 anos, segundo o IBGE. Muitas delas recorrem ao congelamento de óvulos, procedimento conhecido como vitrificação ou criopreservação de óvulos, para planejar a gravidez considerada tardia
Inicialmente, o congelamento de óvulos era usado exclusivamente como alternativa para mulheres diagnosticadas com câncer. Isso porque a quimioterapia e a radioterapia ao mesmo tempo em que destroem as células tumorais, também podem atingir as células germinativas, causando infertilidade. Agora, o procedimento, como alternativa para uma gravidez programada tem levado muitas mulheres a clínicas de fertilização no país todo.
Elas querem um pai
Uma pesquisa realizada recentemente pela Universidade de Yale, nos EUA, e apresentada na conferência da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, na Suíça, mostrou que, mais do que priorizar a carreira, mulheres têm optado pelo congelamento por falta de um parceiro disponível – e dispostos a se relacionar. O levantamento foi feito com 150 mulheres, que congelaram seus óvulos em clínicas de reprodução assistida nos EUA e em Israel. E 90% delas admitiram ter recorrido ao procedimento diante da inexistência de um parceiro comprometido em construir uma família. Os especialistas brasileiros atestam a tese.
Segundo a médica Thais Domingues, especialista em reprodução humana do Grupo Huntington, esta é a maior queixa de mais da metade das pacientes que chegam ao seu consultório: “Elas têm entre 35 e 37 anos e são solteiras”. O ginecologista Carlos Alberto Petta, coordenador da Clínica Fertilidade e Vida e do serviço de reprodução humana do Hospital Sírio Libanês, acrescenta ainda que muitas das pacientes que o procuram “tomam a decisão após o término de um longo relacionamento”.
Esse foi o caso da musa fitness Karina Bacchi, 40, que está à espera de seu primeiro filho. Depois de seis anos de casamento, ela optou pela produção independente, realizada com a ajuda dos óvulos congelados anos antes. Na lista de famosas que recorreram ao congelamento estão ainda Suzana Pires, Paula Burlamaqui, Jennifer Aniston e Sofia Vergara.
A biologia pode ser cruel para quem pretende postergar a maternidade, por conta do envelhecimento dos óvulos que se dá a partir dos 35 anos e do aumento das chances de uma gravidez de risco. A ciência, por outro lado, entra em cena para dar mais tempo ao famoso relógio biológico. Aqui, os especialistas esclarecem todas as dúvidas que ainda rondam o congelamento de óvulos, um dos grandes aliados da mulher moderna.
Existe uma idade mais aconselhada?
Os especialistas orientam que o congelamento de óvulos seja feito até os 35 anos. Esta é uma idade decisiva para as mulheres. A partir deste momento, elas se deparam tanto com a diminuição da quantidade, quanto da qualidade dos óvulos produzidos por folículos que estão em processo de envelhecimento. Essa perda de qualidade impacta diretamente na diminuição de chances de fecundação do óvulo pelo espermatozoide e no aumento de riscos de doença genética, como a conhecida Síndrome de Down. De maneira natural, as chances de gravidez entram em queda acentuada a partir dos 40. “Se aos 35, a futura mãe tem 60% de chances de engravidar; aos 40, ela tem 30%; aos 42, a taxa vira 15%; e aos 43, cai para 7%”, explica o ginecologista Carlos Alberto Petta.
O congelamento de óvulos reduz as chances de gravidez de risco depois dos 40 anos?
Em termos de má formação do feto e doenças genéticas, as chances são menores conforme a boa condição do óvulo. Como dito acima o risco é menor quando o óvulo é congelado antes de a mulher completar 35 anos. Por outro lado, complicações clínicas decorrentes dos riscos de diabetes e hipertensão gestacional se mantém. A atenção médica deve ser redobrada!
Toda mulher pode congelar?
Sim, desde que não tenham entrado em processo de tratamento de câncer. Neste caso, especialistas sugerem que o congelamento seja feito antes do ciclo medicamentoso, que atinge as células germinativas, aumentando os riscos de infertilidade.
Como funciona o procedimento?
A primeira fase começa junto com a menstruação da paciente, que recebe uma injeção diária de hormônios estimulantes da ovulação, durante dez dias ininterruptos. A aplicação é subcutânea e feita na região do abdômen. Via de regra, toda mulher produz um óvulo por mês. Com o estímulo, a quantidade sobe para 15.
A segunda etapa acontece dois dias depois e envolve uma punção sem cortes, realizada por meio de um ultrassom vaginal. Nesta fase, os óvulos são aspirados e, em média, oito deles são congelados. O processo todo leva duas semanas.
Como é feita a coleta?
O procedimento é realizado na clínica de fertilização e a paciente é liberada no mesmo dia da punção. O médico usa anestesia, mas por se tratar de um procedimento simples, não há a necessidade de entubação. A técnica é indolor, mas algumas mulheres chegam a ter cólicas leves e pontuais após a coleta.
Quanto custa?
O valor costuma ser alto. A estimulação hormonal, vitrificação e fertilização dos óvulos custam entre 8.000 e 13.000 reais, a depender das etapas realizadas e da clínica escolhida. Além disso, é importante ainda desembolsar uma espécie de aluguel para manter os óvulos congelados no laboratório. A taxa anual custa, em média, 900 reais. No Brasil, nenhum plano de saúde cobre o procedimento, assim como não é possível realiza-lo no SUS (Sistema Público de Saúde).
A estimulação hormonal provoca riscos à saúde?
Há dez anos, quando a técnica se tornou mais conhecida, havia uma preocupação com a síndrome do hiperestímulo ovariano, que poderia resultar em complicações graves, como inchaço dos ovários e acúmulo de líquido no abdômen. Hoje, os especialistas garantem que o avanço da medicação tornou a prática bastante segura e isenta de riscos.
Os óvulos têm prazo de validade?
Não. As técnicas avançadas permitem que os óvulos sejam mantidos congelados por tempo indeterminado. Além disso, 99% deles sobrevive ao descongelamento.
Existe diferença entre a gravidez de um óvulo comum e a de um congelado?
A diferença está apenas na fertilização. O óvulo congelado precisará ser fecundado por meio de um tratamento de fertilização in vitro. Depois de fertilizado, o óvulo se comporta exatamente igual em ambos os casos. E vale ressaltar que o descongelamento não provoca perda de qualidade do óvulo.
É possível descartar os óvulos congelados?
O descarte dos óvulos pode ser feito a qualquer momento, assim que a mulher achar mais oportuno. Ele será feito pela própria clínica de fertilização, após a assinatura de um termo de responsabilidade. Se preferir, a paciente pode ainda encaminhá-los para a doação, desde que de maneira anônima. Ou seja, não é permitido escolher para quem eles serão doados.
Qual a diferença do congelamento de óvulos para o congelamento de embrião?
Enquanto o congelamento de óvulos se restringe ao gameta feminino, o de embriões é resultado de uma fertilização in vitro do óvulo com o espermatozoide. Isso significa que o embrião pertence a duas pessoas, um homem e uma mulher. Por isso, todas as decisões sobre descarte – que, neste caso, só pode ser feito obrigatoriamente depois de cinco anos - e descongelamento devem ser conjuntas. Burocraticamente, o segundo processo é mais complexo.
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