A história do jovem com Down que criou sua marca de brigadeiro: a Downlicia
Gabriel Bernardes de Lima, 21 anos, começou, em abril, a fazer brigadeiros gourmet para vender. Como qualquer jovem, já faz grandes planos para o dinheiro que tem ganhado. “Quero comprar um carro e ter a minha própria loja”. Gabriel tem síndrome de Down.
O projeto ainda levará algum tempo para ser realizado, mas ele já contribui com as contas da casa em que mora com a mãe, a secretária Martha, e a irmã mais velha, Carolina, 22, em um bairro da zona sul de São Paulo.
Antes de ser um negócio, a Downlicia –marca dos brigadeiros de Gabriel– é mais um esforço de Martha para mostrar que a síndrome não é empecilho para uma vida independente.
Cozinheiro precoce
“O Gabriel começou a se interessar por cozinhar com uns nove anos. Ele fazia sanduíches e sucos. Já maior, eu o ensinei a mexer no fogão, e ele aprendeu a fazer café, fritar ovo... Quando falava para alguém o que ele sabia fazer, percebia que a pessoa me olhava desacreditando. Foi assim que tive a ideia de gravar os vídeos”, fala Martha.
A primeira gravação postada no YouTube por Martha –que aprendeu fuçando na internet a editar e a postar na plataforma– mostra o rapaz passando um cafezinho no coador.
Depois vieram vídeos dele fazendo macarrão com molho branco, bolo de coco e pastel. Entre uma receita e outra, a secretária gravava outras cenas do cotidiano do filho, como ele se barbeando e fazendo aulas de bateria.
A iniciativa teve como objetivo inicial mostrar a vida autônoma que o rapaz leva. Segundo a mãe, Gabriel entende melhor os percursos de metrô do que ela. Sai sozinho para resolver tarefas do dia a dia e tem conta em banco.
Surge um negócio
Em abril, depois de postar um vídeo no qual Gabriel aparecia fazendo brigadeiro de limão e de café, os conhecidos começaram a perguntar para Martha se eles estavam vendendo os doces. A secretária pensou: “Por que não?”, afinal ,já pensava em ajudá-lo a encontrar um emprego.
A secretária enfrentava sérias dificuldades financeiras desde 2015, quando viu minguar o seu negócio, que era agenciar DJs para tocar em clubes e festas. Sem contar com a ajuda financeira –nem a presença– do pai dos filhos, Martha teve de sair do apartamento alugado em que vivia para um bem mais simples, sem contrato formal.
A situação ficou difícil a ponto de ela ter de pedir ao padre da paróquia do bairro uma cesta básica mensal para a família. “Chegamos a não ter nada em casa para comer”, conta ela, que, logo depois, começou a trabalhar na secretaria da igreja, sua ocupação atual.
Cliente famosa
As primeiras encomendas vieram de pessoas conhecidas, mas o negócio engrenou. Os pedidos agora chegam via redes sociais. A página da Downlicia no Facebook tem mais de 13 mil curtidas. No Instagram, Gabriel tem quase 4.400 seguidores. “Não sei como os brigadeiros chegaram na Kéfera [youtuber], que até gravou um vídeo no Stories mostrando os doces e o folheto da marca”, diz a mãe.
Agora Gabriel concilia a produção dos brigadeiros com os estudos –ele está no nono ano de uma escola especial— e os passatempos típicos da idade. “Jogo videogame e vou na balada.” Questionado sobre o tipo de música que gosta, ele responde rapidinho: “Rap e funk”.
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