Bloquear puberdade: saiba como é o tratamento para crianças transgênero
Nascido biologicamente menino, uma criança de 12 anos de Uberlândia (MG) que se identifica como menina acaba de conquistar na Justiça o direito de interromper a puberdade. O tratamento evitará que o corpo dela produza barba e que sua voz engrosse, por exemplo.
A garota transgênero, em resumo, continuará com corpo de criança durante mais tempo. "Bloquear a puberdade significa que não irá desenvolver agora os caracteres sexuais secundários nem de menino nem de menina", explica Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual, do Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Para os transgêneros, esse tipo de ação ajuda a evitar situações vexatórias socialmente, conta o médico. "Vai evitar que, por exemplo, o menino transgênero desenvolva mamas e menstrue. Se for uma menina transgênero, vai impedir que tenha barba, que o pênis cresça, que engrosse a voz e que tenha o pomo de adão. Enfim, que desenvolva todas as características que biologicamente pertençam a um sexo ou a outro".
O psiquiatra aponta que o bloqueio precisa ser feito no momento certo, logo no início da puberdade. "A ideia é ter mais tempo para observar o paciente e fazer o diagnóstico, para o pré-adolescente tomar as decisões, saber de tudo que vai acontecer na vida dele se optar pelo tratamento hormonal. Existe todo um cuidado com esse diagnóstico e a consulta do paciente e da família", revela Alexandre.
Como funciona?
Antes da decisão de impedir a puberdade ser tomada, cada paciente transgênero é examinado e tem um diagnóstico inicial. Depois passa por todas as avaliações psiquiátricas, psicológicas e sócio familiar. Se está próximo da puberdade, a pessoa então é encaminhada para o endocrinologista também examinar.
"Se o endocrinologista avaliou, tem o nosso aval, um diagnóstico e a gente tem certeza que é um menino trans ou uma menina trans, aí sim vai para o bloqueio", diz o médico.
"É uma substância que vai impedir que o hipotálamo aja sobre a hipófise e desencadeie a puberdade. O bloqueio impede que o organismo desenvolva os hormônios sexuais", esclarece Alexandre.
Após o bloqueio ser iniciado, o pré-adolescente é acompanhado pelos médicos até os 16 anos. Ao chegar nessa idade, a equipe decide, junto com os envolvidos, se apenas interrompe o tratamento, para que o corpo continue o processo de puberdade do sexo biológico, ou se opta pela terapia hormonal do sexo oposto. Se a escolha for pela segunda alternativa, a pessoa precisará tomar essa medicação pelo resto da vida.
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