"O câncer é um fantasma, mas ficou para trás", diz Sabrina Parlatore
"Começar de novo e contar comigo. Vai valer a pena ter amanhecido". Se fosse escolher uma trilha sonora para definir seus últimos dois anos, Sabrina Parlatore, 42, escolheria “Começar de Novo”, de Ivan Lins. A canção ainda não foi interpretada por ela no programa "Popstar", mas diz muito sobre a fase mais difícil da sua vida. Há 2 anos, ela descobriu um câncer de mama. “Vivi momentos ruins, senti meu corpo 'semi-vivo'. Tive medo de não aguentar o tranco, mas resisti bravamente", diz, um ano e meio após a cura.
Quem a vê soltando a voz ao vivo, aos domingos, e superando a maioria dos concorrentes, pode até se surpreender. A música, porém, sempre foi coisa séria. Sabrina estourou na carreira de apresentadora à frente do "Disk MTV", nos anos 90, canta profissionalmente e, claro, encontrou nas melodias aliados para sua recuperação. "Eu vivia cantarolando letras que me convenciam de que tudo valeria a pena e eu teria dias melhores", desabafa. O diagnóstico do câncer era um adversário que ela nunca imaginou ter que enfrentar.
A notícia caiu como uma bomba, em maio de 2015, um ano depois de ter descoberto um caroço na mama durante um exame de rotina. O médico, na época, preferiu ignorar o nódulo. "Fui vítima de uma negligência", conta. "Ainda assim consegui detectá-lo a tempo e em fase inicial."
Seis meses de quimio
Foram seis meses intensos de quimioterapia. Primeira da família a ter a doença, Sabrina desconhecia as mudanças físicas que estavam por vir. "A princípio, não fiquei aflita. Quando o fim do tratamento foi se aproximando, tive dias muitos difíceis", relembra.
A queda de cabelo me apavorou, fiquei com a pele amarelada, perdi as sobrancelhas. É muito difícil se olhar no espelho e não se reconhecer. O câncer mexeu demais com a minha autoestima. É duro para uma mulher.”
“Se perde muito tempo se preocupando com a aparência”
Vaidosa, Sabrina recorreu a uma touca hipotérmica que evita a queda total dos fios em situações como essa. O mecanismo é simples: a temperatura baixa da peça diminui o fluxo sanguíneo na cabeça e, com isso, o quimioterápico não chega ao folículo piloso. Desta forma, a queda de cabelo é amenizada. "É bem dolorido usá-la, mas sou bastante resistente à dor. Para mim não foi uma experiência traumática", conta. Com essa ajuda, ela perdeu só 30% dos fios e não precisou usar peruca.
Se na época, não saia de casa sem maquiagem. Agora, recuperada, gosta de circular de cara lavada, mesmo que isso lhe renda olhares de julgamento. "Noto as pessoas impressionadas. Não me importo. Não faria nenhuma cirurgia plástica também, sou a favor da naturalidade. Claro que me olho no espelho e vejo que estou ficando velha, mas também enxergo uma mulher vitoriosa e livre".
Cássia Kiss, 59, é sua musa. As rugas e marcas de expressão expostas na tela fazem da atriz uma referência de beleza para Sabrina. "Mostra personalidade, história, vivência. Passei a valorizar isso com a maturidade".
Hoje, ela comemora também não ter precisado se submeter a uma mastectomia, nem colocar silicone. "Só a possibilidade já me deixava apreensiva. Amo os meus seios como eles são." O tumor ainda inicial exigiu uma retirada imperceptível da mama.
Entre os novos hábitos que diagnóstico lhe rendeu, destacam-se a alimentação a base de orgânicos e a prática diária de exercícios físicos. Seu foco é no bem-estar e na saúde.
"Me interessa ser feliz"
Antes de dar início ao tratamento, Sabrina foi orientada pelos médicos a congelar os óvulos. O medicamento ataca não só as células tumorais, como também as germinativas. Na época, ela era casada com Alfredo Motta, com quem ficou por dois anos. A separação aconteceu durante as 16 sessões de quimio. A mudança interior e a descoberta de que precisava dedicar mais tempo a si mesma foram os motivadores do término.
"Sempre fui muito carente, emendei muitos relacionamentos. Eu precisava aprender a curtir minha própria companhia". E é isso o que tem feito: "namorado com a própria vida", como gosta de dizer. "Acho que estou ficando velha mesmo", brinca.
Os planos de maternidade também foram adiados por tempo indeterminado. "Muita gente me questiona sobre filhos. Definitivamente, não quero pensar sobre isso agora". O futuro para ela não existe. Viver o presente é o que mais importa.
"Aos 20 anos, você quer fazer e acontecer. Aos 40, entende que tudo tem seu tempo". Por isso, não deixa mais o trabalho se sobrepor à qualidade de vida. Cada vez mais, Sabrina tem a certeza de que suas células foram maltratadas pelo estresse. Estar sempre à disposição, não ter rotina, mudar de planos a qualquer momento por um compromisso profissional são coisas as quais ela não se presta mais.
De volta à TV, depois de um convite inesperado, ela se diz novamente realizada. Todo domingo, sente um frio na barriga ao ser anunciada para subir ao palco pela apresentadora Fernanda Lima, que a descreve como "musa da MTV dos anos 90". O rótulo não a incomoda. "Mas remete a algo bem do passado", diz entre risos. "Até acho carinhoso. Gosto de acreditar que deixei minha marca".
Essa lucidez é fruto da experiência intensa que espera não enfrentar novamente. "Confesso que cada novo exame vem acompanhado de muita tensão. O câncer é um fantasma, mas ficou para trás", diz.
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