Comer meleca, areia e até cocô: qual mania das crianças faz realmente mal?
Quanto menor a criança, maiores as chances de ela chocar os pais com suas explorações do mundo e do próprio corpo. Mexer no nariz em busca da meleca perfeita para comer ou meter a mão no cocô na hora da troca da fralda, levando em seguida o dedinho lambuzado à boca, são atitudes infantis capazes de deixar os adultos de cabelo em pé. Como agir? É preciso não só orientar se certos hábitos são ou não aceitos, mas também se prevenir contra possíveis doenças. Veja o que fazer diante de manias de embrulhar o estômago:
Comer meleca do nariz
Admita: você provavelmente também experimentou caquinha verde na sua infância. Para quem não se lembra, a meleca tem um gosto salgadinho parecido ao do soro fisiológico - e é por isso que as crianças gostam tanto. Ela é composta por células da parte nasal, sal proveniente do suor e fuligem do ar. Comê-la não oferece risco algum, pois ela será digerida e eliminada pelas fezes. Há estudos, inclusive, que indicam que ao tirar e comer a meleca a criança produz anticorpos que atuam como um fator de proteção. No entanto, o ato de cutucar as narinas pode machucar o septo e lesar os vasinhos, provocando infecções locais - principalmente se o dedo estiver sujo. E, convenhamos, a mucofilia (nome científico da mania) não é nada agradável de se ver e deve ser corrigida pelos pais, sempre com conversa e orientação.
Cutucar feridas
Aplacar a ansiedade, incômodo por sentir algo diferente no próprio corpo, coceira ou simples curiosidade são alguns dos fatores que costumam levar qualquer criança a mexer em machucados. O problema é que, ao arrancar as casquinhas, é retirada a barreira de proteção da pele, o que provoca uma interrupção no processo de cicatrização. Como a unha contém bactérias, a pele exposta fica mais propensa a infecções e a cicatrização pode acontecer de maneira inadequada e profunda. O que os pais devem fazer? Deixar as unhas do filho bem curtas, lavar a mão da criança sempre que necessário, aplicar cremes ou pomadas que agilizem a cicatrização e diminuam a coceira e cobrir o local com band-aids ou curativos lúdicos e divertidos.
Comer insetos ou cocô
A partir dos quatro meses de idade, os bebês reconhecem as coisas levando-as à boca. Por mais que os pais vigiem, algumas escapadas vão fugir ao seu controle. Embora a ingestão de insetos seja considerada um hábito cultural, dependendo do local, nos países onde isso acontece os bichinhos foram criados e preparados de forma segura para essa finalidade. Não são raros os casos de bebês levando à boca formigas, besouros e até baratas. Os insetos, em si, não oferecem risco, mas como possivelmente passearam por lugares contaminados, podem trazer incontáveis vermes e bactérias em suas patinhas. No caso do cocô, a criança pode comê-lo em determinadas circunstâncias: durante a troca, ao passar a mãozinha na sujeira e levá-la à boca, ao cutucar a fralda ou até no processo de desfralde, quando é comum haver escape das fezes. Tanto no caso dos insetos quanto no do cocô, é preciso esterilizar as mãos da criança com água e sabão, observá-la atentamente por alguns dias e levar ao médico se apresentar febre, diarreia ou vômito. E, obviamente, ensinar que não se deve levar "caca" à boca
Mexer na água da privada
Imagine, na percepção infantil, o quão encantador é a visão de um vaso sanitário cheinho de água para se divertir! Essa curiosidade é mais do que normal, é saudável. Entretanto, por mais limpa que seja, é claro que qualquer privada contém bactérias, fungos, vírus e vermes. Há perigo de a criança contrair viroses ou infecções gastrointestinais com quadros de vômito e diarreia. Diante da travessura, lave bem as mãos e o rosto do seu filho com sabonete e água corrente. E já que só tampar a privada nem sempre funciona, procure por travas e outros mecanismos de segurança para que o pequeno não mexa. É bom também passar a fechar a porta do banheiro para a criança não ter acesso.
Colocar terra ou areia na boca
Quando brinca no parquinho a criança já está suscetível a adquirir o bicho geográfico, cujas larvas penetram na pele, causando lesões. Ao comer areia ou terra, o perigo aumenta: como cães e gatos podem ter andado e feito suas necessidades no local, há o risco de contrair vermes e bactérias. Em vez de impedir que seu filho entre em contato com a sujeira, restrição que pode ser muito mais prejudicial do que uma virose, é bom ficar de olho em possíveis sintomas: os mais comuns são os já citados febre, diarreia e vômito. Vale lembrar que, segundo especialistas, a higienização excessiva é negativa e limitante à infância.
Roer unha
Mais do que provocar nojo, a onicofagia, mania de roer as unhas e engolir, é perigosa. As lesões causadas pelo hábito podem causar infecções de pele e da unha (causando até mesmo perda da mesma). Em alguns casos, os pedaços de unhas engolidos podem causar pequenas lesões no estômago e intestino. Outra ameaça: a sujeira acumulada sob as unhas contém germes e bactérias que contaminam o organismo e provocam doenças. Os pais precisam explicar que o hábito não é saudável e, em casos mais extremos, contar com o auxílio de produtos como esmaltes com gosto ruim, que vão impedir a criança de levar a mão à boca. Como a ansiedade e o estresse podem estar por trás desse comportamento, é aconselhável ouvir a opinião do pediatra.
FONTES: Cylmara Gargalak Aziz, pediatra especialista em gastropediatria e membro do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP); Daniela Miranda, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo (SP), e Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra, neonatologista e homeopata infantil, de São Paulo (SP)
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